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'Succession': Brian Cox fala sobre a 4ª e última temporada

Os últimos episódios chegaram à HBO no domingo (26).

26 mar 2023 - 15h22
(atualizado em 27/3/2023 às 11h35)
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Foto: HBO/Divulgação

Todo o mundo ama odiar Logan (Brian Cox), o patriarca da família Roy e dono da Waystar Royco, o conglomerado de mídia à procura de um herdeiro em 'Succession', vencedora de 13 Emmys. A série criada por Jesse Armstrong chegou à sua quarta – e última – temporada no último domingo (26), às 22h, na HBO e HBO Max, com dez episódios semanais.

Se até a semana passada a série da vez do canal e serviço de streaming, 'The Last of Us', focava em um homem rabugento (Pedro Pascal) que vira uma figura paterna para a adolescente Ellie (Bella Ramsey), transformando seu ator em "papai" da internet, em 'Succession' Logan Roy é um pai que provoca medo, respeito, ódio em seus filhos Connor (Alan Ruck), Kendall (Jeremy Strong), Shiv (Sarah Snook) e Roman (Kieran Culkin), com os três últimos lutando desde a primeira temporada para conquistar o posto de sucessor na empresa.

Mas Logan não quer largar a posição na mão de qualquer um, mesmo que um de seus filhos. Durante as três temporadas anteriores, foram muitas as reviravoltas, decepções e traições, culminando com o – atenção para o SPOILER – complô de Logan, sua ex-mulher Caroline (Harriet Walter), que vem a ser a mãe de Kendall, Shiv e Roman, e Tom Wangbsgans (Matthew Macfadyen), o marido de Shiv.

Apesar de sua rabugice, seu mau humor e da sua evidente falta de habilidade em expressar seus sentimentos, evidenciados no bordão "Fuck off!", Brian Cox defende seu personagem na entrevista a seguir, com a participação do Estadão:

Acha que o sucesso da série tem a ver com o zeitgeist?

"Com certeza. É um reflexo total do tempo que vivemos. A avareza do nosso tempo. É um certo estrato da sociedade que tem conquistado cada vez mais poder, por causa de sua riqueza. E é disso que trata a série, que fala sobre os perigos de achar que tem algo por direito."

Você disse que Logan está desapontado com o experimento humano. Mas seus filhos são decepções criadas por ele, não acha?

"Não. Eu não acredito nisso. É um mito comum. Depois de certa idade, isso não faz mais sentido. Claro, você pode culpar seus pais por muitas coisas. Mas, se você continuar culpando seus pais e dizendo: 'Ah, é por causa do meu pai, é por causa de...' você não está realmente assumindo a responsabilidade por sua própria vida. É isso que há de errado com essas crianças. Eles têm que assumir a responsabilidade por quem são. E eles não fazem isso."

Interpretar Logan Roy mudou ao longo dos anos, agora que 'Succession' se tornou um sucesso tão grande?

"Não. O Logan é o Logan. Há uma espécie de constância nele. Isso não é necessariamente bom, mas há uma consistência em quem ele é e no que ele acredita ser seu próprio valor. O que acontece dentro dele é diferente, como ele é afetado é diferente. Mas ele lida com tudo de uma maneira a sair por cima. Não permite que nada perturbe seu centro. Há momentos em que ele parece muito abalado com suas experiências passadas, como o momento em Dundee, quando ele passa pelo coreto e reflete de forma inarticulada sobre sua própria família e sua atitude em relação à sua cidade natal, o que foi irônico para mim, porque claro, é minha cidade natal também. Mas a visão que Logan tem de sua cidade natal e a minha visão de minha cidade natal são ligeiramente diferentes."

Qual é a principal fonte da amargura ou mau humor de Logan?

"Ele sempre foi mal-humorado. Saiu do ventre da mãe rabugento. Eu penso em Logan como um romântico desiludido. E um romântico desiludido torna-se um cínico. Ele não permite que isso interfira em sua trajetória em termos de negócios e de perspicácia empresarial, mas ao mesmo tempo não tem muito respeito pelo ser humano. Na verdade, tem muito pouco respeito porque vê o dano que os seres humanos causam. Aí eu discordo dele, porque para mim há outros caminhos. É por isso que sou ator. Meu trabalho é descobrir o lugar onde as pessoas estão e por que existem, como são e como pensam, quais são seus sistemas de crença e como esses sistemas de crença os estragam. Ou esclarecê-los de alguma forma. Eu acho que a maioria estraga tudo. Mas isso é só porque eu sou muito velho. Logan nunca foi uma pessoa feliz. Ele não conhece a felicidade. Isso é triste. Sua vida tem sido uma luta e um sucesso. Mas sempre tem um custo. Você não cria um sucesso como esse sem o custo. E o custo é o que vemos nas quatro temporadas de 'Succession', é como isso afetou seus filhos. E não é necessariamente sobre ele como pai, mas também sobre os filhos em termos de quem eles são e quais decisões não foram capazes de tomar ou se recusaram a tomar."

Logan gosta quando seus filhos são implacáveis como ele ou mesmo quando vão contra ele?

Ele admira o impulso deles quando eles têm impulso. Como naquele momento em que ele sorri quando Kendall o trai. Em parte, ele pensa: 'Nunca pensei que você tivesse essa capacidade'. E: 'meu garoto está se comportando como eu esperava que ele se comportasse'. Mas também está dizendo, 'que idiota. Vamos lá, se vira'. Não é uma coisa ou outra. São ambas.

Como você resumiria esses últimos cinco anos interpretando Logan Roy?

"Foi uma das melhores experiências que tive na minha carreira. Claramente é um dos grandes papéis em termos de efeito sobre o público. O público está absolutamente hipnotizado por Logan, eles não sabem se o odeiam ou o amam. A maioria das pessoas dirá: 'Oh, ele é um homem horrível'. Mas não conseguem resistir a ele. Pessoalmente, não acho que ele seja um homem horrível. É muito incompreendido. Para proteger o que tem, precisa fazer coisas horríveis. E tudo o que ele quer é tentar encontrar um sucessor para seu negócio dentro de sua própria família, só que todos os três são insuficientes."

Logan ama seus filhos?

"A primeira pergunta que fiz a Jesse Armstrong foi: 'Ele ama seus filhos?' Porque eu duvidava. E ele disse que sim, que Logan ama muito seus filhos. E isso cria o caos, coisas mais terríveis estão para acontecer porque ele ama seus filhos. E quer que seus filhos sejam capazes de se levantar com os próprios pés e fazer o que ele acha necessário para levar a Waystar Royco para a próxima geração. E eles não fazem isso. Isso é muito difícil para ele, porque ele os ama. No início da quarta temporada, Logan está dando uma festa de aniversário, e as crianças não estão lá. Essa é uma fonte de tristeza para ele. Ele não fica remoendo, porque Logan não faz isso. Mas, mesmo seguindo em frente, há um custo. Interno, no caso de Logan. Não há auto piedade nem nada disso, porque ele não é assim. Graças a Deus, porque isso seria chato de interpretar."

Há algo de Logan Roy em você?

"Compartilhamos a decepção com a posição em que nós, seres humanos, estamos. Vivemos um dos momentos mais sombrios da história. Elegemos seres humanos horríveis para nos comandar, como Donald Trump. Se você viveu tantos anos de Trump, percebe que o mundo enlouqueceu. Não há mais nenhum princípio moral em jogo. Não há mais responsabilidade sobre como nos comportamos. A série reflete muito isso. Tem tudo a ver com o fracasso dos sistemas de crença. Não há nada apoiando o ser humano, exceto sua própria humanidade. E é nisso que precisamos trabalhar. Veja o que está acontecendo com as mulheres no Irã e no Afeganistão. É inaceitável, mas não fazemos nada. Isso é mais importante para mim do que o que está acontecendo na Ucrânia. A verdade é que ouvimos os sinos da morte do patriarcado. Porque o patriarcado não funciona. Precisamos ter algo que tenha muito mais a ver com o matriarcado. Eu sou o produto do matriarcado. Então eu sei o que ele me deu. Acabei de perder minha irmã. E essa relação me deu uma quantidade enorme de constância. O patriarcado remove isso, e temos que nos livrar dele."

Estadão
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