Crítica: 'Cangaço Novo' remete ao melhor da dramaturgia brasileira
Série sobre as quadrilhas do interior do Brasil tem resultado impressionante no Amazon Prime.
O ser humano nasce bom, mas a falta de oportunidades o corrompe. Na série 'Cangaço Novo', disponível no Prime Video, três irmãos nascem num núcleo familiar amoroso, porém desprovido de dinheiro e estrutura. Eles sofrem uma série de violências que insistem em atormentá-los na fase adulta.
Um gosto pelos clássicos
A escolha do sertão enquanto palco das contradições brasileiras bebe na fonte de clássicos como 'Deus e o Diabo na Terra do Sol' e 'O Cangaceiro'. Ela também se comunica com ótimos filmes brasileiros recentes: 'Sertânia', 'Currais', 'A Luneta do Tempo'.
Portanto, o excelente resultado constitui e não constitui uma exceção. Ele reúne talentos que já comprovavam o domínio de suas funções há anos – Muritiba na direção, Azul Serra na fotografia, Thales Junqueira na direção de arte etc.
No entanto, é visível o impacto de uma grande produção. As perseguições, tiroteios, incêndios e assaltos refletem o orçamento confortável. Festeja-se um lançamento do nível de 'Cangaço Novo', ainda que constitua, a priori, propriedade intelectual estrangeira. São os norte-americanos que aprovam o conteúdo e determinam sua eventual renovação.
Imagine a capacidade do nosso audiovisual caso uma estrutura semelhante estivesse à disposição dos talentos confirmados e crescentes. Faríamos muito mais 'Cangaços Novos', 'Tropas de Elite', 'Cidade de Deus', 'Central do Brasil'.
A produção nacional nunca careceu de habilidade e nem de iniciativa, apenas de recursos e possibilidade de chegar ao público. Há centenas de Alys, Fábios, Alices, Allans, Marcélias, Hermilas, Ênios, Rodrigos e Thainás esperando pela oportunidade de mostrar conteúdos de mesma qualidade. Sorte a nossa.