Beleza Fatal: novela levanta debate sobre o impacto da estética digital e padrões de beleza
Sucesso no streaming e TV, Beleza Fatal levanta debate importante; especialistas comentam a transformação da estética e padrões de beleza
Furou a bolha! Sucesso no streaming e na TV aberta, a novela Beleza Fatal, escrita por Raphael Montes, ganhou o coração dos brasileiros e terá transmissão ao vivo do último capítulo na próxima sexta-feira (21). A produção, que conta com artistas como Camila Pitanga, Giovanna Antonelli, Camila Queiroz, Caio Blat e Marcelo Serrado, também tem levantado importantes debates sobre os padrões de beleza na sociedade atualmente.
Mudanças na estética
A digitalização da estética tem remodelado a forma como enxergamos beleza, o sucesso e até a produtividade. Redes sociais, filtros, algoritmos e padrões visuais promovidos por influenciadores e marcas não só impactam a autoestima das pessoas, mas também influenciam decisões de consumo, estratégias empresariais e até políticas corporativas de diversidade e inclusão.
O retrato da sociedade atualmente é mostrado, de forma caricata, pelas personagens de Beleza Fatal. Na novela, disponível no streaming Max e na Band, é possível notarmos como padrões de beleza transformam até mesmo as relações. A questão central que se mantém é: estamos nos adaptando a um novo padrão ou nos tornando reféns dele? Diante deste cenário, especialistas debatem sobre o tema com diferentes pontos de vista.
Digitalização da estética
Luciana Lancerotti, ex-CMO da Microsoft e fundadora da Gestão e Design de Impacto, ressalta que a digitalização da estética potencializou padrões de beleza que são impostos há anos - principalmente para mulheres. "Cintura grande com quadril largo, seio grande, seio pequeno, nariz grande, nariz pequeno, olhos levantados… ao longo das décadas, sofremos essa pressão, e com a digitalização isso se intensificou, impondo a necessidade de estarmos constantemente dentro dos padrões", refletiu.
"Por isso, gosto de refletir sobre como nós, principalmente as mulheres, podemos influenciar essa questão, valorizando umas às outras e deixando de perpetuar padrões. Precisamos lembrar que a estética individual, o padrão individual, é a maior perfeição que podemos buscar", ressaltou ela.
Consumo e marcas
Ângelo Vieira Jr., especialista em marketing, inovação e CX, fala sobre como os padrões visuais digitais afetam a percepção de marca e a experiência do consumidor atualmente. "No mundo real, essa transformação acontece por meio dos algoritmos, que influenciam tanto na percepção de marcas, quanto nas decisões de compra, criando novos padrões", explicou.
Segundo ele, plataformas como Instagram e TikTok utilizam até mesmo inteligência artificial para moldar o que a sociedade considera "desejável". Para marcas de beleza, moda e lifestyle, isso significa que as tendências não são mais apenas criadas por designers e estilistas, mas cada vez mais determinadas pelas próprias estratégias de conteúdo. "O efeito prático? Produtos, campanhas e até influenciadores começam a se parecer cada vez mais uns com os outros, criando um efeito de homogeneização. E o resultado cascata não para entre eles, a influência sobre cidadãos comuns se dá de forma massificada provocando contrastes a autocobrança da vida real se parecer com os recortes algorítmicos", pontuou.
Autoimagem
A autoimagem acaba sendo adaptada a partir das experiências vividas por cada ser humano. O ambiente de trabalho, portanto, tem um papel importante nessa percepção de si mesmo. Thais Requito, especialista em desenvolvimento humano e produtividade sustentável, comenta sobre o tema.
"Na vida adulta, para muitas pessoas, o ambiente de trabalho é um dos lugares onde passamos mais tempo e nos comparamos com os outros, observando-os e, com base nisso, construindo uma imagem de nós mesmos", começou. "Pensamos se somos competentes ou se não somos tão competentes quanto os demais, se somos bem vistos ali, se temos uma imagem esteticamente alinhada ou não com aquele ambiente em que estamos inseridos. Nesse sentido, uma autoimagem mais negativa é a percepção de que 'eu não sou bom o bastante' ou de que 'nesse ambiente, eu não sou bem aceito, não pertenço, ou não há espaço para uma pessoa que tem o cabelo como o meu, o corpo como o meu ou que se veste como eu'. Isso tudo pode afetar a autoconfiança de uma pessoa e reduzir sua performance", acrescentou ela.
A especialista ressalta que as redes sociais têm um papel fundamental na construção de padrões estéticos. Por isso, é fundamental que as empresas promovam ambientes seguros para todos. "Se o ambiente em que estou inserido não abre espaço para que eu possa me expressar, me vestir e ser quem sou - inclusive ser vulnerável quando estiver me sentindo inseguro -, se não há essa possibilidade de me expressar e buscar ajuda, isso só fortalece o ciclo de comparação, de baixa autoestima, de piora na performance e de uma saúde mental mais sensível e frágil", falou.
Beleza e identidade
Atualmente, com filtros, edições e procedimentos cada vez mais acessíveis, a busca por um padrão estético que não existe no mundo real tornou-se uma questão. Brunna Dolgosky, empresária e psicóloga, ressalta que muitas pessoas não conseguem se enxergar com naturalidade quando estão imersas em ambientes de extrema valorização da aparência.
"É fácil perceber na atualidade, como nunca antes na história da humanidade, mulheres cada vez mais viciadas em procedimentos estéticos, sempre acreditando que ainda falta algo para chegarem ao idealizado. Esse ciclo gera uma distorção da autoimagem, onde o espelho nunca reflete uma versão satisfatória de si mesmo", refletiu. "A diversidade de traços, que sempre foi uma marca da beleza, na atualidade, está sendo apagada por uma busca incessante por um rosto "perfeito" que, ironicamente, está ficando cada vez mais artificial", falou.