A aceitação de parceiro bi e relacionamento aberto
Postura de Rose Miriam em relação à vida íntima de Gugu suscita reflexão sobre concessões afetivas e privacidade conjugal
Se Augusto Liberato era bissexual, gay ou heteroflex ninguém tem nada a ver com isso. A sexualidade de uma pessoa, seja anônima ou famosa, interessa exclusivamente a ela própria e a quem se relaciona. Mãe dos três filhos do apresentador, a médica Rose Miriam Di Matteo defende o respeito à individualidade. “A vida íntima do Gugu, não cabe a mim saber qual era uma preferência dele; se dentro dele, ele tinha uma preferência sexual diferente”, disse em entrevista à repórter Ana Carolina Raimundi no Fantástico de domingo (22).
Pela primeira vez desde a morte do comunicador, em novembro de 2019, aquela que se define como “companheira” do apresentador admite a hipótese de ele ter tido uma experiência não heterossexual, como afirma o chef de cozinha Thiago Salvático. Em autodeclaração nas redes sociais e na imprensa, o catarinense radicado na Alemanha disse ter sido namorado de Gugu ao longo de oito anos, até a queda fatal que vitimou o artista.
Na mesma gravação para a Globo, Rose Miriam manifestou postura liberal ao comentar o suposto envolvimento homossexual do comunicador. “Se o Gugu tinha algum relacionamento fora, essa era a vida dele. Não cabe a nós questionarmos a vida íntima das pessoas”, afirmou. “O que importa era o que ele era para mim e para os meus filhos. Ele era o meu companheiro.”
Esse pensamento vai ao encontro do que sempre defendeu a psicanalista Regina Navarro Lins nas participações no programa ‘Amor & Sexo’, da Globo. “O modelo de casamento tem de ser reformulado. As pessoas têm de ter liberdade de ir e vir, amigos em separado, não haver controle da vida do outro. Quer ficar quarenta anos casado, só transar com aquela pessoa? Pode. Quer ter três parceiros fixos? Também pode”, disse certa vez ao ser questionada pela apresentadora Fernanda Lima.
Relações abertas são mais comuns do que se imagina. Assim como a aceitação de parceiro bissexual. A maioria dos casos é mantida em sigilo pela questão da privacidade e a fim de evitar o preconceito social com os formatos não tradicionais de casamento. Mas há quem fale publicamente sobre isso sem pudor nem temor. É o caso da atriz Fernanda Nobre, famosa por atuações em novelas na Globo e na RecordTV. Ela já comentou em várias matérias a respeito do casamento não monogâmico com o diretor José Roberto Jardim.
A teledramaturgia abordou a questão em algumas tramas. Uma delas foi ‘A Próxima Vítima’, de 1995, onde Hélio (Francisco Cuoco) e Helena (Natália do Valle) tinham um casamento liberal, com aventuras permitidas. As recentes declarações de Rose Miriam sobre a alegada relação com Gugu jogam luz sobre as concessões feitas por quem deseja ficar ao lado de alguém, ainda que sem exclusividade. Nas redes sociais, a médica foi criticada por quem desaprova relacionamento liberal e apoiada pelos defensores da criação de um modelo próprio para se viver bem a dois.
Pai da psicanálise e estudioso da sexualidade humana, Sigmund Freud insistia na ideia de que cada pessoa deve forjar sua fórmula personalizada de existência e interação. “A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz”, escreveu. Hétero, bi, gay, pansexual, relação fechada, aberta, trisal... O imprescindível é se sentir bem consigo mesmo e com quem está ao seu lado. O resto da sociedade que lute.