O dia em que Edson Celulari enfrentou o Jaspion
O ano de 1989 foi bem intenso para a cultura pop. Tivemos uma série de eventos que marcariam para sempre aquele final de década. No cinema, vários lançamentos: Batman com Michael Keaton, a última parte da trilogia Indiana Jones (A Última Cruzada), De Volta para o Futuro II, Os Caça-Fantasmas II, A Pequena Sereia, Sociedade dos Poetas Mortos, Querida: Encolhi as Crianças, entre outros clássicos. No mundo dos games, o lançamento do Mega Drive. Na TV, a primeira temporada dos Simpsons, SOS Malibu, Seinfeld, Twin Peaks, Galera do Barulho, Contra Tempos, Dragon Ball Z, Missão Alien, uma lista imensa. Mas, e no Brasil?
Um dos grandes destaques de 1989, junto de Tieta, foi a novela Que Rei Sou Eu?, de Cassiano Gabus Mendes. Uma sátira bem-humorada aos devaneios do governo Sarney, utilizando os conselheiros da Rainha Valentine como verdadeiros idiotas para simbolizar os ministros de Brasília, a novela tinha na acidez de seu texto um grande trunfo. Mas também conseguiu mesclar muita aventura, utilizando como pano de fundo uma história nos moldes dos Três Mosqueteiros. Jean Pierre (Edson Celulari), líder do bando de rebeldes do reino de Avilan, era o verdadeiro herdeiro do trono, que fora surrupiado por Ravengar (Antonio Abujamra) e seu pupilo, o mendigo Pichot (Tato Gabus). Em determinado ponto da história, Jean Pierre chega a utilizar a máscara de ferro, um dos pontos altos da literatura de Alexandre Dumas. O duelo entre Jean Pierre e Pichot ocorre de maneira épica e ficou marcado para sempre na memória de quem assistiu.
A novela foi um sucesso de público e crítica. Fez tanto sucesso que a Globo resolveu colocar no ar um mês após o seu término. Só que ao invés do Vale a Pena Ver de Novo, local ideal para novelas, a volta ocorreu na Sessão Aventura, clássico programa dos fins de tarde da Globo que exibia seriados. Mesmo tendo feito um tremendo sucesso, a novela era muito recente para ser reprisada. Mas a explicação veio do outro lado do mundo (ou do Rio de Janeiro, mesmo): Jaspion.
Exibido como atração nobre do Clube da Criança de Angélica, a série aumentava o Ibope da emissora de maneira bastante promissora. Segundo a Folha de S. Paulo, do dia 22 de outubro de 1989, a média de Ibope do programa ficava entre 6 e 10 pontos, mas quando Jaspion era exibido chegava a atingir incríveis 16 pontos. Na Globo, isso acendeu o sinal de alerta. A Sessão Aventura, que exibia seriados americanos, oscilava entre 20 e 30 pontos. Mas assim que Jaspion entrava no ar, automaticamente caia em até 5 pontos. A solução encontrada foi travar uma verdadeira luta de espada entre Jaspion e Jean Pierre.
A Globo já tinha feito uma experiência anterior, colocando a novela Guerra dos Sexos (1983) na Sessão Aventura entre janeiro e abril de 1989, com um aumento de 5 pontos em relação aos seriados americanos. Por isso, escalou Que Rei Sou Eu? para enfrentar o defensor da paz no universo em busca de alguns pontinhos no IBOPE.
Esse duelo durou pouco. A novela, com 185 capítulos, foi condensada para apenas 50, ficando no ar até o dia 29 de dezembro de 1989. Durante 1990, a Sessão Aventura ficou bastante comprometida devido aos eventos esportivos, como a Copa do Mundo, disputada na Itália, além do Campeonato Mundial de Vôlei. Assim, a Globo abandonou as novelas na Sessão e colocou de volta seriados americanos, como Minha Querida Bruxa, Tal Pai, Tal Filho, Lassie e Herói por Acaso. O Clube da Criança, ainda em 1989, Jaspion ganhou o reforço de Jiraiya e Lion Man para combater a emissora do Jardim Botânico. Em 1990, o Clube da Criança ficaria ainda mais forte, com mais tempo no ar e a chegada dos heróis Jiban e Cybercop.
Quase 30 anos depois, Jean Pierre não tem o mesmo apelo midiático que Jaspion tem até hoje. Parece que temos, claramente, um vencedor desse emblemático duelo. Mas fica a pergunta: em um duelo entre Pichot e MacGaren, dois covardes de carteirinha, quem levaria a melhor? E um duelo de bruxaria entre Kilza e Ravengar? Perguntas que somente os fãs poderão responder, com suas mentes férteis e criativas.