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Westworld S02E01: A revolta dos anfitriões, ou a última narrativa de Robert Ford

Leia a nossa crítica de "Journey Into Night", primeiro episódio da segunda temporada - com spoilers!

23 abr 2018 - 11h02
(atualizado em 24/4/2018 às 11h32)
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Atenção: o texto a seguir contém spoilers do 1º episódio da 2ª temporada de Westworld.

Bem-vindo (de novo) a Westworld! Um parque de diversões bem diferente do que você conhecia, consequência imediata do desfecho apoteótico que resultou na morte de Robert Ford ( Anthony Hopkins). Entretanto, é preciso questionar: o caos agora dominante é real?

Foto: AdoroCinema / AdoroCinema

Com a revolução liderada por Dolores ( Evan Rachel Wood), os anfitriões estão no comando - a breve cena em que um deles atira no copo acima da cabeça de uma mulher, versão inversa do visto no último episódio da temporada anterior, soa como uma saborosa vingança ao antigo status quo. Tal mudança, entretanto, não fez com que Westworld ficasse menos violento, muito pelo contrário - o desapreço pela vida e um certo sadismo continuam lá, inseridos no DNA da programação. Porém, é preciso lembrar que nem todos os anfitriões estão no mesmo status.

Em seu ato final, Ford não apenas planejou sua própria morte como lançou ao mundo uma narrativa inédita, mortal, onde os anfitriões não mais distinguiam visitantes de seus semelhantes - ou seja, agora eles têm permissão para matar quem quer que seja. A imensa maioria dos anfitriões segue neste estágio, encarando o mundo como sua programação aponta e reagindo tendo por princípio básico a própria sobrevivência. Menos Dolores.

Mais do que uma líder inconteste, Dolores desponta como uma visionária perigosa. Consciente tanto de suas limitações como a filha do rancheiro como acerca do novo olhar trazido por Wyatt, ela vai além e aponta não só um certo livre arbítrio - é melhor aguardar os próximos episódios antes de afirmar isto com exatidão - como, também, uma aspiração ao poder escancarada a partir de sua conversa com Teddy ( James Marsden) sobre conquistar o mundo dos homens. Para tanto, está disposta a passar por qualquer um, inclusive outros anfitriões, como bem revela a memória onde diz que "nem todos merecem ir além do vale".

Dolores e Teddy, que "faria tudo que ela quisesse". Até quando?

Nesta nova realidade, a pergunta que fica é: tal dinâmica foi previamente planejada por Robert Ford? Não exatamente em relação à ascensão dos anfitriões, o que é até mesmo óbvio, mas tal postura de Dolores? O início deste primeiro episódio aponta que não, a partir da conversa com Arnold (ou Bernard, não sabemos) onde ele diz que "às vezes se assusta com o que ela pode se tornar", mas, como sabemos bem, nem sempre tudo é o que parece ser em Westworld. E há também a questão, ainda nebulosa, acerca da programação de Maeve ( Thandie Newton) para que se rebelasse contra o parque, ainda na temporada anterior. Seria tal conjuntura parte de um imenso plano de Ford em boicotar sua maior criação, já que seria inevitavelmente afastado pela Delos?

Em meio à pergunta onipresente, que possivelmente rondará toda a segunda temporada, o episódio inicial traz mais algumas informações interessantes. Uma delas se refere à uma nova divisão temporal, desta vez em apenas duas semanas, entremeando flashes do que ocorreu a partir da morte de Ford e onde estão os personagens quando o resgate da Delos enfim chega. Bernard ( Jeffrey Wright) é o personagem-chave de tal dicotomia, repetindo a dinâmica implementada em como ocorreu a transformação de William ( Jimmi Simpson) no Homem de Preto ( Ed Harris). Intencionalmente, há muitas dúvidas plantadas: como Bernard não sabia da estação secreta inserida no parque? O que é aquele líquido que injetou em si mesmo? Como conseguiu sobreviver por duas semanas, com o corpo em estágio acelerado de falência? Onde está Charlotte ( Tessa Thompson) e por que estava abandonado em uma praia? Por que assumiu ter sido o responsável pela morte dos anfitriões, ao término do episódio?

Bernard (à direita) junto com a equipe da Delos que o encontrou, duas semanas após o início da rebelião

Todas estas questões devem ser explicadas ainda neste ano, visto a recente declaração do showrunner  Jonathan Nolan de que  "não gosta de empilhar mistérios" e que prefere "encerrar as dívidas a cada temporada". Entretanto, há uma pergunta ainda mais relevante, acerca da mudança geográfica em Westworld. Quando a Delos chega, o novato Karl Strand ( Gustaf Skarsgard) fala em ter chegado a uma "ilha", enquanto Stubbs ( Luke Hemsworth) se supreende com o súbito mar que ali aparece. "Não há como Ford ter feito isto sem que alguém soubesse", diz.

Tal fala não só revela ser possível uma mudança geográfica tão radical, por maior que seja seu tamanho, como também aparenta ter relação com a tal conversa entre Dolores e Bernard/Arnold lá no início do episódio, sobre sonhos em que havia um mar separando ambos. Seria este mais um truque na manga tirado por Ford em sua narrativa derradeira ou há alguém mais coordenando os bastidores do parque? Lembremos, uma vez mais, que as modificações na programação de Maeve foram feitas pela conta de Arnold...

Lee Sizemore e Maeve: nasce uma amizade conveniente

Em meio a tantas questões centrais, é preciso também se ater a fatos relevantes envolvendo personagens importantes. Em seu retorno ao parque, Maeve logo descobre que o centro de comando de Westworld foi devastado, com corpos para todo lado. Se o reencontro com Hector ( Rodrigo Santoro) era previsível, a parceria recém-estabelecida com Lee Sizemore ( Simon Quarterman) promete o início de uma amizade repleta de desconfianças, de lado a lado, que pode levar o espectador a conhecer um pouco mais dos outros parques existentes. Ao menos é o que aponta o anúncio do segundo episódio, em que Maeve surge vestindo uma roupa de samurai - veremos enfim o ShogunWorld?

Neste sentido, é importante ressaltar a revelação de que existem pelo menos SEIS parques no complexo da Delos e que, ao menos um deles, deve simular uma floresta tropical. É o que indica a presença do tigre de Bengala, assim como o início do colapso geral em tais áreas de entretenimento. Fica (mais) uma dúvida sobre até onde os showrunners Jonathan Nolan e  Lisa Joy pretendem mostrar (ou mesmo revelar) ao espectador nesta temporada.

Ainda sobre Maeve, é preciso ressaltar outra breve cena que, mais uma vez, soa como uma vingança ao antigo status quo: quando ela obriga Lee a se despir completamente, com a câmera não se furtando a mostrar o nu frontal masculino, replicando nele o mesmo que os anfitriões tantas vezes passaram junto aos humanos. Um sutil tapa de pelica acerca do direito à privacidade.

Ed Harris está de volta como o Homem de Preto

Não por acaso, deixamos para o final desta análise o retorno do Homem de Preto. É claro que a possibilidade de um jogo mortal agradou o velho William, como o breve sorriso no episódio derradeiro da primeira temporada já havia escancarado. Entretanto, mais relevante ainda é seu encontro com o jovem Robert Ford, anfitrião-criança que serve como voz do falecido criador: a afirmação de que este é um jogo criado para ele não só serve como motivação para alguém tão competitivo, como insinua sutilmente que tudo faz parte de um planejamento maior.

E não pensem que a Delos está completamente fora da jogada. Agora que sabe da encrenca em que se meteu, a expectativa é que a empresa interfira cada vez mais de forma a reassumir o controle de seu lucrativo negócio. Aguardemos.

Westworld é exibido aos domingos no canal HBO, às 22h. O AdoroCinema irá publicar críticas semanais, de todos os episódios da segunda temporada. Fique ligado!

AdoroCinema
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