Alice Marcone desabafa sobre relação com o mundo da moda: 'Muito preconceituoso'
Em entrevista à Contigo!, Alice Marcone relembra carreira de modelo e revela desafios em apresentar o Born To Fashion, reality estrelado por modelos trans
Alice Marcone é dona de uma carreira diversa e hoje é conhecida por trabalhos como roteirista, atriz, cantora e apresentadora, mas a artista multifacetada também já passou por passarelas e tem um passado com o mundo da moda. Em entrevista à Contigo!, ela relembra parte dessa trajetória e desabafa sobre a relação com o mercado fashion: "Muito preconceituoso", declara.
Carreira de modelo
Antes de ser reconhecida pelo talento no audiovisual e na música, Alice iniciou sua jornada como modelo em 2016. Apesar de ter desfilado e participado de campanhas publicitárias, ela se distanciou do mercado da moda após enfrentar barreiras impostas por preconceitos relacionados à sua identidade de gênero.
"Acabei me afastando do mercado por achá-lo muito preconceituoso e violento comigo por causa da minha identidade de gênero. Em 2018, comecei a trabalhar com audiovisual, como atriz e roteirista, onde me senti muito mais acolhida e com muito mais oportunidades", comenta.
A carreira de modelo ficou em segundo plano, mas Alice se reaproximou do meio ao ser convidada para roteirizar o Born To Fashion, reality show brasileiro focado em jovens trans na busca por conquistar as passarelas. "Fiquei muito grata com esta oportunidade, pois, com o programa, eu poderia endereçar diversas questões que me fizeram sair do mercado da moda e tentar transformá-las através do entretenimento e da representatividade de novos corpos neste meio", conta a artista que, posteriormente, foi convidada para apresentar a segunda temporada do reality.
Mais que um reality
Para a artista e apresentadora, o Born To Fashion não só coloca modelos trans no centro dos holofotes, mas também impulsiona reflexões importantes sobre inclusão e diversidade no mercado da moda e do entretenimento. Um impacto vai muito além das telas e passarelas.
"Com a grande absorção de participantes do reality para o mercado, acho que cumpri meu propósito, e acho que mantemos este legado com a segunda temporada, trazendo agora, também, a visibilidade para as identidades dos transmasculinos que querem ocupar este mercado", reflete ao apontar algumas mudanças na nova temporada do programa, que até então era protagonizado apenas por mulheres trans.
Alice destaca o papel transformador do reality na vida dos participantes e do público: "O programa ajuda a sensibilizar quem assiste com a humanidade, a potência, a criatividade e a beleza de pessoas trans, levando a uma maior aceitação do público geral sobre a comunidade trans. Além disso, ele apresenta diversos novos talentos ao mercado e muitos têm sido absorvidos".
As pautas e discussões presentes nos episódios repletos de moda e glamour, para Alice, vão muito além do superficial. "Com certeza também ajudam a gerar reflexões para que quem trabalha com moda possa pensar como ser mais inclusivo e diverso", pontua.
Desafios de um novo papel
Além de ser roteirista do programa, Alice assumiu o papel de apresentadora, uma função que exigiu uma adaptação cuidadosa. "Acho que ser roteirista do programa me ajudou muito a ter consciência sobre como apresentá-lo e conduzi-lo. A presença em cena, a facilidade em decorar texto e seguir um script com certeza foram habilidades de atriz que me ajudaram como apresentadora. Na primeira temporada, acho que eu ainda estava muito crua, mas na segunda temporada pude desempenhar a função com ainda mais preparo e consciência", relata.
Alice também divide o comando do reality com Laís Ribeiro, top model brasileira que traz uma nova dinâmica à apresentação. "Laís é uma das pessoas mais amáveis e queridas que conheço, além de extremamente competente e profissional. Com ela, aprendi muito sobre como oferecer escuta e espaço para os participantes, sobre generosidade e evidentemente, sobre como ser uma modelo melhor", conta com admiração.
A relação da artista com a moda, conturbada pela violência e preconceito, foi ressignificada. Hoje, Alice a vê como "ferramenta para a expressão da arte e da subjetividade". "Quero seguir lutando para que este mercado seja cada vez mais diverso", conclui.
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