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Tipos de Gentileza: Diretor de Pobres Criaturas volta mais esquisito do que nunca após vitórias no Oscar

Yorgos Lanthimos retorna aos cinemas com filme que apresenta três histórias distintas conectadas por temas e símbolos; leia a crítica

22 ago 2024 - 05h00
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Resumo
Filme 'Tipos de Gentileza' do cineasta grego Yorgos Lanthimos é uma obra abstrata e hermética, dividida em três partes, abordando temas como dependência emocional, crueldade humana e violência banalizada.
Emma Stone e Joe Alwyn em 'Tipos de Gentileza'
Emma Stone e Joe Alwyn em 'Tipos de Gentileza'
Foto: Searchlight/Atsushi Nishijima

As vitórias no Oscar e o sucesso de público de "Pobres Criaturas" talvez viessem para sedimentar um caminho mais comercial para o cineasta grego Yorgos Lanthimos. Quem não é familiarizado com suas obras pode até estranhar ao ler isso, mas filmes como este e o seu anterior, o igualmente oscarizado "A Favorita", estão entre os mais palatáveis de sua filmografia. Falar de Yorgos Lanthimos é normalmente estar diante de filmes de difícil digestão, daqueles que ficam na cabeça de um espectador por semanas até que se tenha, enfim, um veredito sobre aquela obra.

Este é o caso de "Tipos de Gentileza". Apesar do óbvio verniz hollywoodiano, com um seleto grupo de protagonistas de altíssimo porte e uma direção de arte que esbanja em uma estética propositalmente plastificada, o diretor se recoloca no eixo de obras mais herméticas e distantes de qualquer pretensão de lógica óbvia. Para todos os efeitos, estamos falando de uma obra absolutamente esquisita e de roupagem abstrata, repleta de temas que podem, a princípio, parecer um emaranhado de símbolos sem qualquer conexão. 

O filme é dividido em uma estrutura em três partes; são três histórias diferentes, em que se repete o elenco (em outros personagens) e a figura que dá título a todos eles, que atende sob a sigla de R.M.F. Em cada uma das histórias, há alguns temas que se mantêm, apresentados sob pontos de vista diferentes. Dependência emocional, a crueldade e a frieza humana e o apetite insaciável pelo grotesco e mesquinho são assuntos que se repetem como que em um lembrete constante de que a maldade humana, sob o pretexto da polidez e da perfeição de caráter, se apresenta em todas as situações e não está distante de nenhum de nós.

Jesse Plemmons em 'Tipos de Gentileza'
Jesse Plemmons em 'Tipos de Gentileza'
Foto: Searchlight/Atsushi Nishijima

Na primeira história, em que se destacam sobretudo Jesse Plemmons, Willem Dafoe e Hong Chau, acompanhamos a história de um funcionário incapaz de se ver longe do rígido controle físico e emocional de seu chefe. Nada é realmente esclarecido para além do minimamente necessário, mas esta é possivelmente a história mais linear das três. A segunda acompanha um policial que reencontra a esposa desaparecida, apenas para começar a desconfiar que aquela mulher talvez não seja a que ele conhecia. Na terceira parte, conhecemos uma espécie de seita sexual em busca de uma figura messiânica, quando alguns acontecimentos da vida pessoal de um dos membros do grupo entram no caminho e colocam tudo a perder. 

O que todas essas histórias paralelas têm em comum tematicamente é um uso indiscriminado de violência gráfica que se apresenta de forma quase banal, montando um comentário político-social pertinente se visto sob a ótica da banalização de corpos e da vigilância sobre a sexualidade (sobretudo a feminina, como o filme deixa claro com seu olhar para corpos de mulheres). Se pensarmos na preocupação excessiva da contemporaneidade com a imagem e como cada um quer ser visto à imagem da perfeição pelos outros em redes sociais em que tudo precisa ser esteticamente impecável, o que o filme escancara é a sujeira, com sangue, cinismo e apelos grotescos que testam a cada segundo até onde a audiência vai.

Emma Stone em 'Tipos de Gentileza'
Emma Stone em 'Tipos de Gentileza'
Foto: Searchlight/Atsushi Nishijima

Reunindo-se novamente com o parceiro Efthymis Filippou, com quem trabalhou em "Dentes Caninos", "Alpes", "O Lagosta" e "O Sacrifício do Cervo Sagrado", Lanthimos ri na cara do sucesso absoluto de "Pobres Criaturas", entregando uma obra divisiva que joga com a paciência do público com a mesma força com que atrai todos de volta com a entrega indiscutível de seu elenco --o prêmio de melhor ator em Cannes para Plemmons é completamente justificado na primeira e na segunda histórias, em que ele está mais presente, mas fica o registro da atuação fora de órbita de Willem Dafoe e do constante magnetismo de Margaret Qualley. 

Quem se interessou mais pelas parcerias recentes de Lanthimos com Tony McNamara talvez tome um susto diante da estranheza de "Tipos de Gentileza". Quem tinha medo de não o ver novamente no formato de suas obras mais disruptivas talvez respire aliviado ou talvez tome um susto. Ou as duas coisas. 

"Tipos de Gentileza" está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil. 

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Fonte: Redação Entre Telas
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