Atriz mais injustiçada no Oscar recusa o glamour e a ostentação de Hollywood
Com 50 anos de carreira e atuações brilhantes no currículo, Glenn Close tem ligação familiar com o Brasil
No primeiro fim de semana de abril, enquanto a maioria das estrelas do cinema norte-americano estava isolada em mansões de Los Angeles, Glenn Close enfrentou o frio de 10° em Nova York como voluntária de um grupo que arrecada comida para pessoas carentes.
Tal atitude revela o estilo de vida de umas das maiores atrizes de todos os tempos. Em março, ela completou 77 anos de idade e celebra meio século de carreira desde a primeira apresentação profissional no teatro.
Em casa, guarda dezenas de prêmios, incluindo troféus Tony, Globo de Ouro, Critic Choice, Satellite, Spirit Awards e Screen Actors. Mas não possui nenhum Oscar, apesar das oito indicações.
“A Academia não gosta dela”, dizia o saudoso crítico de cinema e apresentador da premiação Rubens Ewald Filho. Difícil compreender o motivo de a maioria dos votantes não ter reconhecido atuações irretocáveis de Glenn.
Entre as melhores, a da obcecada Alex em ‘Atração Fatal’ (1987), da sórdida Marquesa de Merteuil em ‘Ligações Perigosas’ (1989), do oprimido transexual Albert Nobbs no longa homônimo (2011) e da abnegada Joan em ‘A Esposa’ (2017).
Ok, havia outras atrizes com interpretações incríveis e também merecedoras, entretanto, a Academia já poderia ter reconhecido o talento e a contribuição artística de Glenn Close com um Oscar honorário, que serve, entre outras coisas, exatamente para corrigir injustiças.
Basta pesquisar o histórico para verificar que alguns atores e atrizes nada brilhantes e com incontáveis desempenhos esquecíveis receberam a honraria. Passou da hora de a grande artista, com quase 100 trabalhos no currículo, ser aplaudida de pé na maior festa da sétima arte.
Muita gente diz que ela é melhor do que Meryl Streep (três Oscars) e está no mesmo nível de excelência de Katharine Hepburn (a recordista com quatro estatuetas do homenzinho dourado).
Famosa pela despretensão, Glenn Close minimiza a falta do prêmio em sua estante. “Você está entre as cinco pessoas homenageadas pelo trabalho que fez com seus colegas. O que é melhor do que isso?”, disse, revelando-se realizada com as indicações.
Mostra-se a antítese do estereótipo da estrela de Hollywood. Não é adepta de cirurgias plásticas, posta fotos descabelada e sem maquiagem, veste-se com roupas comuns no dia a dia e, quando não está filmando, gosta da rotina de dona de casa.
Pensando bem, ela não precisa de um Oscar de consolação. Talvez seja melhor continuar no grupo de artistas gigantescos esnobados pela Academia, a exemplo de Natalie Wood, Richard Burton, Montgomery Clift, Marlene Dietrich, Ava Gardner, Ian McKellen, Annette Bening, Ralph Fiennes...
Glenn Close tem uma única filha, Anne, casada com o executivo Marc Albu, de origem brasileira. Ela gosta do trabalho de Fernanda Montenegro. “Não faz sentido”, disse ao analisar a derrota da brasileira no Oscar de 1999, quando concorria pela atuação da escrevedora de cartas Dora em ‘Central do Brasil’.