Alexandre Herchcovitch diz que teve de ser a noiva em formulário de casamento
A possibilidade de duas pessoas do mesmo sexo se casarem juridicamente no Brasil abriu as portas para milhões de homossexuais conquistarem direitos até então disponíveis apenas para casais heterossexuais. Mas alguns detalhes foram esquecidos ao longo do processo. Foi o que contou o estilista Alexandre Herchcovitch, convidado do Tas ao Vivo desta quarta-feira (4), em entrevista concedida a Marcelo Tas nos estúdios do Terra, em São Paulo.
"Foi ok o processo todo, mas aconteceram algumas coisas engraçadas. Porque, quando você vai assinar o formulário no civil, tem lá escrito noivo e noiva. Ainda não tem noivo e noivo. E eu fui a noiva", se divertiu o estilista, um dos principais responsáveis pela popularização de sua profissão no País, cuja carreira completa duas décadas neste ano. "Achei engraçado isso. Mas é uma coisa que poderia mudar, né?"
Herchcovitch se casou com o designer Fabio Souza em uma cerimônia fechada, para 70 convidados, mas amplamente divulgada pela mídia, no dia 27 de julho. Os dois, que namoraram por seis anos, já moravam juntos antes da cerimônia, mas decidiram oficializar o relacionamento tão logo a lei passou a lhes permitir isso.
"Mas eu me considero uma pessoa casada desde o momento em que percebi que ele era a pessoa para eu me casar. E isso foi lá no começo", disse o estilista, conhecido como uma pessoa bastante séria e reservada, que garante ter tido apenas dois relacionamentos sérios antes do atual.
Apesar de comemorar os direitos adquiridos, Herchcovitch ainda tem ressalvas em relação à forma como as pessoas classificam a vida individual de cada um. Para ele, o ideal mesmo seria derrubar todos os rótulos vigentes.
"Acho que as pessoas podiam parar de julgar os gêneros que a cada um escolhe para namorar, casar. A gente deveria ser livre para se apaixonar tanto por homens quanto por mulheres. É algo que penso de forma romântica", disse, exemplificando. "Eu já fiquei com várias mulheres, na adolescência, na pré adolescência. Só nunca cheguei a me apaixonar por uma mulher."
A bem-sucedida carreira também foi assunto no programa. Com uma marca própria que desenvolve aproximadamente 1500 produtos, entre roupas, acessórios e até linha de cama, mesa e banho, Herchcovitch construiu uma força com seu nome sem precedentes para um nome da área no Brasil. Se antigamente estilistas eram vistos como pessoas esnobes, que só desenhavam peças com exclusividade para ricos e famosos, hoje eles se tornaram acessíveis, com foco em estilos dos mais variados - ou, como define Herchcovitch, "democráticos".
"Não acho que exista um antes e um depois de mim. Seria muita pretensão pensar assim. Mas o que ouço de algumas pessoas é que, da maneira como apareci, com a vontade que eu tinha de mostrar o meu trabalho, isso deu um incentivada para as pessoas decidirem seguir a carreira de estilista. Isso eu tenho certeza que aconteceu", destacou.
"A profissionalização da moda no brasil começou a acontecer meio quando eu comecei, lá no início dos anos 1990, que foi no momento do surgimento das semanas de moda. Isso mostrou para as pessoas que o estereótipo do estilista, aquele cara que só fazia roupa de festa e para a alta sociedade, com um jeito superior de falar e se comportar, já não é mais uma verdade, é uma coisa que foi se perdendo. Existe, sim, uma maneira de fazer roupa como a categoria em que eu me enquadro, que é a de roupa para todo o tipo de gente."