'Uma Família Em Apuros' é inspirado em netas de Billy Crystal
A ponte que une avós e netos, às vezes, é tão grande que daria até para dizer que é um oceano que os separam. Encurtá-la nem sempre é tarefa fácil, pois as manias parecem que se multiplicam a cada geração. Sem falar nas diferenças de linguagem, tecnologias, referências, gostos e desgostos. E como conviver melhor com esse drama? Para o mestre na arte de arrancar gargalhadas, Billy Crystal (o eterno Harry, de Harry e Sally, Feitos um Para o Outro) a resposta é: “Fazer comédia”! O enredo do filme Uma Família Em Apuros, que estreia no Brasil nesta sexta-feira (11), foi ideia dele, tirada diretamente da própria vida real.
Em Los Angeles, entre muitas risadas, Billy Crystal revelou de onde saiu a inspiração: “a grande ideia veio quando eu fui chamado para cuidar de duas netas por uma semana, pois minha filha precisava viajar com o marido. Eu e minhas netas ficamos seis dias sozinhos, pela primeira vez, e eu, claro, tive que descansar no sétimo dia, já pensando que minha experiência dava um belo roteiro”, conta ele. “Quando eu cheguei na casa da minha filha, ela me deu uma espécie de bíblia com coisas que eu poderia e deveria fazer e dizer e o que não era permitido. Por exemplo, se elas falarem isso responda isso, se perguntarem aquilo, fale dessa maneira”, explica Crystal.
O filme vai bem nessa linha, dos pais superprotetores com seus filhinhos mimados, que ganham tudo que pedem; filhos com agendas lotadas de afazeres e que não sabem o que é ser criança; fala dos pais que se projetam nos pequenos e colocam nos ombros deles seus próprios desejos e angústias; da falta de tempo que se transforma em presente ou no faça o que quiser, pois você tem razão. Mostra também o resultado daquelas regras radicais do tipo: 'açúcar não entra nessa casa' e, o que acontece quando os pequenos que estão diante dessa dieta forçada se encontram com um bolo. No filme, os avós tentam mostrar, através das técnicas antigas, o que é ser criança.
“Eu fiquei avô aos 53 anos, agora tenho três netos e o quarto está a caminho. Aprendi também que o melhor com eles é saber negociar, descobrir a maneira de falar com eles e a partir daí criar um diálogo”, fala Crystal. No filme ele aparece subornando os pequenos netinhos, com dinheiro. Dois dólares e cinquenta para o pequeno tirar os sapatos altos da mãe e fazer o que pede: “não, ainda não cheguei a esse ponto de desespero”, garante Crystal, confirmando que é completamente contra a educação na base do toma lá dá cá.
Na comédia, a atriz (e diva) Bette Midler (Para eles com muito amor) é Diane, a avó dos pimpolhos que foi designada, junto com o avô Artie (Crystal) a passar o final de semana como babá. Midler, que revelou ter uma vontade imensa de ser avó (ela tem apenas uma filha Sophie Frederica Alohilani Von Haselberg, de 26 anos que ainda não tem filhos), disse que acha que agora é muito mais difícil educar uma criança. “Quando eu era pequena, meus pais não tinham nada, apenas os sonhos. Não existiam tantos brinquedos, comidas. Se a gente ganhasse sorvete, a cada seis meses, já era o máximo. Era um mundo muito menor, tínhamos que usar muito mais a imaginação, líamos muito mais, pois não tínhamos escolha”. Para ela a pior parte agora são as inúmeras possibilidades de escolha e que os pais, muitas vezes, esquecem do essencial: “demonstrar amor”.
Improviso
O diretor Andy Fickman (produtor de Anaconda) falou que grande parte do filme foi criado no set, através das improvisações. "Às vezes o que está no roteiro, simplesmente não funciona. Por exemplo: o roteirista de seus 40 e tantos anos escreve um diálogo todo elaborado entre adolescentes e a gente vê que não é natural. Então eu pedia: 'façam o que vocês fariam na vida real'. Aí sai aquela conversa de "ah, aham"...e é isso que é mais normal entre adolescentes".
Segundo Fickman, uma das melhores cenas do filme, um showzinho de música da vencedora de três Grammy, Bette Midler, agora no papel de avó, saiu no improviso."Ela cantava o tempo todo entre as gravações e ensinava para as crianças músicas das décadas de 1950 e 60. Ensinava elas a dançar, estava sempre no 1, 2 e 3. E num momento onde tinha essa conexão netos/avós colocamos a performance".
A filha de Billy Crystal, Jennifer Crystal Foley, que é justamente a mãe das netinhas que ele cuidou durante uma semana, faz uma ponta como a fonoaudióloga Cassandra. Mas, segundo o ator, ela não se importou nem um pouco de ele levar para a tela uma história pessoal. "É uma história sobre família", explica e relembra como eram os domingos na casa de seu avô ("ranzinza, miúdo e austríaco") e da avó ("russa, grandona e cozinheira de mão cheia").
"Como era uma família grande de 12 tios e 18 netos eu tinha audiência garantida. Aproveitava todos reunidos para dar meus shows e fazer as pessoas darem risadas". E o que você faz agora com seus netos nos dias que estão juntos? "Adoro levá-los para shows ao vivo da Broadway e eu fico prestando atenção neles enquanto eles assistem a esses shows, adoro fazer passeios que os deixam mais criativos. Mas temos que sempre pensar, eles são nossos netos, não nossos filhos”, completa o ator e garante que a conexão entre eles e sua segunda geração, hoje, é perfeita.
