Público curte Roni Size e caixas de som do Free Jazz odeiam o DJ Richard D James
Domingo, 28 de outubro, 6h
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Fotos: Rogério Lorenzoni/Terra |
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Acima, Roni e suas pickups e computador; abaixo, escondido, DJ Richard D James |
Foi uma fresca noite de sábado, abarrotada de belas mulheres, figuras exóticas, homens embonecados, "wannabes" e pseudovips desfilando pelo Village no Free Jazz, edição paulistana. E foi também o dia do eletrônico no segundo dia de Main Stage. Começou com o brasileiro de Sergipe DJ Dolores e seguiu para o artista mais abraçado da noite pelo público, Roni Size e a Reprazent. A curiosidade de fechamento foi a apresentação "Onde Está o Wally?" do citado "gênio e louco" (pelos organizadores) DJ Richard D James.
Veja fotos da apresentação de Roni Size
Veja fotos da 2ª noite
Vamos começar pela gestalt mais fácil. Roni, que virou ícone do gênero drum'n'bass em 1997, trouxe todos seus computadores e músicos para o Free Jazz. Seus decalques são eletrônicos, mas tem na linha de frente um cantor de rap, uma cantora soul competentíssima, um baterista infernal (que usa pads e não peças acústicas em seu set) e um baixista que brinca com os graves de seus riffs repetitivos.
"Tudo bem? Beleza? Caipirinha!", brincava o vocalista da Reprazent. Para os não-amantes do drum'n'bass, pode ter sido uma experiência irregular, com altos a baixos, mas para os fãs, em sua maioria dada a noite eletrônica, foi a festa mais quente do Main Stage. As músicas mais celebradas foram logicamente as manjadas Heroes e Share the Fall, ambas do disco de 1997 New Forms.
Mas a excentricidade da noite ainda estava por vir. Luzes, som alto e palavrões como "fuck you" podiam ser ouvidos no Main Stage. Quem entrasse distraído no local ia reparar os vários telões que repetem a ação do palco congelados no logotipo do Free Jazz. Também iria perceber um som altíssimo e estridente de danceteria. Um desavisado poderia se sentar no chão para aguardar o próximo show e dizer: "Pô, o cara que está controlando o som de espera vai matar a próxima atração, pois a música está muito alta, mais elevada que no show do Roni".
Sim, mas o "mesista" não tinha nada a ver com isso. Mais alguns minutos e os fotógrafos começavam a deixar o ambiente com uma expressão desolada. O que aconteceu? Bom, nenhum deles fez uma imagem de Richard D James - que já estava no palco! Bom, palco numas. Estava nos bastidores, com um laptop e um cabo coaxial enviando um único sinal estéreo de áudio para a mesa no final do palco.
"Estou muito velho para isso", brincava Peter, o mesista do Main Stage. "Na minha época, meu pai dizia 'baixa esse Led Zeppelin aí!'". Isto por que o som que saía das caixas de som oscilava entre batidas estupidamente altas e chiados que queriam rasgar os tímpanos do público. Várias pessoas saíram do local ainda com os dedos nos ouvido. Max de Castro, parte da audiência, logo saiu fazendo com as mãos e dedos o clássico símbolo dos metaleiros - até para ele, um produtor, a coisa estava pesada demais.
DJ Richard chegou ao Brasil desfalcado de seu videomaker Chris Cunnigham e com ares de "louco genial". Ok que ele saiba brincar com a tecnologia e seus loopings com a verve de um Stockhausen, mas daí a virar "gênio", como disse a produção do Free Jazz, nem com lâmpada. E lembrando que a palavra já foi usada para designar músicos como Tom Jobim e Miles Davis.
Richard não passou o som nem deu uma idéia para a organização do que ia fazer em sua noite. Chegou pouco antes de sua apresentação e para o técnico da mesa do Main Stage, "ele deve ter disparado alguns MP3s". Para não dizer que não apareceu no palco, quase lá pelas tantas de seu show, surgiu entre as luzes um sujeito de boné, cabelos longos presos e dançando um "break" estranho por alguns minutos. Mas a pergunta é: será que era ele?
Ricardo Ivanov / Redação Terra
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