Ator ganhou 25 kg para viver Faustão: “Senti gordofobia quando estava mais magro”
Herton Gustavo Gratto revela a pressão de interpretar um artista tão popular e imitado no seriado ‘O Rei da TV’
Atores gostam de transformações físicas impostas por personagens desafiadores. Uma das mais sacrificantes é ganhar ou perder grande quantidade de peso.
Herton Gustavo Gratto aceitou passar por isso. Foi de 95 kg a 120 kg para interpretar Fausto Silva na série do Star+ sobre Silvio Santos, ‘O Rei da TV’.
Em conversa com o Sala de TV, o artista visto em 2018 na novela ‘Orgulho e Paixão’, da Globo, revela a luta contra a balança e comenta a gordofobia disfarçada de elogio.
Não teve receio de desenvolver problemas de saúde ao ganhar tanto peso?
Eu tenho uma relação de intimidade com a perda e o ganho de peso. Já vivi esse processo algumas vezes na vida. O famoso efeito sanfona. Quando fui convidado para o teste para esse projeto estava num momento pessoal muito focado. A reeducação alimentar associada à atividade física diminuía meu peso e minhas medidas. Diante da confirmação que eu havia conquistado o papel, decidi por livre e espontânea vontade, sem que ninguém me impusesse isso, deixar a dieta rígida de lado e reduzir a intensidade dos meus treinos, além de aumentar o consumo de carboidratos.
Como encarou a mudança física?
No meu processo de construção, ganhar mais peso e tamanho fisicamente iria contribuir para o tamanho e o peso interno que eu acredito que Faustão tenha. Não tive receio em desenvolver nenhum problema de saúde porque todos os meus exames estavam em dia. Tenho facilidade de ganhar peso, então, em menos de dois meses já havia atingido a minha meta. Mas esse processo foi individual e particular, não deve servir de incentivo a ninguém que queira ganhar peso fazer o mesmo.
Logo depois começou a eliminar os quilos adquiridos?
Após gravar a série, realizei outro projeto, o curta ‘A pele que não vestia’, que tem como um dos temas a gordofobia. O protagonista é um homem gordo. Atualmente, me preparo para outra personagem, agora no teatro, e decidi novamente por conta própria que quero conceber outro corpo para esse novo desafio. Aquele peso que ganhei para interpretar o Faustão já eliminei. Em cena, estava com 120 quilos. Estou com 95 novamente. Agora busco uma transformação inversa. Ao invés de engordar, vou secar.
Notou a gordofobia na sociedade ao circular com sobrepeso?
Sempre convivi com o efeito sanfona. Ser gordo nunca foi um problema para mim. Busquei acreditar que meu potencial não estava atrelado ao número da minha calça, apesar do sistema tentar insistentemente me convencer do contrário. A gordofobia sempre esteve presente, mas curiosamente eu a percebia com mais força quando estava mais magro. É como se algumas pessoas gordofóbicas me aprovassem a partir do momento que meu corpo se aproximava do tamanho que elas considerassem o ideal. Então eu era alvejado com comentários do tipo: “Nossa, que bom que você emagreceu, tem o rosto tão bonito, era um desperdício continuar com tanto peso”.
Conhece Faustão pessoalmente?
Ainda não o conheço. Torço para que esse encontro aconteça. E espero que ele consiga capturar todo o respeito e a admiração com que eu tomei a liberdade de dar vida a ele na ficção.
Interpretar um personagem real sempre gera ao ator comparações e cobranças. Temeu ser criticado?
Tive muito medo. Primeiro porque o Faustão não é qualquer personagem real. Ele é ‘o Faustão’, que faz parte da vida de milhões de famílias brasileiras há décadas. Um ícone. Segundo, porque nunca me achei parecido com ele em nada. Nunca cogitei a possibilidade de interpretá-lo. E abro um parêntese para enaltecer o trabalho incrível da produtora de elenco Alê Tosi, que teve a sensibilidade de enxergar o Faustão em mim antes de eu mesmo enxergá-lo. Terceiro, porque existem artistas incríveis que o imitam magistralmente. Então senti um frio na barriga, tive medo de ser comparado não só com ele, mas com os seus imitadores. No entanto, esse medo durou pouco tempo porque escolhi investir na potência, em capturar a sua essência ao invés de tentar imitá-lo, coisa que nunca conseguiria fazer porque não sou um imitador. Aliás, é uma arte que muito admiro. Me orientaram desde o primeiro teste que eu não precisaria imitá-lo e sim imprimir a sua energia.
Como avalia a reação do público?
O retorno de quem assiste é o melhor possível. Dizem que estou muito parecido, estou o Faustão todinho. E eu também fiquei orgulhoso do resultado. Acredito que dei conta do recado.
Você atua, produz, escreve... Fazer tantas atividades é um desejo pessoal ou uma maneira de sobreviver no instável meio da arte?
É uma necessidade fisiológica. Na verdade, eu atuo, escrevo, componho e tenho engatinhado na produção dos meus projetos seguindo a máxima de que não posso ficar esperando o telefone tocar me convidando para uma oportunidade. Tenho que ser a minha oportunidade. Tenho interesse em me aproximar com mais propriedade da música como o Alexandre Nero, que além de ser um ator incrível tem um trabalho musical autoral que me inspira muito. Não se surpreendam se me encontrarem daqui a pouco na esquina de um Deezer ou um Spotify.
Outros projetos à vista?
Sou um dos roteiristas da segunda temporada da sitcom ‘A Sogra que te pariu’, na Netflix, estrelada pelo incrível Rodrigo Sant’anna. Estreio ainda nesse semestre, no Rio de Janeiro, a peça ‘Ensaio sobre a perda’, com direção de João Fonseca. No elenco estão também os atores Hamilton Dias e André Celant. Logo lançarei o meu segundo livro de poesia, ‘Eu sou muito bonito pra sofrer de amor’.