Faturamento de editoras com venda de livros em livrarias virtuais supera o de livrarias físicas
Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial Brasileiro mostrou, ainda, que a venda de e-books e audiolivros cresceu 35% no Brasil em 2022
Pela primeira vez na história, as livrarias exclusivamente virtuais ultrapassaram as físicas no faturamento das editoras. Foi o que apontou a Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial Brasileiro 2023, realizada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), com apuração da Nielsen BookData, divulgada nesta quinta-feira, 18.
O levantamento é o mais longevo do setor no Brasil e na América Latina e foi feito com base em dados do ano passado, informados pelas editoras. Conforme as conclusões, livrarias virtuais como Amazon tiveram um crescimento de 35,2% no faturamento das editoras em 2022. Em 2021, elas representavam 30%. Já a participação das livrarias físicas caiu de 30% para 26,6%.
As lojas virtuais responderam por 35,2% do faturamento de livros no ano passado, um salto significativo em relação aos 30% de 2021. As livrarias físicas caíram de 30% para 26,6%.
Os resultados apontaram um recuo de 2,6% no faturamento geral, se corrigido pela inflação. A redução, porém, foi menor do que a do ano retrasado, registrada em 4%. O faturamento total ficou em R$ 5,5 bilhões - dois terços representam vendas ao mercado e o restante, para o governo.
Mariana Bueno, economista da Nielsen BookData, explica que o impacto negativo das compras governamentais também é resultado dos pagamentos que não foram realizados. "O governo divide o pagamento ao longo do ano, e pagou muito pouquinho do PNLD 2023, contratado em 2022?, afirmou durante entrevista coletiva realizada na manhã desta quinta-feira, 18.
O destaque também vai para as Feiras e Bienais do Livro, que apareceram pela primeira vez entre os principais canais de venda de editoras, representando a parcela de 1%. Em 2021, a participação havia sido de apenas 0,1%.
Sevani Matos, presidente da CBL, atribui o resultado como reflexo do sucesso da Bienal em São Paulo no ano passado. "Foi uma demanda do público que gosta de encontro com autores, de conhecer novidades", apontou Sevani.
Ela e Dante Cid, presidente do SNEL, veem com bons olhos a próxima Bienal do Livro, que será realizada no Rio de Janeiro entre os dias 1º e 10 de setembro. "Passado o período de pandemia, nós teremos um público bastante grande", disse Sevani.
Resultados refletem resquícios da pandemia, dizem analistas
A presidente da CBL atribui os resultados de 2021 e 2022 às consequências sentidas pelas livrarias durante a pandemia da covid-19. O crescimento de livrarias exclusivamente virtuais se deve ao fato de leitores, durante o período de isolamento, terem sido obrigados a comprar de maneira virtual, segundo ela.
Dante acredita que concentrar vendas em apenas um canal, como Amazon, "não é saudável" para o mercado da literatura. "O mais saudável é que haja uma distribuição entre todos os canais e que haja mais vitrines para que a população possa folhear e conhecer livros presencialmente", diz.
Os dois também pontuam que o Brasil possui uma distribuição desigual de livrarias físicas, especialmente no interior do País, o que contribui para o crescimento das exclusivamente virtuais. "A gente torce para que haja mais livrarias físicas espalhadas para todo o País", comentou Sevani.
Faturamento com conteúdos digitais cresceu
O faturamento com conteúdos digitais, que incluiu e-books e audiolivros, alcançou um crescimento representativo de 35%. Conforme a pesquisa, isso foi impulsionado pelo aumento de 69% no faturamento das editoras com bibliotecas virtuais e pela inserção do subsetor de livros educacionais.
Os e-books ainda representam a 79% da parcela do faturamento com assinaturas de digital, enquanto os audiolivros somam 21%. Em audiolivros, nesta modalidade de venda, o destaque fica com os livros de não ficção, como biografias e autoajuda, que representam 80% do faturamento com assinaturas.
A parcela do conteúdo digital, porém, representa apenas 6% do mercado editorial brasileiro. Para Mariana, o aumento dessa porcentagem é dificultado pelo fato de livros digitais serem, na maior parte, consumidos por meio de tablets e e-readers, equipamentos caros para o padrão de vida brasileiro.
Em relação a um possível crescimento de audiolivros, Sevani diz que a aposta da indústria nesse tipo de categoria é cada vez maior, mas que a produção ainda é cara para muitas editoras. "O e-book e o audiobook vão conviver. Cada leitor também tem preferências a formatos diferentes", aponta.
*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais