Como era o apartamento de Jô Soares e sua rotina longe da TV
Apresentador passou os últimos anos de vida cercado de arte e convivendo com poucas pessoas
No início da década de 2000, Jô Soares recebeu uma vidente em seu programa na Globo. Curioso e, ao mesmo tempo, visivelmente receoso, ele quis saber se viveria muito. “Vai passar dos 80 anos”, previu a mulher. O apresentador reagiu aliviado, a plateia riu.
Viveu 84 anos, 6 meses e 20 dias. Uma existência longa e produtiva. Carioca, o humorista escolheu morar em São Paulo. Passou as últimas décadas em um prédio de esquina na Praça Esther Mesquita, no aristocrático bairro de Higienópolis.
Ocupava dois andares (o edifício tem apenas 1 apartamento por andar). Em um deles, a moradia. No outro, um amplo e moderno escritório e seu ateliê de artes plásticas.
Ali passava a maior parte do tempo. Lia, escrevia, desenhava, assistia à filmes e conversava com amigos ao celular. A decoração misturava estilos: de uma poltrona feita com bichos de pelúcia dos designers Irmãos Campana a uma tela de um revólver estilizado do artista da pop art Roy Lichtenstein.
Havia também detalhes clássicos, como sofás brancos, paredes revestidas de madeira e um piano de cauda preto. Muitos porta-retratos e brinquedos clássicos, como carrinhos de metal. A peça mais chamativa, sem dúvida, um Super-Homem em tamanho real, mais alto do que o próprio Jô.
O humorista convivia apenas com seus empregados de muitos anos e os poucos amigos mais próximos, como a ex-mulher Flávia Pedra, hoje casada com a cantora Zélia Duncan. Ele teve um único filho, Rafael, portador de autismo, que morreu aos 50 anos em outubro de 2014.
A pandemia fez com que o apresentador ficasse bastante recluso. Nas raras saídas de casa, ia no banco do carona do carro, com seu motorista ao volante. Um dos destinos era a paróquia de Santa Rita de Cássia, no Pari, bairro operário da capital paulista. Devoto da santa, Jô gostava de ficar sentado em silêncio diante do altar.
Fora da Globo desde 2016, o multiartista tinha projetos para teatro, atuando sozinho e dirigindo colegas em espetáculos, e de novos livros. As ideias agora ficam nas gavetas de sua mesa de trabalho. Mas há muito a ser lembrado, revisto e discutido a respeito da grande obra que deixa ao País.