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Opinião: por que Mass Effect: Andromeda foi tão injustiçado?

Após tanto tempo e tantas críticas, parece que Mass Effect: Andromeda ficou... melhor. Entenda como isso acontece.

16 set 2018 - 12h41
(atualizado às 12h42)
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Meu primeiro contato com Mass Effect: Andromeda foi muito decepcionante. Joguei o título na sua semana de lançamento (março de 2017), mas a quantidade de problemas técnicos era tão irritante que simplesmente desisti de jogá-lo após algumas horas. Lembro que a gota d’água foi assistir a uma cena particularmente vexatória, na qual boa parte dos personagens havia sumido da tela enquanto o diálogo entre eles continuava acontecendo.

A presença anormal de bugs no game fizeram muito mais do que apenas denegrir a imagem de Andromeda, transformando-o em uma piada que ganhou o mundo através de memes e vídeos pela internet. Alie isso a uma recepção morna por parte da crítica especializada e temos uma receita para o fracasso de um game que se tornou o mais mal falado do ano passado.  

Mira e tiro poderiam ser um pouquinho aprimorados no jogo
Mira e tiro poderiam ser um pouquinho aprimorados no jogo
Foto: Electronic Arts / Reprodução

Porém, mesmo com esta péssima reputação, não consegui me manter afastado de Mass Effect. Seja pelo carinho que tenho pela série, curiosidade ou puro masoquismo, resolvi dar mais uma chance a aventura da família Ryder, para tentar conferir de uma vez por todas se o jogo era realmente tão ruim assim ― ou se ele era apenas um título cujas qualidades foram “apagadas” por conta de seus inúmeros problemas.

Voltar a jogar Andromeda após tanto tempo foi a melhor decisão que poderia ter tomado. O jogo recebeu uma “tonelada” de atualizações desde o seu lançamento e eles realmente fizeram toda a diferença na experiência que o game oferece agora, embora ele ainda esteja a anos luz (com o perdão do trocadilho) de ser um primor técnico.

Esse bug clássico obviamente virou meme nas redes sociais
Esse bug clássico obviamente virou meme nas redes sociais
Foto: Electronic Arts / Reprodução

Mesmo já tendo se passado mais de um ano e meio desde o seu lançamento, o game ainda traz muitos problemas grosseiros de acabamento e otimização. Quedas na taxa de frames (com algumas travadas aqui e ali), legendas mal sincronizadas e uma dificuldade irritante de posicionar a câmera no ângulo certo para interagir com outros personagens foram apenas alguns dos problemas que encontrei com frequência no game.

Um bug técnico em particular realmente passou a me incomodar com o tempo. Meu Ryder estava com os olhos semicerrados na maioria das cenas do jogo, o que me levou a duas teorias: ele estava com muito sono durante a campanha ou ele conseguiu contrabandear para a nova galáxia uma ervinha muito conhecida e apreciada aqui na Terra. Para se ter uma ideia, depois de um tempo passei a chamá-lo de “Ryder chapadão”.

Bugs sempre são esperados em jogos, entretanto mesmo que nenhum deles seja o suficiente para destruir a sua experiência ao jogar Andromeda, o fato de eles se fazerem presentes durante toda a jornada faz com que afetem a experiência que o game deveria proporcionar.

Cada personagem tem sua própria personalidade no game
Cada personagem tem sua própria personalidade no game
Foto: Electronic Arts / Reprodução

Mas, no final das contas, não foram os problemas técnicos que mais me incomodaram no jogo. O que realmente me decepcionou foi a falta de ambição do título.

Quando Andromeda foi anunciado, ele parecia esbanjar coragem e ambição. A aventura que vivemos com Sheppard foi incrível, mas o comandante da Normandy habitava um mundo já estabelecido, repleto de maravilhas que só foram possíveis graças a coragem de pioneiros que desbravaram os mistérios daquele universo.

Agora nós teríamos a oportunidade de sermos estes desbravadores, assumindo o protagonismo de uma galáxia inteira, o que abriria um leque de possibilidades gigantescas a serem exploradas.

O início do game realmente parece te levar nesta direção, ao mostrar um jovem comandante que acorda subitamente em uma galáxia nova e cheia de problemas. Mas, conforme avançamos, constatamos que Andromeda sempre se mantém em terreno perigosamente seguro e sem explorar o seu potencial. O visual é um exemplo disso.

Embora alguns ambientes do game chamem a atenção, como os relicários de uma raça alienígena já esquecida (alguém lembra dos Proteans?), a grande maioria dos planetas que visitamos tem um visual sem graça, que nunca chama a atenção por serem muito parecidos com coisas que já temos aqui na... Terra. Na verdade, o design dos ambientes vai além da falta de criatividade, sendo apenas preguiçoso na maioria das vezes.

Temos um planeta de gelo, um planeta floresta, um planeta deserto, um planeta rochoso e todos são compostos basicamente de grandes espaços vazios onde a paisagem muda muito pouco, não importa se você vá de uma ponta a outra do mapa.

Pelo menos o visual dos personagens se sai muito melhor. Mesmo as raças que já conhecemos nos games anteriores trazem um visual próprio, com elementos que dão uma característica única aquele indivíduo, como a faixa negra nos olhos de Peebee ou os adereços na armadura de Drack. Detalhes que muitas vezes são pequenos, mas que fazem diferença na hora de destacarmos aqueles personagens de outros membros do seu povo.

Os Angara e os Ketts também têm um visual muito interessante, que traz algumas similaridades com outras raças, mas que tem uma fisiologia própria e com características que os diferenciam até mesmo entre os seus.

Sim, as cenas quentes também estão presentes, mas com menos polêmica desta vez
Sim, as cenas quentes também estão presentes, mas com menos polêmica desta vez
Foto: Electronic Arts / Reprodução

A falta de ambição do game também está nas escolhas morais tão famosas na franquia e outras séries da BioWare. Não sei dizer se a polêmica envolvendo o final de Mass Effect 3 afetou o estúdio de alguma forma mais profunda do que o esperado, mas a desenvolvedora parece ter ficado receosa de impor escolhas interessantes em Andromeda, pois todas elas são praticamente irrelevantes. Não existe nenhuma que vá fazer você pensar por muito tempo em que atitude tomar, afinal elas também não têm grandes consequências.

Um problema interessante e que reflete a pouca originalidade que encontramos em muitas das missões do game. Apesar de o título fazer um bom trabalho em dar um contexto para cada um dos objetivos que temos que cumprir, quase sempre tudo acaba indo em direção ao tiroteio. Não que os combates sejam um problema, mas em uma era pós-Witcher III é esperado que nossa interação com o ambiente de um game não fique restrita a um confronto armado na grande maioria das vezes, mesmo que eles sejam divertidos.

Enfrentar os inimigos ainda é prazeroso e o game consegue dar um dinamismo aos embates, principalmente por conta da movimentação mais livre pelos cenários. Atirar e usar nossos poderes ainda é satisfatório, principalmente quando ele vem acompanhado de um combo bem empregado ― embora seja uma pena que game limite as ações do jogador ao deixar que só utilizemos três habilidades de cada vez: um excesso de burocracia que afeta outras mecânicas do título.

Boa parte dos sistemas usados em Andromeda são exageradamente complicados, o que impede o jogador de aproveitá-los em sua plenitude. Temos dezenas de armas a nossa disposição, mas tantas características individuais servem apenas para confundir o jogador, que não tem nem mesmo um sistema eficiente para comparar os armamentos que tem à disposição. As mecânicas de mineração também são um exemplo triste, que exige que você viaje entre planetas em busca de recursos ou procure os melhores lugares para estabelecer pontos de coleta minerais. Na verdade, ainda me pergunto porque, após mais de 10 anos de franquia, a BioWare ainda considera que minerar itens seja algo divertido de se fazer em um game onde o objetivo é descobrir novos mundos e fazer contato com raças alienígenas.

Apesar de tantos problemas, porém, a única coisa que nunca me decepcionou em Andromeda foi a sua narrativa com relação aos seus personagens. A história do game tem seus momentos, mas peca por se focar na luta contra uma raça que nunca é apresentada de forma adequada e um vilão que também não é bem explorado.

Você acha que explodiu tudo? Não é bem assim...
Você acha que explodiu tudo? Não é bem assim...
Foto: Electronic Arts / Reprodução

Mas o título claramente brilha quando o assunto é interação entre os personagens. Ryder é retratado como um (ou uma) comandante que começa insegura de suas funções, tentando se provar não apenas para sua tripulação, mas também para ela mesma. Algo que acontece juntamente com a descoberta dos membros de sua tripulação, pois cada um deles é um indivíduo único, com histórico, expectativas e motivações diferentes que são sempre interessantes de serem descobertas.

Conhecer a tripulação da Tempest foi o maior prazer que tive em minha campanha e que mostrou que, ao final de sua jornada, a maior êxito de Ryder não foi descobrir uma nova galáxia, mas sim encontrar uma nova família.

Andromeda poderia ter sido um jogo que levaria Mass Effect a uma nova fronteira de inspirações e conquistas, mas ao invés de inovar e tentar expandir os conceitos que foram apresentados nos jogos anteriores, ele prefere se manter em terreno seguro.

Ele pode ser um jogo melhor hoje do que foi no seu lançamento, mas seus problemas vão muito além de simples bugs. Ao optar por escolhas de design e gameplay medíocre, ao invés de se arriscar, a sua principal fraqueza se torna estrutural e isso não se pode concertar com um patch de atualizações.

Mass Effect vai ficar um tempo afastado após a recepção que Andromeda teve, mas talvez isso seja uma coisa boa. Talvez o a franquia precise é de um tempo para entender o que deu errado e tentar se redescobrir antes de tentar encontrar uma nova galáxia.

FICHA TÉCNICA

  • Estúdio: BioWare
  • Editora: Electronic Arts
  • Plataformas: PC, PlayStation 4, Xbox One
  • Lançamento: 21/3/2017
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