Exposição valoriza trabalho de Gian Paolo Barbieri, fotógrafo que mudou a moda italiana
Aos 84 anos, italiano clicou musas com Audrey Hepburn, Sophia Loren e Sharon Stone
EFE - Gian Paolo Barbieri pode se orgulhar de ter uma das carreiras mais versáteis do século 20, pois além de fotografar celebridades como Audrey Hepburn e Sophia Loren, ele foi o criador, junto com o estilista Valentino, do prêt-à-porter italiano e das capas duplas da revista Vogue.
"Na verdade, nunca pensei em ser fotógrafo" ou "que as minhas fotos pudessem ser apreciadas, mas adorei a fotografia e continuei com ela sem pensar no futuro", explica este prestigiado artista em entrevista à EFE em que, aos 84 anos, repassa suas mais de seis décadas de carreira profissional desde o início desenvolvendo negativos no banheiro de um hotel.
Os feitos deste pioneiro da fotografia de moda são homenageados na exposição que abre em Milão sob o título Gian Paolo Babieri: Unconventional e no filme sobre a sua vida, Man and Beauty, que chegará a Espanha a partir de 23 de janeiro.
DO SÓTÃO À ESTRELA
Depois de uma breve passagem pelo teatro e pelo cinema, Barbieri, nascido em Milão, em 1938, começou como assistente em Paris de Tom Kublin, o famoso fotógrafo da Harpeer's Bazaar, mas a morte prematura do artista húngaro interrompeu esse promissor começo.
Ainda assim, aos 26 anos, abriu o seu próprio Atelier num "sótão miserável" onde colocou uma placa de latão para o tornar mais profissional: "Houve muitos momentos em que quis desistir, preferia ter um emprego fixo", explica sobre essa época, em que só fotografava mulheres da alta sociedade.
Apesar de tudo, Barbieri alcançou o auge da fotografia, capturando rostos como os de Hepburn, Loren, Sharon Stone ou Monica Bellucci e marcando o marco de se tornar o primeiro fotógrafo de moda, junto com Gianni Penati, a trabalhar para a então recém-fundada Vogue Italia.
KUBLIN, VALENTINO E VANGELIS
"A experiência com Tom Kublin sem dúvida marcou minha trajetória", explica Barbieri sobre seu mentor, lembrando também de Valentino, outra das figuras marcantes de sua carreira e que considera "um dos maiores designers que já existiu". "Criamos, com o costureiro Walter Albini, o prêt-à-porter italiano e juntos inventamos as capas duplas para a Vogue Itália. Juntos alcançamos marcos importantes na história da moda italiana", afirma.
Com mais de um milhão de imagens por trás dele, Barbieri deixa claro sua lembrança favorita: a trilha sonora inspirada em e para suas imagens que lhe foi dada pelo compositor Vangelis, vencedor do Oscar por Carruagens de Fogo (1981).
Segundo Barbieri, após ver suas fotografias, Vangelis fez questão de criar a música para acompanhar a edição limitada de seu livro Retratos Silenciosos com 600 discos, que o próprio compositor fez como uma "homenagem" ao fotógrafo.
A "BELA" VENEZUELA
Barbieri é aquele tipo de fotógrafo ambivalente que tem facilidade em mudar seus estúdios para todos os tipos de cenários geográficos, como demonstrou com sessões únicas na Polinésia, Madagascar, Seychelles ou Tahiti.
"Fora do ateliê, em ambientes naturais ou na rua, estava em constante diálogo com os estímulos inesperados do lugar", explica, relembrando seu trabalho nos trópicos venezuelanos com a modelo local Laura Álvarez, "um dos mais belos" de sua vida. Graças a cenários como o arquipélago de Los Roques, Margarita, Canaima, Maracaibo ou Coro, Barbieri colocou a Venezuela nos mapas em 1976 com a reportagem da Vogue Italia na qual o país foi mostrado pela primeira vez.
"Dois anos depois voltamos para fazer outra reportagem, Peles. Devo dizer que foi muito engraçado porque desta vez, mais do que a primeira, queria tornar o trabalho o mais imersivo possível com a flora e fauna venezuelana e Laura sempre foi a cúmplice perfeito", frisa.
DA SÉTIMA ARTE À FOTOGRAFIA
"O cinema, tal como a arte e a literatura, tem um papel fundamental no meu trabalho", explica o fotógrafo, que quando jovem desempenhou alguns papéis secundários, como em Medeia, a Feiticeira do Amor (1969), de Pier Paolo Pasolini, e que sempre procurou dar à fotografia "esse dinamismo tão característico do cinema". Como sua aspiração inicial era ser ator, iniciou-se no mundo das imagens experimentando a luz e tentando imitar o que via no cinema e no teatro: "Minhas fotos sempre quiseram contar algo que estava acontecendo; assim como em no teatro ou no cinema tudo nasce de um conflito interno e externo, é assim que acontece nas minhas fotografias".
E, quanto à evolução tecnológica, Barbieri não esconde certo receio diante de um mundo que "olha sobretudo para o perfil comercial" em relação a "um passado que concebia a figura do fotógrafo como a de um artista integral".
"As fotografias agora estão tão limpas que perdem a autenticidade", conclui.