Como a Crunchyroll investe para transformar o Brasil em um dos maiores mercados de anime no mundo
País fica atrás apenas de Estados Unidos e Índia entre os consumidores da plataforma
Com um público apaixonado e cada vez maior ao redor do mundo, o anime, nome dado a animações criadas e produzidas no leste asiático, deixou de ser um produto nichado para se tornar um dos grandes pilares da cultura pop na atualidade. Durante a CCXP, maior evento do segmento na América Latina, foi notável a presença de fãs de animes — que, no Brasil, já tinham público cativo desde que séries como Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco estrearam na TV aberta nos anos 1980.
Assim sendo, não é de se espantar que o país seja o terceiro maior público geral — e segundo maior público assinante — da Crunchyroll, plataforma de streaming dedicada exclusivamente aos animes. Segundo Rahul Purini, presidente da empresa, o streaming facilitou a conexão de fãs dos diferentes gêneros da mídia, que agora não precisam mais esperar meses ou até anos por uma versão legendada ou dublada de suas produções favoritas.
"Os fãs, por muito tempo, tiveram que esperar os VHS ou DVDs saírem do Japão para traduzi-los e torná-los disponíveis. Então, esse processo demorava de 15 a 18 meses. Com a chegada do streaming, isso ficou mais fácil", disse Purini em entrevista ao Estadão. "Os fãs queriam assistir o anime junto do Japão, não esperar um ano e meio para assistir."
"Agora nós podemos disponibilizar o anime legendado 30 minutos ou uma hora após a transmissão japonesa", seguiu o executivo. "Também fazemos a mesma coisa com a dublagem, em que o episódio dublado fica disponível de dois a quatro dias depois [da transmissão original]."
"Há um grande apetite por conteúdos dublados no Brasil", disse Ghita Rebbapragada, diretora de operações da Crunchyroll. "Nós continuamos tentando expandir e explorar como fazer mais, melhor e mais rápido [os conteúdos localizados]."
Atrás apenas dos Estados Unidos e da Índia em número de consumidores, a Crunchyroll tem investido ações próprias para o País, incluindo o lançamento de um canal pelo Prime Video e a flexibilização dos métodos de pagamento. "Queremos tornar [a Crunchyroll] mais acessível para a forma como os brasileiros consomem entretenimento (...). Nós queremos ter certeza que, como nosso segundo maior território, nós disponibilizemos os conteúdos que sabemos que os fãs querem, como animes de esporte e de ação. Mas também temos um grande número de fãs mulheres no Brasil, e queremos garantir que elas também tenham programas que conversem com elas", afirmou Rebbapragada.
A plataforma ainda busca ser amigável para o público que não é familiarizado com as animações asiáticas. "Nós também tentamos ensiná-los a gostar de anime", disse Purini, citando os vários títulos gratuitos da plataforma. "Nós tentamos servir aos fãs com introduções, indicando que animes assistir para que eles entendam o que é um anime, que histórias são contadas para eles, lentamente, descobrirem mais sozinhos. Então, para aqueles que ainda não estão certos de que eles querem assistir a animes, eles podem experimentar séries em um serviço gratuito com anúncios."
"Nós também tentamos nos conectar ao público em eventos como [a CCXP] ou a Anime Friends. Nós criamos experiências para eles, nos conectamos com eles, tentamos entender o que os fãs querem", concluiu.
Ao comentar a inserção dos animes na cultura pop latino-americana, Rebbapragada afirma acreditar que a proximidade de alguns valores japoneses e latinos justificam o sucesso da mídia no território. "Há um elemento, em que muitos animes se baseiam, que é o respeito aos mais velhos e à família, e são esses pilares muito profundos da cultura japonesa, que também, de certa forma, estão muito relacionados com outras culturas do mundo."
"Nós vemos isso no Brasil, esse elemento de serviço, de respeito, amor pela família. São valores culturais profundos que acho que se relacionam [aos animes]. Mesmo que seja em uma língua diferente, uma arte diferente, há alguns valores culturais que são muito familiares", afirmou.
A história da Crunchyroll
Lançada em 2006 como um site de pirataria de animes, a Crunchyroll começou a investir na distribuição legal de animes em 2009, após acordos com emissoras e estúdios de anime para transmitir sucessos como Naruto Shippuden. Nos anos seguintes, a plataforma passou também a licenciar mangás e DVDs para os Estados Unidos.
O grande boom da Crunchyroll veio na década seguinte, ao anunciar uma parceria com a Funimation, outra empresa de distribuição de animes. As duas plataformas passaram a ter títulos em comum no catálogo, com a Crunchyroll investindo na dublagem de animes.
Atualmente com mais de mil títulos em seu catálogo, a Crunchyroll foi adquirida pela Sony, então dona da Funimation, que fundiu as duas plataformas em uma em 2022. Com a fusão, a plataforma passou a ser o maior streaming do segmento, alcançando 249 países em todos os continentes
Catálogo de sucessos
O Catálogo da Crunchyroll inclui alguns dos animes de maior sucesso no mundo, assim como produções de nicho. Essa mistura de títulos e gêneros levou a plataforma a alcançar 120 milhões de usuários e 15 milhões de assinantes ao redor do mundo. De blockbusters de ação como One Piece a títulos românticos como 365 Days To The Wedding, o streaming se notabilizou por atender as diversas demandas do público otaku (nome dado aos fãs de anime), um dos mais fiéis e apaixonados do mundo.
Entre os principais destaques do catálogo disponível no Brasil está Frieren e a Jornada para o Além, produção que acompanha uma elfa que, depois de presenciar a morte de um amigo, decide sair em uma jornada para conhecer e se conectar às pessoas ao longo de sua longa vida de mil anos.
Outro anime muito popular na plataforma é Haikyu!!, que acompanha um time de jovens jogadores de vôlei enfrentando partidas e desafios difíceis em busca da grandeza. Assim como Super Campeões décadas atrás, a paixão do brasileiro pelo esporte fez da animação um sucesso no Brasil.
Sucessos recentes também estão disponíveis no streaming, como My Hero Academia, que segue um grupo de adolescentes superpoderosos estudando para se tornarem heróis, e a comédia Dandadan, que coloca dois adolescentes para enfrentar demônios e alienígenas perigosos.
Dragon Ball Daima, novo anime da franquia de Akira Toriyama, também já está disponível na Crunchyroll, que disponibiliza episódios legendados da produção com uma semana de antecedência a outros streamings como a Max e a Netflix.
Com alguns conteúdos disponíveis gratuitamente, a Crunchyroll disponibiliza seu catálogo completo para assinantes, que podem escolher entre planos de R$14,99 (mensal) a R$199,99 (anual). Além dos animes, assinatura também inclui clipes musicais de artistas asiáticos, como Beat Crusaders, Spyair e Shota Shimizu.
