'Sr. Ávila', nova série da HBO, traz assassino de aluguel em crise

Tony Dalton chega à sala onde a entrada do almoço começa a ser servida. Em um instante, mesmo o tilintar dos talheres para e o silêncio se instala. Vestido de forma clássica, com terno e gravata pretos sobre uma camisa branca, os cabelos com gel penteados para a direita, ele está idêntico a Ávila, o assassino de aluguel que interpreta na série mexicana Sr. Ávila, que estreia neste domingo (26), na HBO, às 21h, com um episodio especial de duas horas. Tendo acabado de assistir aos dois primeiros episódios da trama, os jornalistas expressam no rosto o impacto da presença do protagonista: se não medo, respeito.

"Espero que as pessoas fiquem com medo. Significa que fiz bem meu trabalho", comenta, entre risos, Dalton durante a entrevista. Ele, no entanto, está acostumado a ser hostilizado: participou de Rebelde como o inspetor Gastão Diestro, e sofreu com as reações do público. "Crianças jogavam coisas em mim  no supermercado", lembra, brincando. Sr. Ávila também desperta sentimentos adversos, mas pela natureza de sua vida dupla: "oficialmente" um corretor de seguros, casado com Maria (Nailea Norvind) e pai de Emiliano (Adrian Alonso), ele trabalha também como um assassino de aluguel frio e calculista, em uma organização de matadores controlada por Mr. Moreira (Fernando Becerril). E está prestes a subir na hierarquia.

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No episódio especial de estreia, com duas horas, Ávila enfrenta o dilema de ter que matar seu mentor e professor dentro da organização, além de melhor amigo, que começa a cometer erros devido a um problema de visão. O conflito moral entre cumprir seu dever e obedecer seus sentimentos é algo que perpassa toda primeira temporada. "Ele está contantemente brigando para ver qual lado vai ganhar, o assassino ou o homem de familia", reflete Dalton. "O arco do personagem é maravilhoso. O Ávila do primeiro episodio é completamente diferente do do último, até mesmo o jeito como se veste, anda e fala. Ele fica ciente do ambiente que o cerca e vê todas as oportunidades que a vida lhe apresenta."

Mas se no começo da temporada Ávila ainda é apenas um (hesitante) dos matadores da organização liderada por Moreira, ele vê a possibilidade de crescimento com a doença do chefe. "Ele está preso nessa realidade de vidinha classe média, um corretor de seguros com mulher e filho para sustentar", comenta o protagonista. "Conforme a temporada avança, a vida lhe mostra alternativas e ele vai se sentindo mais confortável, mais vivo", adianta, explicando que Ávila vai deixando sua rotina para trás. "Claro que aí vêm as consequências. Mas ele fica mais feliz", garante.

Para Dalton, no entanto, por mais que o personagem avance cada vez mais para o universo do crime, a família é um ponto crucial da trama. "São os poucos momentos em que você pode ver o lado humano dele", analisa. A rotina de Ávila dentro de casa é a normal de qualquer pai de família de meia idade: uma mulher levemente infeliz no casamento e um filho passando pelos problemas da adolescência e da aceitação no colégio. "É com eles que ele mostra seus sentimentos. Ele ama a mulher (mas possui um tórrido affair com uma colega de trabalho) e se preocupa muito com o filho. É o ponto vulnerável dele, o calcanhar de Aquiles."

A relação com o filho é um dos pontos de conflito de Ávila. Com dificuldades de aceitação dentro do colégio, Emiliano acaba apelando para a violência em momentos extremos, causando inclusive sua expulsão de uma escola particular. Após o fato, ele vai para uma escola mais violenta, a única que o aceita como aluno. Lá, ele será colega de Ismael (Jorge Caballero), que acabou de ser aceito na organização de matadores de Ávila, com quem conviverá muito durante a temporada. "Ali fica clara a diferença entre o filho que você não quer ter, mas tem, e o filho que você gostaria de ter, mas não é seu", comenta. "Ismael é rápido e esperto, então Ávila o pega como pupilo, enquanto o filho ele trata como idiota. Mas isso muda com o andar da temporada, conforme as coisas ficam claras", adianta, sem dar detalhes da trama.

Há ainda um outro lado de Ávila presente: a religião. O assassino vai diversas vezes à igreja se confessar, com um padre boca suja que não tem sua identidade revelada durante toda a primeira temporada. Nem mesmo Dalton sabe explicar ao certo as origens do personagem. "É meio que um mistério, você não sabe de onde ele vem, porque fala daquela maneira. Perguntei a mesma coisa (aos produtores)", brinca. "A confissão é quando Ávila explica seus sentimentos, conta à audiência sobre o que ele está passando. É como em Sopranos, quando o Tony vai à psiquiatra e você conhece ele de verdade", comenta.

Sopranos é uma das séries que inspiraram Dalton em Sr. Ávila. "Pensei muito nela, por ser essa família de foras da lei que precisa viver em sociedade - assim como Ávila", comenta ele, que também destacou como programas que inspiraram a nova série Breaking Bad, Six Feet Under e Mad Men. Da última, ele destaca a semelhança pela narrativa em torno de um protagonista. "Vi um making of em que o Matthew Weiner (criador de Mad Men) dizia que toda cena que não tem o Don Draper é sobre ele também. A história é sobre ele. E é algo que existe em Sr Ávila, toda cena leva a esse personagem."