Harry diz que William gritou com ele quando decidiu se afastar da família real
Meghan revela ter sofrido um aborto espontâneo: declarações são algumas das novidades dos últimos episódios da série 'Harry e Meghan'.
AP - O príncipe Harry e sua esposa, Meghan, expressaram suas queixas contra a monarquia britânica na na segunda metade de sua série de documentários da Netflix, que libera os últimos capítulos nesta quinta (15). Em determinado momento, Harry diz que seu irmão William chegou gritar com ele em uma reunião em janeiro de 2020, quando a família real discutiu os planos do casal de renunciar aos deveres da realeza. A rainha Elizabeth II estava presente no encontro, ocorrido em Sandringham.
Harry recorda-se ainda que Meghan "deliberadamente não foi convidada para a reunião" e que, entre várias opções, o casal preferiu a de se desvincular da realeza, mas continuando com o trabalho da Rainha na Commonwealth, enquanto morava no Canadá.
"Foi muito assustador ver meu irmão gritando comigo e meu pai dizendo coisas que eram simplesmente falsas, e minha avó sentada em silêncio e meio que absorvendo tudo", disse Harry, que descreve a máquina de imprensa real – incluindo vazamento e plantando histórias em jornais – como um "jogo sujo".
Harry, de 38 anos, também disse que houve um "racha" criado entre ele e seu irmão mais velho e herdeiro do trono, o príncipe William, na época em que Harry e Meghan decidiram se afastar dos deveres reais e se mudar do Reino Unido para iniciar um vida nova.
Ele citou o exemplo de uma declaração conjunta de oficiais do palácio emitida em nome dele e de William para "abafar" uma história sobre William intimidando o casal para fora da família. Ele disse que foi emitido sem o seu consentimento.
"Eu não podia acreditar. Ninguém me pediu permissão para colocar meu nome em uma declaração como essa", disse Harry à série da Netflix. "Eles ficaram felizes em mentir para proteger meu irmão e, mesmo assim, por três anos, nunca estiveram dispostos a dizer a verdade para nos proteger."
Em outro momento da série, Meghan e Harry reiteraram suas reclamações de que as autoridades reais britânicas não os ajudaram ao rejeitar relatórios imprecisos e negativos sobre eles.
"O que me veio à cabeça foi: 'Isso nunca vai parar'", disse Meghan. "Cada boato, cada coisa negativa, cada mentira e tudo que eu sabia que não era verdade, e que o palácio sabia que não era verdade e internamente eles sabiam que não era verdade, estava sendo permitido apodrecer."
Harry acrescentou: "Não havia outra opção neste momento. Eu disse que precisamos sair daqui".
A advogada de Meghan, Jenny Afia, afirma na série que viu evidências de "briefing negativo do palácio" contra o casal "para atender às agendas de outras pessoas". Ela não detalhou quais evidências viu. Funcionários do palácio não comentaram a série.
Em outro momento impactante do documentário, a duquesa de Sussex afirma ter sofrido um aborto espontâneo enquanto morava nos Estados Unidos após o nascimento do primeiro filho do casal. O motivo, segundo Harry, seria o estado nervoso a que Meghan foi obrigada a se submeter por conta de um litígio contra a Associated Newspapers, editora do Mail On Sunday e do Mail Online.
Racismo
Os três primeiros episódios de 'Harry & Meghan', lançados na semana passada, focaram na cobertura do casal pela mídia britânica e na forma como foi influenciada pelo racismo.
Os novos três episódios focam em um momento crucial para a monarquia, quando o Rei Charles III tenta mostrar que a instituição continua viva e vibrante após a morte da rainha Elizabeth II, cuja popularidade pessoal amorteceu as críticas à coroa durante seu reinado de 70 anos.
Charles está argumentando que a Casa de Windsor pode ajudar a unir uma nação cada vez mais diversa, reunindo-se pessoalmente com representantes dos grupos étnicos e credos que compõem a Grã-Bretanha moderna – tentando mostrar que, quaisquer que sejam as acusações contra ele, a realidade é diferente.
O casamento de Harry em 2018 com Meghan Markle, uma atriz americana birracial, já foi visto como um golpe de relações públicas para a família real, impulsionando o esforço da monarquia de entrar no século 21, tornando-a mais representativa de uma nação multicultural.
Mas o conto de fadas, pontuado por um passeio de carruagem e um luxuoso casamento no Castelo de Windsor, logo se desfez em meio à atenção implacável da mídia, incluindo alegações de que Meghan era egocêntrica e intimidava sua equipe. "Eu não estava sendo jogada aos lobos, eu estava sendo alimentada com os lobos", disse Meghan.
A série é o mais recente esforço de Harry e Meghan para contar sua própria história depois que o casal se afastou da vida real no início de 2020 e se mudou para o rico enclave de Montecito, no sul da Califórnia. Sua vida em uma propriedade com vista para o Oceano Pacífico foi parcialmente financiada por contratos lucrativos com Netflix e Spotify.
A questão de raça se tornou central para a monarquia após a entrevista de Harry e Meghan com Oprah Winfrey em março de 2021. Meghan alegou que antes de seu primeiro filho nascer, um membro da família real comentou como a pele do bebê poderia ser escura. O príncipe William defendeu a família real após a entrevista, dizendo aos repórteres: "Não somos uma família racista".
O Palácio de Buckingham enfrentou novas acusações de racismo no início deste mês, quando uma jovem advogada negra, defensora de sobreviventes de abuso doméstico, disse que um membro sênior da casa real a interrogou sobre suas origens durante uma recepção no palácio. A cobertura da questão encheu a mídia britânica, ofuscando a tão esperada visita de William e sua esposa Kate a Boston, que o palácio esperava que destacasse suas credenciais ambientais.
A série da Netflix é problemática para o palácio porque Harry e Meghan estão apelando para o mesmo grupo demográfico mais jovem e culturalmente diversificado que William e Kate estão tentando conquistar, disse Pauline Maclaran, autora de 'Royal Fever: The British Monarchy in Consumer Culture'.
"Acho que deve ser preocupante para a família real em termos de futuro, porque eles realmente precisam ter essa geração jovem ao seu lado, até certo ponto, se quiserem sobreviver", disse. "Eles terão que fazer um esforço muito grande para parecerem mais diversos, e acho que vemos isso acontecendo um pouco, mas não o suficiente."