Danielle Winits reflete sobre jornada nas artes: 'Não é fácil criar uma identidade'
Em entrevista à Revista CARAS, Danielle Winits celebra seu retorno ao teatro musical e os 35 anos de carreira. Mais madura, ela abraça sua trajetória com carinho
Gratidão, leveza e maturidade são palavras de ordem na rotina de Danielle Winits (51). Ícone da dramaturgia, a atriz celebra seus 35 anos de carreira de forma carinhosa e com a força de uma mulher que segue inspirando gerações. "Hoje, eu consigo reconhecer todo o meu caminho. Tenho um olhar
muito acolhedor para a minha história. Já fui bastante autocrítica e até enfrentei a síndrome de impostora, mas não por conta das minhas escolhas, e sim por um preconceito que eu sentia em relação ao sentimento dos outros", entrega ela.
Determinada, ela mostrou sua versatilidade na televisão, no cinema e no teatro e destaca que vive momento de transformação pessoal e profissional, marcado pela preparação para estrear o espetáculo musical Meninas Malvadas, previsto para março. "Esse projeto coroa muita coisa, eu sou praticamente a única adulta entre vários jovens. É a hora certa, em que estou no lugar certo", avalia Danielle, que comemora ainda seu retorno ao gênero teatral.
Atualmente, ela também está em cartaz ao lado do marido, o ator André Gonçalves (49), com a comédia TOC TOC, no Rio. "Confortar o público por meio da arte é o que me move. O teatro é minha casa, é meu berço. Acho que ele nunca deixa de oferecer para nós, atores, um espaço de busca, possibilidades e desafios para a nossa carreira", afirma a atriz.
Dedicada ao humor nos últimos anos, ela busca se reinventar constantemente. Além do musical,
ainda neste ano, Dani voltará à sequência do filme Os Farofeiros, pretende lançar seu primeiro monólogo e ainda vai estrear o filme Meu Querido Mundo, no qual atua junto com seu primogênito, Noah (17). "Acredito que a sorte vem para quem vai atrás dela. É preciso vontade e determinação", pontua a atriz, que também é mãe de Guy (13).
Por enquanto, ela não tem planos para voltar à TV. "No ano passado, fiz uma part i c i p a ç ã o e m
Família É Tudo, que foi um grande presente de Daniel Ortiz. Algo muito especial, pois esse também é o meu lugar. Eu sou da labuta. Se aparecer um projeto, eu toparei", dispara.
- Qual foi sua motivação para voltar ao teatro musical?
- Eu já conhecia o filme Meninas Malvadas por conta do trabalho da Tina Fey, que interpreta a professora. Considero Tina uma artista completa. Voltar para os musicais e interpretar o mesmo papel de uma artista que eu tanto admiro tem sido um presente. Além disso sinto que o meu trabalho tem abraçado muitos jovens e isso é maravilhoso. Esse projeto no teatro coroa muita coisa, eu sou praticamente a única adulta entre vários jovens. É a hora certa e o lugar certo. Eu abracei o convite
c o m m u i t a felicidade.
- No palco, você interpretará três personagens. Qual tem sido seu maior desafio?
- Faço a mãe da Cade, a mãe da Regina George e a professora, a srta. Norbury. São personagens com personalidades completamente diferentes! Já está sendo uma delícia construir cada uma delas. No music a l , e u c a n t o . Te n h o feito aulas para isso, precisamos estar prontos para tudo.
- São 35 anos de carreira. O que mudou de lá para cá?
- Eu não divido minha carreira em antes e depois. Consigo enxergar o momento em que tudo mudou, claro, mas todo início de trabalho é como se fosse uma renovação. Eu o abraço da mesma forma como faria lá atrás. Eu reconheço que a maturidade de hoje me traz uma tranquilidade que me ajuda muito, mas a necessidade de confortar o público por meio da arte me move.
- Por muito tempo, você chegou a ser vista como um sex symbol. Isso minou seu talento?
- Confesso que isso era uma questão para mim. Por outro lado, eu abracei as oportunidades
que tive e fui muito grata por todas elas. Eu sabia que, em algum momento, conseguiria trilhar um caminho mais autoral e ser respeitada como artista e não apenas como a mulher sex symbol. Afinal, papéis sensuais também são papéis. Nunca deixarão de ser. E ser artista, para mim, é não enxergar nenhum d e l e s c o m preconceito.
- Nos últimos anos, você esteve bastante ligada ao humor. Como essa vertente surgiu em sua carreira?
- Sempre quis fazer comédia! Sabia que isso não viria espontaneamente para mim, mas eu precisei
furar a bolha. Não foi fácil.
- Por que?
- Por ter sido uma mulher, artista, que sobreviveu aos anos 1990 e início dos anos 2000, sendo loira, com um corpo tachado como padrão e perfeito. Ou seja, por ser quem eu sou. Não é fácil criar uma identidade, acreditar nela e fazer com o que os outros a abracem.
- Com tantas demandas profissionais, como mantém o equilíbrio com a vida em família?
- Olha, se eu dissesse que é fácil, estaria mentindo. Mas não posso me queixar, tenho uma rede de apoio muito grande e trabalho para que ela continue existindo. Me considero abençoada por isso. Meus filhos cresceram comigo no teatro e na Globo. Eles são meus amigos e parceiros, entendem a rotina, assim como meu marido.
- Em casa, você e o André conversam sobre trabalho? Se apoiam nesse sentido?
- Não tem como, faz parte da nossa vida. Independentemente da nossa profissão, temos uma troca maravilhosa, partilhamos nossas dúvidas, nossos anseios e chegamos a lugares mais assertivos e que sejam bons para nós dois.
- Pensar em seus 51 anos lhe traz quais sentimentos? A maturidade tem sido sua aliada?
- Os melhores sentimentos. Se eu pudesse dar um conselho, seria: jovens, envelheçam! É bom. Não pela perda do colágeno, claro, mas a idade nos traz uma serenidade única. Agora a saúde é meu foco e a estética acaba sendo uma consequência. Eu não preciso mais do meu corpo de 20 anos, preciso do corpo de uma mulher de 50 anos que seja saudável.
- As críticas relacionadas à idade te incomodam?
- Nem um pouco. Acho que se estão falando de mim é porque, de alguma forma, eu sou relevante.
Se for com esse olhar de que envelheci, de que não sou mais o que eu era antes, que seja. Isso significa que eu continuo caminhando, independentemente de quem acha que eu preciso da coxa mais grossa
ou da bunda mais empinada. Me sinto liberta desse sentimento.