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Andrea Ramos: a força de quem nasceu para ser Disrupdiva

Ao podcast Vale do Suplício, o CEO e fundadora da startup fala sobre inclusão de minorias e washing no ambiente corporativo

19 mai 2023 - 09h47
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Foto: Reprodução

Talvez seja por causa da pinta naturalmente desenhada um centímetro acima do lábio superior direito. Quem sabe pelo par avantajado de olhos verdes, emoldurados daquele jeito agateado com auxílio do delineador preto. Ou seria por causa dos cabelos loiros? A semelhança física entre as duas pode até chocar, mas o que realmente faz com que Andrea Ramos se identifique com sua musa inspiradora é a demonstração inequívoca de poder e feminilidade de Madonna. Poder e feminilidade que vão bem no mundo do entretenimento e da arte, que são arte e necessidade no universo dos negócios e do empreendedorismo. Esse é o elo que norteia a startup Disrupdiva. 

"Foi a forma que eu criei de lembrar que a mulher pode pensar na cadeira de tecnologia, de liderança, de poder. Minha iniciativa é romper padrões dentro das companhias, e levar não só a mulher, mas toda a diversidade para o protagonismo", contou Andrea. A empresa, que promove palestras e presta serviços de consultoria e construção de trilhas de integração para o mercado corporativo, foi campeã no prêmio Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEP) da Organização das Nações Unidas em equidade de gênero e rendeu a Andrea o título Empreendedora Destaque do Prêmio Forbes 2020, além de participação no Women in Tech do Insper e uma cadeira no conselho de administração da Stemark.

As declarações de Andrea Ramos foram dadas ao podcast Vale do Suplício (**). Ouça no Spotify.

Os 30 mil seguidores da empreendedora-influenciadora são alimentados com trechos de palestras, memes, pensatas sobre gestão e inclusão, além de fotos e vídeos de Andrea em seus momentos de lazer, seja jogando minigolfe, seja empunhando o tamborim do bloco de carnaval no qual toca. Essa simbiose entre a diva e a pessoa, a personagem e o ser humano, a mulher e a gestora, não são à toa. Andrea faz escárnio sobre as regras que separam as mulheres em caixas - a divertida, a sensual, a amiga, a para casar, a (em raríssimos casos) a líder. Confunde a cabeça de quem quer rotulá-la e desenhar limites para suas ações. "Se eu, com 41 anos, tomei uma atitude de sair com uma hot pant no meio da rua no bloquinho de Carnaval, é porque eu consegui fazer isso, porque isso me faz feliz. Do mesmo jeito que eu consigo entrar num conselho que só tem homem e me sentir bem num ambiente de poder. Porque se alguém quiser me parar, eu não vou deixar." 

Mas não foi sempre assim. Andrea, sim, parou. 

Antes de criar a Disrupdiva, a publicitária de formação e autodidata em finanças construiu sua carreira no masculinizado setor financeiro, passando por cargos de liderança em bancos como HSBC, Santander e Itaú. Mais de uma vez ouviu que o banco no qual trabalhava era feito de lindas mulheres e de homens competentes. Furou as bolhas masculinas, nas quais o chefe sempre ia almoçar com os colaboradores homens e deixava as poucas mulheres, com as parcas contas com as quais trabalhavam, nos cantos do escritório, como se apenas preenchessem espaço. Juntou seu arsenal de conhecimento de futebol para se infiltrar nas rodinhas de conversa. O espaço que viria naturalmente caso, nas palavras dela,  ela tivesse bigode, teve de ser conquistado. Usou da força. Da inteligência. Da sagacidade. Forçou. Impôs. Conquistou. E, finalmente, cansou.

O burnout veio em 2019 e, mais do que uma parada na carreira corporativa, cobrou uma autorreflexão de Andrea. "Em muitos períodos eu reproduzi que não tinha diferença entre homem e mulher, porque como eu era a mulher que batia meta, que me destacava, que tinha aparência que as pessoas queriam em determinada roda, era conveniente que eu estivesse ali. Tinha um privilégio ali instaurado, e eu não tinha noção daquele privilégio. E para eu habitar naquele ambiente, não perder o privilégio, o que eu tinha que fazer? Reproduzir aquela mulher que é meio homem para permanecer naquela cadeira. E o pior: e muitas vezes exercitar a abelha rainha, a mulher sozinha entre um monte de homem. Esse é um momento que você tem que se olhar no espelho e falar: ou você vai reconhecer que está vacilando com a sua categoria ou vai virar essa mulher pelo resto da vida, até o dia que você tomar um chapéu, e vai cair mesmo e não vai ter ninguém para te levantar."

Andrea se apoiou na Disrupdiva, que começou como um página no Instagram, para se levantar. Lembrou do direito de ser livre ensinado pela mãe, que não a repreendeu quando foi chamada à escola para explicar por que a menina de 4 anos se fantasiava de Madonna. E agora, trabalha em prol de levar essa liberdade de expressão e pertencimento a outras mulheres e minorias. Não pense você que o caminho como empreendedora é mais fácil do que o de colaboradora. O universo de startups, garante, é tão machista quanto o corporativo, como não poderia deixar de ser. Há ainda empresas que a procuram para cumprir as metas de RH, querendo empunhar a Disrupdiva como um belo troféu que gere engajamento para, no dia seguinte, tudo voltar ao normal. Experiente, ela e sua equipe não se importam. Entra pela porta que foi aberta, com seu batom vermelho, sapatos de salto alto e dá início à revolução naquele microcosmos. Com elegância e firmeza, deixa clara a responsabilidade que a empresa tem se quiser apenas fazer oque o mercado chama de "washing". Não briga. Jamais tentou interpretar novamente o arquétipo da liderança feminina masculinizada. Acima de tudo, não abre mão do propósito que a resgatou: o de romper padrões como uma diva. 

(*) Adriele Marchesini é jornalista especializada em TI, negócios e Saúde com quase 20 anos de experiência. Depois de passar por redações de veículos como Estadão, Infomoney, ITWeb e CRN Brasil, cofundou as agências essense e Lightkeeper,  as quais já ajudaram mais de 80 empresas na construção de conteúdo narrativo multiplataforma para negócios. É coâncora do podcast Vale do Suplício. 

(**) Criado pelas jornalistas Adriele Marchesini e Silvia Noara Paladino, o podcast Vale do Suplício nasceu como uma contracultura aos empreendedores de palco - os típicos CEOs de MEI, escritores de textões no LinkedIn - para contar a história de empreendedores que falam pouco, mas fazem muito. Ouça no Spotify.

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