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Cássia Kis é acusada de LGBTfobia por filha de Daniela Mercury

Márcia Verçosa de Sá Mercury entrou com uma representação criminal no Ministério Público contra Cassia Kis

28 out 2022 - 16h17
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Márcia Verçosa de Sá Mercury, filha de Daniela Mercury e Malu Verçosa entrou com uma representação criminal no Ministério Público contra Cassia Kis, atriz de Travessia, por conta de seus comentários homofóbicos feitos durante live com a jornalista Leda Nagle na última sexta-feira, 21.

"Não existe mais o homem e a mulher, mas a mulher com mulher e homem com homem, essa ideologia de gênero que já está nas escolas. Eu recebo as imagens inacreditáveis de crianças de 6, 7 anos se beijando", disse Kis.

"O que está por trás disso? Destruir a família. Destruir a vida humana? Porque onde eu saiba homem com homem não dá filho, mulher com mulher também não dá filho. Como a gente vai fazer? Se você tem um casal gay é uma coisa, quando eles querem adotar uma criança, mas e quando não tiver mais?"

Márcia foi adotada aos 13 anos por Daniela e Malu, que também acolheram outras duas meninas.

Família Mercury
Família Mercury
Foto: Reprodução/Instagram / Estadão

Confira abaixo o texto que Márcia enviou ao Estadão:

"Fiquei estarrecida ao ver as declarações homofóbicas da atriz Cássia Kiss, a quem eu respeitava como representante da arte brasileira, sempre presente no nosso cotidiano, entrando na nossa casa através das inúmeras novelas que fez durante a carreira, inclusive estando no ar diariamente atualmente na Rede Globo. Uma mulher com a visibilidade dela não pode se sentir no direito de atacar a minha família durante uma entrevista.

Ao ver a gravação em que ela ataca famílias como a minha, chorei. Ela fala que as pessoas LGBTQIAP+ destroem as famílias. Com que direito ela pode falar isso se a minha família foi justamente construída a partir de uma união homoafetiva? A adoção é um ato de amor que muda a vida de muitas crianças e adolescentes. Mudou a minha vida e a de minhas irmãs.

Eu tive a sorte de encontrar duas mulheres corajosas que não se intimidaram com os preconceitos da sociedade e decidiram adotar uma menina de 13 anos de idade, outra de 10 e a terceira na época com 1 ano. Elas nos ensinaram a importância da honestidade, do caráter, bondade e do respeito à diversidade, seja ela qual for.

As palavras de Cássia Kiss me causaram impactos psicológicos profundos e me levaram de volta ao sofrimento que senti por muitos anos antes de encontrar o amor e a estrutura que uma base familiar sólida como a minha proporciona. As palavras dela fizeram eu me sentir vulnerável e desamparada legalmente.

Como filha de um casal de lésbicas, me sinto no dever, por minhas irmãs e por toda comunidade LGBTQIAP+ que é vítima violências cotidianas, de agir para que ela seja punida no rigor da lei. Minha família merece respeito, a população LGBTQIAP+ merece respeito!

Espero que Cássia Kiss responda pelo crime de LGBTfobia e seja condenada. Só com o cumprimento da Lei conseguiremos ter nossos direitos respeitados."

Desdobramentos da denúncia contra LGBTfobia

A denúncia foi assinada pelo Pedro Martinez, advogado criminalista do escritório Martinez Jorgetto Advocacia, antigo coordenador da Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero da OAB/SP, e registrada no Ministério Público como pedido de investigação pelo crime de homofobia.

De acordo com o código penal, casos de LGBTfobia foram reconhecidos pelo STF a partir de uma aplicação da lei do racismo. Ou seja, enquanto o congresso não emite uma lei específica para esses casos, todo e qualquer crime contra LGBTfobia responde com a mesma pena e procedimento que casos de racismo, do art20.

"Pelo caso de Márcia se enquadrar como uma ação penal pública incondicionada, o Ministério Público não precisa de uma representação da vítima para atuar. Qualquer pessoa que tenha assistido a entrevista de Kis e quisesse tomar essa iniciativa de denunciar, poderia", explica o advogado Pedro Martinez.

De acordo com Pedro, a denúncia de Márcia Verçosa de Sá Mercury, filha de Daniela Mercury e Malu Verçosa foi direcionado a coordenadoria de Direitos Humanos de Minorias do Ministério do Rio de Janeiro para informar sobre as falas criminosas de Cássia Kis. Solicitando que o Ministério Público tome as devidas providências.

"Márcia se sentiu atacada com as declarações (...) por isso resolveu tomar essa iniciativa perante o Ministério. Nós recebemos hoje, 28, a confirmação com a coordenadoria de que a denuncia foi recebida e que eles fariam os encaminhamentos internos. A gente espera que seja instaurado o procedimento criminal e que a atriz responda por suas falas criminosas."

Quem mais se pronunciou

Na noite dessa quinta-feira, 27, a Globo emitiu uma nota sobre as falas de Cássia Kis, atriz da novela das nove da emissora.

"A Globo tem um firme compromisso com a diversidade e a inclusão e repudia qualquer forma de discriminação", diz o comunicado.

Nas redes outras personalidades também escreveram sobre o caso. A apresentadora Xuxa Meneghel disse: "Que decepção. Enquanto existir mundo haverá filhos pra serem adotados, pois numa relação de homem e mulher nem sempre uma gravidez é desejada".

Enquanto a atriz Lúcia Veríssimo publicou no Instagram uma foto na qual beija Kis. "Que sigamos sem hipocrisia e falso moralismo", escreveu ela.

"Tenha certeza que pais adotivos (não importa o gênero) darão o amor que estar crianças vão precisar, pra que se tornem no mínimo pessoas amadas, sem preconceitos, sem discriminação."

A cantora Ana Vilela também se manifestou. "Acredito que reprodução não seja um problema na nossa sociedade uma vez que existem, segundo o CNJ, mais de 30 mil crianças em casas de acolhimento só no Brasil. 'Iguais não reproduzem', mas adotam e amam esses abandonados. Se informa que está feio."

Estadão
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