Em busca de aporte, produtoras de indie games expõem na BGS
Desenvolvedores de jogos independentes apostam na feira como forma de ampliar os contatos com investidores e o público
Playstation, Xbox, Nintendo, Activision e Warner Brothers Games. Essas são algumas das marcas mais famosas do mundo dos videogames. Todas elas estiveram com grandes estandes na 11ª edição da Brasil Game Show (BGS), que aconteceu na última semana, da quarta-feira (10) até domingo (14). Não foram só elas, porém, que tiveram espaço para divulgar seus novos jogos. Juntas em um corredor estreito do Expo Center Norte, em São Paulo (SP), comparado ao das grandes marcas, as produtoras independentes de games, também conhecidas como "produtoras indie", também tiveram seu espaço para exposição. Em busca de investimento e reconhecimento do público, esses desenvolvedores brasileiros colocaram suas criações à prova dos visitantes da feira.
Dentro da "Avenida Indie", como era chamado o corredor que abrigava os desenvolvedores independentes de jogos, os pequenos produtores de games disputavam a atenção dos visitantes da feira, a fim de aproveitar a chance de divulgar suas criações. "A gente estar aqui (na BGS) é muitíssimo importante porque só assim para termos contato com produtoras grandes, investidores-anjo e com o público-geral", afirma o diretor de arte da Demerara Games, Robson Marques. "Participar desse evento é uma experiência única porque nós estamos vendo em tempo real as reações que nosso jogo provoca e isso nos motiva para desenvolver mais." Além disso, segundo ele, é uma boa oportunidade de concretizar vendas.
Na BGS para expor sua nova criação, o game Sleight, a Demerara Games, produtora independente do Rio Grande do Norte (RN), só conseguiu ir para a feira por conta de um apoio externo. "Se não fosse o Sebrae-RN, a gente nem estaria aqui", afirma Marques. Hoje, sobrevivendo do desenvolvimento de jogos para empresas e com pouco tempo para fazer criações originais, a empresa indie também valoriza a presença na feira de videogames para entrar em contato com outras empresas do setor, em busca de futuras parcerias. "Lá em Natal (RN) é tudo muito isolado, é um estado bem novo com relação à tecnologia e não temos muitas companhias de softwares e games", diz o diretor de arte.
Da mesma forma, a produtora indie Ignite Games também comemorou a sua presença na BGS. "Apesar da situação das desenvolvedoras brasileiras estarem melhorando, ainda precisamos de mais apoio, mais parcerias, e a feira nos possibilita isso", diz diretor comercial da Ignite, Maicon Barbosa. Ele ressalta a evolução do cenário para os independentes, dizendo que o espaço da "Avenida Indie" tem crescido todos os anos e que os investidores têm olhado as empresas menores com outros olhos, proporcionando maior abertura e suporte. No entanto, ele diz que ainda falta mais união entre as corporações e as companhias mais enxutas. "Fazer um jogo não é fácil, é preciso conseguir uma boa verba, é preciso ter recursos."
O estande da Ignite colocou o novo game da empresa, Rei do Cangaço VR, para análise e teste dos visitantes da BGS. Embora o jogo seja de realidade virtual e possa não ter tanta difusão na sociedade brasileira, diz Barbosa, o atrativo do game é ter uma temática 100% brasileira, retratando a região Nordeste e a história do Brasil. "O nosso gamer está acostumado a jogar histórias que envolvem a cultura europeia, americana e asiática, então eu acho que vai ter uma boa recepção pelo jogo estar inserido no cenário do País", afirma o diretor comercial. Segundo ele, a equipe de desenvolvimento pesquisou roupas e armamento da época em que Lampião e Maria Bonita estavam vivos, além do clima e vegetação da região.
Colocar os gamer brasileiros na estratégia de ideação e divulgação do game também foi uma opção do estúdio independente Animus. "A gente sempre dá carinho para a nossa comunidade do Brasil, colocamos algumas questões nacionais dentro do jogo, oferecemos descontos para quem mora no País e também participamos de feiras e fóruns aqui", afirma o diretor de marketing da empresa Patrick Borges. Apesar do esforço, diz ele, as vendas do game Dungeon Crowley, que estava sendo exposto na BGS, para jogadores brasileiros representam 8% do total. Sobre isso, Borges afirma que o público nacional foca muito mais em comprar jogos AAA, que têm os maiores orçamentos de divulgação e produção, geralmente de grandes produtoras.
Para romper essa barreira, e tentar alavancar as vendas dos games de produtoras independentes, Borges acredita que é necessário divulgar mais o trabalho necessário para o desenvolvimento desses jogos. "Na produção do Dungeon Crowley, noss equipe trabalhou de 13 a 14 horas por dia, foram quase 6.000 horas de trabalho dedicados a esse projeto", afirma. A presença na BGS, para o diretor de marketing, é a oportunidade de conseguir novos contatos. "A ideia de estar aqui é para abrir portas e conseguir furar essa barreira que é imposta nos indies", diz. Para ele, só com esse bate-papo, com essa troca, é possível conseguir parcerias com grandes estúdios, incremento de verba e investidores capacitados, na perspectiva de alavancar venda das criações dos estúdios independentes.