Crítica Planners | Série argentina acerta na premissa e erra na execução
A série argentina Planners chegou ao Star no dia 5 de maio e chamou a atenção com uma sinopse interessante, mas infelizmente perdeu o fio da meada
Um dos principais lançamentos do Star+ em maio, a série argentina Planners chegou ao streaming prometendo ser uma comédia dramática leve e bem humorada, e de fato chamou a atenção nos primeiros capítulos. Estrelada pela veterana de novelas Celeste Cid e dirigida pelo estreante Daniel Barone, a produção conquistou pela premissa, mas logo se perdeu no roteiro e deixou um pouco a desejar.
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Os primeiros capítulos começam mostrando Malena Carregal, uma mulher jovem, bonita e determinada que está enfrentando um divórcio. Além de se separar do marido, o petulante Marcos (Gonzalo Valenzuela), ela ainda perde o emprego, uma vez que trabalhava na empresa de eventos dele. Assim, desolada e sem muitas perspectivas, ela se vê perdida e sem saber que rumo tomar.
Tudo muda, no entanto, quando a espevitada Cali (Leticia Siciliani) — sua antiga amiga — chega à cidade e juntas elas começam a fazer eventos com a Carregal, uma empresa que vai crescendo pouco a pouco, à medida que mais trabalhos vão surgindo.
É a partir desse ponto que a trama de Planners começa a se desenrolar e de fato se mostra como um drama divertido, mesclando momentos de humor com doses de melancolia. Celeste é a responsável por carregar grande parte do enredo nas costas e não desagrada em frente às câmeras.
Quem estava acostumado a vê-la em cena (geralmente as pessoas que moram na Argentina, já que seus trabalhos não são tão populares no Brasil) não irá se decepcionar. A atriz, tão acostumada a folhetins maiores, soube se encaixar muito bem no ritmo da série.
Outra grata surpresa é Letícia Siciliani, que também vem das novelas e se adaptou bem à produção. Sua personagem é divertida e animada, mas carrega uma dose dramática por estar em um relacionamento abusivo.
Personagens mal desenvolvidos atrapalham o enredo da série
O grande problema de Planners começa justamente quando novos personagens são adicionados à trama. Além das duas amigas, somos apresentados à Ray (Marcos Montes), Franco (Alan Daicz), Javier (Matías Recalt), entre outros. Personagens interessantes que, por serem tão mal apresentados, acabam se tornando irrelevantes na história.
Javier, o filho de Malena, é um jovem simpático que está em crise com sua juventude. Sem conseguir conversar direito com a mãe e sem a escuta atenta do pai, ele se sente perdido sem saber quais rumos tomar. Em determinado momento, ele até se envolve amorosamente com uma funcionária de Malena, mas este arco também é deixado de lado rapidamente.
Sem um enredo melhor trabalhado, sua história fica solta na trama e quase se torna boba — o típico dramalhão adolescente. Mas não é só ele que sofre com o roteiro. Os próprios sócios e amigos de Malena e Cali, apesar de serem elementos importantes, aparecem apenas como ponto de apoio.
E se engana quem pensa que só os coadjuvantes sofrem. A história da própria Cali deixa muito a desejar. Sabemos que ela sofre um relacionamento abusivo, mas não conhecemos a fundo esse namorado e nem sabemos porque e como essa relação se deu. Outro que aparece em cena, mas sem muita profundidade, é Marcos (o ex-marido de Malena). Quem é ele? Como era a relação dos dois? Por que terminou? Essas são algumas das várias questões que ficam soltas.
Apesar de todos esses problemas, é preciso reconhecer que os personagens são, em sua maioria, cativantes e carismáticos. O elenco se encaixou perfeitamente na trama, fazendo com que a série fosse gostosa de assistir. Os episódios não são muito longos e passam rápido. Até a metade a obra parece muito promissora, e é só no final que percebemos que as pontas ficarão realmente soltas.
Uma possível segunda temporada terá a oportunidade de resolver esses problemas, mas precisará de um texto bem afiado para não perder a atenção do público.
Figurinos ajudam a contar a história
Em relação à fotografia e ao figurino, Planners acerta em cheio. Abusando das belezas naturais de Buenos Aires, a série tem cenários de encher os olhos. O destaque fica para o episódio em que Malena e Marcos se aventuram por uma estrada em busca de Javier e exploram a paisagem local.
Ainda que belos, vale comentar que tais cenários se afastam bastante da realidade da maioria dos moradores da capital da Argentina, que vivem em casas e ruas muito mais modestas do que as apresentadas na produção.
O figurino, por sua vez, ajuda a contar a história. Em coletiva de imprensa, Celeste Cid contou ao Canaltech que sua personagem abusaria de tons e objetos mais sóbrios, deixando os excessos de lado. De fato, as roupas de Malena são, em sua maioria, brancas, pretas e beges, mas por vezes ela ousa na cor lima e isso reforça ainda mais sua personalidade enérgica.
Já Cali tem um guarda-roupas recheado de tons vibrantes como roxo, rosa, verde e vermelho, e as peças são fundamentais para reforçar a personalidade divertida e alto astral da personagem.
O feminismo também tem seu lugar
Na coletiva de imprensa, Celeste também falou que Planners não seria uma série que, necessariamente, levantaria a bandeira do feminismo, mas que o enredo acabaria tocando nessa questão. De fato, ela acertou.
Escrita por três mulheres (Mariana Wainstein, Maria Zanetti e Luz Marquez) ao lado de Pablo Rossi, a obra não faz um ode ao poder feminismo, mas reforça o tempo todo que as mulheres podem (e devem) fazer tudo o que querem. Cansada de ficar à sombra do marido, Malena reuniu suas forças e junto de outra mulher, conseguiu colocar sua vida de volta aos trilhos.
Divertida, mas rasa
Por fim, o que se pode concluir de Planners é que a série é realmente divertida, leve e descontraída. Criada por Barbara Diez, uma famosa organizadora de eventos da Argentina, a produção acerta na temática, mas ao não se aprofundar no enredo se torna rasa, tal qual um anúncio publicitário.
Uma próxima temporada ainda pode salvar a obra, que acertou em cheio ao trazer Celeste Cid como protagonista. Quem quiser dar uma chance a Planners, já pode assistir a produção no Star+.
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