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'Três Verões' escancara escravidão servil na era Lava Jato

Filme de Sandra Kogut usa operação anticorrupção como pano de fundo para crítica social

14 set 2020 - 09h00
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O filme Três Verões usa o melhor da comédia, a crítica, para falar da escravidão servil do século XXI durante os desdobramentos da Operação Lava Jato, iniciativa de combate à corrupção e à lavagem de dinheiro. Enquanto quem sempre se dava bem vai pelo ralo, quem convivia com os jeitinhos de enriquecimento ilícito sofre na pele com a traição imediata, o descaso e a falta de perspectiva. A estreia, inicialmente prevista para os cinemas, está marcada para 16 de setembro no Telecine.

Regina Casé no filme 'Três Verões'. 
Regina Casé no filme 'Três Verões'.
Foto: Reprodução / Estadão Conteúdo

No longa de Sandra Kogut, quem brilha é Regina Casé, a governanta Madalena – terceira empregada doméstica da atriz, que já foi a Val em Que Horas Ela Volta (2015) e é a Lourdes na novela Amor de Mãe (2019).  Ela é a caseira da mansão de praia de uma família high society e a grande protagonista – e vítima – da história. Madalena tem todo o carisma do extinto programa Esquenta! e rende ao público boas risadas, mas também lágrimas sofridas. 

Ao pedir uma ajuda aos patrões (Otávio Müller e Gisele Fróes) para realizar o sonho de abrir um pequeno negócio, ela acaba envolvida no esquema de corrupção como laranja da família tradicional. A caseira sequer percebe que pode se dar mal com o tal auxílio financeiro, já que se vê na posição de serviçal fiel, faça chuva ou faça sol.

Três Verões tem Regina Casé como protagonista
Três Verões tem Regina Casé como protagonista
Foto: Divulgação/Mostra Internacional de Cinema de São Paulo / Estadão Conteúdo

Com a prisão do patrão, Madalena toma frente do caos e vira "advogada" dos outros quatro empregados da residência litorânea (Jéssica Ellen, Wilma Melo, Saulo Arcoverde e Edmílson Barros). Tudo o que ela não quer é deixar o barco afundar, e faz o que pode para que seus amigos não passem necessidade com os pagamentos atrasados. Cabem a ela também os cuidados com Seu Lira (Rogério Fróes), pai do corrupto preso, que é esquecido na mansão enquanto seu apartamento está em obras fantasmas. Da relação, nasce uma grande amizade.

Regina Casé brilha como a doméstica Madá em 'Três Verões'. Filme está em cartaz na 43.ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Regina Casé brilha como a doméstica Madá em 'Três Verões'. Filme está em cartaz na 43.ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Foto: Vitrine Filmes/ Divulgação / Estadão Conteúdo

O longa em 1h35 consegue discutir temas relevantes com leveza, foca na complexidade da relação empregado-patrão e constrange com práticas racistas e classistas que perduram nas tradições de quem tem grana. O capitão do mato, neste caso, é tecnológico. Cabe às câmeras a fiscalização dos bons hábitos e da perfeita dedicação dos empregados, como uma espécie de Big Brother em que o telespectador é quem paga.

Por que assistir Três Verões?

O filme, ainda que seja classificado como um drama, é uma boa indicação para quem gosta do humor crítico. É de fácil identificação com a realidade brasileira, ainda que o cenário da Lava Jato seja um pano de fundo e não necessariamente o foco da trama de Kogut. O trabalho impecável de Regina Casé é um convite a mais para assistir ao longa. Os três verões vão do apogeu ao declínio de uma família milionária e fazem o sentido inverso para quem só tinha migalhas. 

Fonte: Redação Terra
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