Ator encontrado morto teve sonho interrompido pela pandemia
Luiz Carlos Araújo se manteve ativo nas redes sociais enquanto aguardava o retorno presencial aos teatros
Encontrado morto em seu apartamento no sábado (11), dias após não responder ao contato de amigos, Luiz Carlos Araújo não conseguiu realizar o último grande projeto profissional. Ele era protagonista de ‘Lilás - Um Musical em Tons Reais’, mas o espetáculo nunca estreou.
A temporada estava marcada para começar em maio de 2020, em São Paulo. Foi cancelada semanas antes por conta da quarentena imposta pela pandemia de covid-19. A equipe manteve ensaios on-line e Luiz Carlos se dedicou à divulgação. Fez lives, mostrou trechos de cenas, concedeu entrevistas a portais culturais e participou de programas de TV para falar da produção.
Isolado em casa, ele compartilhou com seus seguidores no Instagram a construção do personagem Miguel, um conceituado artista plástico que vive conturbada história de amor com uma bailarina cadeirante chamada Liz, papel de Ligia Paula Machado. O musical com novos arranjos para 15 canções de Djavan abordaria a inclusão de pessoas com mobilidade reduzida, depressão e drogas.
A incerteza em relação à reabertura dos teatros fez o ator lamentar o inédito impedimento de atuar. “Sim, saudade do palco, das famílias que construo a cada espetáculo, a cada trabalho, do público (ah, o público!!), de construir personagens distintos e tão próximos a mim, de cantar, me movimentar, falar e fazer refletir”, postou.
Artista com forte consciência social, Luiz Carlos Araújo usava a rede social para lançar alertas. Fez várias postagens em defesa dos protocolos contra a covid-19 (ele tomaria a segunda dose da vacina no início de outubro). Há 1 ano, apoiou a campanha ‘Setembro Amarelo’ de prevenção do suicídio. “É preciso conscientizar para prevenir, para salvar vidas. Radicalismo nenhum, mas é sempre bom lembrar: nossas escolhas, nossas consequências (meu mantra)”, escreveu.
Na época do ‘Big Brother Brasil 21’, o ator que participou de várias novelas e séries reagiu à hostilidade contra Karol Conká: “Não ter o discernimento do que é vida real e um reality que precisa de vilões e mocinhos, é preocupante”, ponderou. “E nós, aqui fora, mais amor, empatia, compaixão... e potaqueoparou, parar com essa bobagem de cancelamento”. Manifestava-se também contra o racismo e pelo respeito à comunidade LGBTQIA+.
Em agosto do ano passado, o artista apareceu em matéria do ‘Jornal da Band’ sobre voluntários que levavam música a hospitais e asilos nos piores momentos da disseminação do coronavírus. Ele se orgulhava de usar o talento vocal para entreter quem sentia dor, solidão e medo.
E assim, entre a expectativa pela volta aos palcos e a ação humanitária, a interação virtual com amigos e a ansiedade sobre o futuro, Luiz Carlos Araújo viveu os últimos meses. A polícia apura as circunstâncias de sua morte. O velório restrito e o enterro com lágrimas e aplausos aconteceram na segunda-feira (13). Ele completaria 43 anos no dia 22 de outubro.