A TV ajuda Datena no corpo a corpo nas ruas, mas é insuficiente para evitar vexame
Popularidade pela aparição diária em programa policial não resulta em intenções de votos necessárias para torná-lo competitivo na eleição
Após quase 50 anos de televisão, José Luiz Datena ambiciona ser o ‘prefeitão’ da cidade mais importante do país. Pelos índices das pesquisas, São Paulo prefere continuar a vê-lo como apresentador.
Meses atrás, ele chegou a aparecer em 1° lugar nas intenções de votos. Hoje, oscila entre a quarta e a quinta posições. Na campanha nas ruas, é acarinhado, porém, risos e abraços de anônimos não cabem na urna eletrônica. Visivelmente desanimado, o candidato do PSDB parece apenas cumprir tabela.
A indicação é que o comunicador do ‘Brasil Urgente’ não repetirá a façanha de João Doria, Celso Russomanno, Jorge Kajuru, Clodovil Hernandes, Wagner Montes, Cidinha Campos, Soninha Francine, Rosana Valle, Joyce Hasselmann e outros apresentadores que migraram com sucesso à política.
O revés no projeto eleitoral de Datena surpreende a todos, inclusive a este colunista, que ainda acredita no poder de influência da televisão, apesar de ela ser ofuscada pela ininterrupta revolução digital.
Em 22 de agosto, postei uma análise do crescimento do candidato do PRTB baseada em seu protagonismo no debate na Band. A manchete: “Arrancada de (Pablo) Marçal em pesquisa reforça o poder dos debates na ‘velha’ TV”.
No dia seguinte, recebi uma DM do estrategista de conteúdo do Terra, Thiago Azanha. “Ele só usou o debate para gerar cortes para as suas redes sociais e aumentar o engajamento. Na minha visão, não houve nenhum debate, discussão de ideias ou propostas para a cidade entre os candidatos”, escreveu. “Debate não ganha nem muda voto, muito menos na TV.”
Após refletir, passei a concordar parcialmente. A minha supervalorização da televisão talvez (ou certamente) esteja contaminada pelo romantismo de quem ainda prefere a velha tela diante do sofá do que a navegação on-line e na crença da ampla repercussão dos programas do horário eleitoral.
Por outro lado, os debates podem ter sido decisivos para a queda de Datena. Como veterano das câmeras, esperava-se dele um show de oratória e carisma, uma aula de improviso, o domínio sobre os concorrentes à prefeitura.
O que vemos é um jornalista experiente fora de seu território, desconfortável em dividir os holofotes e incapaz de reagir às artimanhas de quem se apresenta na TV pensando em TikTok, Instagram, Facebook e Shorts do YouTube.
“Os tempos são outros, das redes sociais, sem volta para a TV aberta!”, alertou Azanha na DM. Depois dessa, vou ensaiar umas dancinhas para postar nos meus perfis.