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Brasil não mostra na Olimpíada o que sabe fazer na moda, diz historiadora

Com vivência em universidade francesa, Giulia Falcone afirma que os uniformes da delegação parecem criados para agradar ao olhar estrangeiro

27 jul 2024 - 13h53
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No barco em pleno rio Sena, na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, o uniforme dos atletas brasileiros, criado pela Riachuelo, até pareceu adequado ao ambiente náutico. Quem não deve ter gostado muito foi outra patrocinadora, a Havaianas, que viu seus chinelos não serem mostrados na imagem da TV. 

A historiadora Giulia Falcone, doutoranda na USP com estágio de pesquisa na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris, e professora do curso 'História da Moda: Origens, Produção e Consumo' da Casa do Saber, aponta os problemas de design e produção que fizeram os trajes oficiais dos competidores brasileiros gerar tantas críticas e memes.

A gente projetou nosso ideal de valores nos uniformes da Olimpíada, conclui Giulia Falcone
A gente projetou nosso ideal de valores nos uniformes da Olimpíada, conclui Giulia Falcone
Foto: Reprodução

Afinal, os uniformes são tão ruins como a internet e alguns estilistas afirmam? 

A questão não é a gente olhar só se o uniforme é bom ou ruim, mas se gerou tanta crítica é porque o público geral e os especialistas não se viram representados no design. Cabe também tentar destrinchar o que foi falado peça a peça, até para ter uma leitura mais precisa e tentar identificar como esse uniforme poderia ter sido mais representativo do que a gente espera para a moda brasileira. 

Quais os pontos altos das criticadas jaquetas jeans com bordados nas costas? 

A jaqueta jeans é uma peça-chave, tanto para a gente entender o teor, a tônica das críticas, mas também para compreender quais eram as expectativas para esse uniforme produzido por uma marca de varejo, uma fast-fashion. Parece uma oportunidade perdida de valorizar numa grande plataforma internacional, como são as Olimpíadas, o nosso savoir-faire, ou seja, esse saber-fazer brasileiro, geralmente ligado a uma cultura regional, como o bordado realizado pelas mulheres de Timbaúba dos Batistas. A peça tem um pouco essa tensão entre uma produção em massa, de grande porte, como é a Riachuelo, e uma produção local, mostrada só na parte de trás do uniforme. Nosso saber-fazer tradicional ficou desvalorizado, diluído no meio dessa roupa, que não parece especial para a ocasião. 

O canal de TV francês CNews colocou o traje brasileiro entre os 20 mais bonitos. 

O uniforme ser elogiado por veículos de mídia internacionais fala muito mais de uma falta de referência do olhar estrangeiro sobre o que é a moda brasileira. Diria o mesmo dos chinelos Havaianas. Foram provavelmente incluídos também para o olhar estrangeiro. A camiseta listrada é muito mais um aceno à moda francesa do que o que a gente entende como um design, uma estampa brasileira. O look não parece pensado para agradar ao público brasileiro. A depender de usar esse uniforme, a falta de referência do que é a moda brasileira vai perdurar.

As jaquetas que provocaram discórdia: os belos bordados quase não apareceram na transmissão da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos
As jaquetas que provocaram discórdia: os belos bordados quase não apareceram na transmissão da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos
Foto: Reprodução

Reclamaram da ausência de brasilidade nos trajes. O que representaria o DNA nacional? 

Faltaram referências, essa nossa mistura, um convite às culturas têxteis com mão de obra local especializada. Penso sempre no uso das matérias-primas pela indústria da moda. Teria sido muito legal, por exemplo, o uso do algodão agroecológico. 

Parte da crítica se dá pelo apoio do dono da Riachuelo, Flavio Rocha, a Jair Bolsonaro e às pautas da direita. A moda está contaminada pelo ativismo político? 

A gente entendeu nesses últimos anos que a moda é também uma escolha política. Então, onde a gente investe nosso dinheiro, que tipo de marca a gente apoia, tem muito a ver com esse esforço de tentar criar um modo de vida coerente com nossos valores. Queremos entender as práticas dessas marcas em relação à sustentabilidade, com quais valores sociais, políticos e éticos estão associadas, e se eu quero aderir ao ideal simbólico dessa marca. Nesse momento de Olimpíada, a gente está projetando um certo Brasil nesse uniforme, representando um tipo de país nessas peças. Nossos valores também estão acoplados a esse vestuário. Por isso, desagradou a uma parcela da população.

Os chinelos de um dos patrocinadores ficaram 'escondidos' na transmissão da cerimônia de abertura
Os chinelos de um dos patrocinadores ficaram 'escondidos' na transmissão da cerimônia de abertura
Foto: Damien Meyer/AFP via Getty Images / Jogada10
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