Autora aborda esclerose múltipla, doença de algumas famosas
Marina Mafra faz da luta pessoal contra a doença a trama central do livro 'De repente, Esclerosei'
O que você faria se recebesse o diagnóstico de uma doença neurológica autoimune sem cura? Em 2012, aos 24 anos, Marina Mafra viveu essa situação. Inicialmente, fechou-se para o mundo. O autoisolamento mudou após ler 'A Culpa é das Estrelas', de John Green, romance focado em jovens com problemas graves de saúde.
Tocada por esperança, Marina passou a escrever um diário virtual. Foi terapêutico. Leituras e experiências a fizeram escrever 'De Repente, Esclerosei', “uma história de ficção sobre a realidade da esclerose múltipla”, lançado pela editora Martin Claret.
Nesta segunda-feira (30), Dia Nacional de Conscientização Sobre a Esclerose Múltipla, a autora vai participar de uma live a respeito do tema às 20h no perfil de Instagram @editoramartinclaret.
Marina Mafra conversou com o blog.
O quanto o livro é autobiográfico?
Acredito que todo livro carrega um pouco de cada autor. No meu, além do que posso ter deixado escapar dos meus gostos ou vivências, o diagnóstico da personagem é como aconteceu comigo, mas em um enredo diferente, uma história de vida diferente, o que faz com que ela não seja eu.
Escrever sobre a esclerose múltipla teve um efeito terapêutico em sua vida?
Sem dúvida. Contar o que aconteceu comigo, o que eu senti, mesmo através de uma personagem, foi como desabafar. Pela primeira vez contei tudo, sem precisar resumir. Embora os personagens sejam fictícios, as situações vividas foram reais. Depois de pronto, o livro me deu a chance de enxergar as coisas de uma maneira diferente. Amigos e parentes me procuraram para se desculpar por atitudes e também contar o motivo de agirem daquela maneira. Foi perdão e elaboração de mágoas por todos os cantos. Tive a certeza de que o óbvio para mim, nem sempre é para o outro.
Muitos artistas são portadores de esclerose múltipla. Entre eles, a atriz Claudia Rodrigues. Ela compartilha todos os momentos da luta contra a doença. O que acha dessa superexposição voluntária?
É uma forma linda e corajosa de conscientizar. Com certeza ajuda muito.
As atrizes Ana Beatriz Nogueira e Selma Blair falaram abertamente sobre como é assustador conviver com a doença. Esses exemplos de famosas ajudam de alguma maneira no enfrentamento da esclerose?
É motivador ver pessoas que admiramos superando medos que também temos.
Em 2015, a Globo foi criticada pela abordagem superficial da esclerose múltipla por meio do personagem Romero (Alexandre Nero) na novela 'A Regra do Jogo'. A televisão e a mídia em geral deveriam falar mais do tema?
Sempre serei a favor de se falar mais, pois toda ajuda é bem-vinda. Ouvi algumas vezes o termo "esclerosada" associado a uma pessoa idosa, mas a maioria dos casos de esclerose múltipla é de pessoas com menos de 40 anos. Acho que as informações aumentaram muito desde que eu tive o diagnóstico há nove anos. Fico feliz de acompanhar.
A atriz Christina Applegate disse ter levado um susto ao receber o diagnóstico e precisou do apoio de parentes e amigos para se manter firme. O que você diria a alguém que acaba de receber a informação de que está com a doença?
Não afaste as pessoas, diga que precisa do seu tempo para elaborar tudo, mas que deseja que elas fiquem por perto. Procure informações confiáveis. Gosto de recomendar as ONGs 'ABEM' e 'Amigos Múltiplos pela Esclerose'. A medicina avança a cada momento para lutar pelo nosso bem-estar. Viva um dia de cada vez, aproveitando os aprendizados dessa nova fase e agradecendo por estar vivo. As coisas vão mudar e você vai se ajustar. Chore quando estiver muito difícil, mas não deixe que a tristeza dure muito. Tudo que vem para nós é por um bom motivo que, às vezes, só entendemos a longo prazo.