Depressão associada a Silvio Santos não poupa celebridades e afeta muitos idosos
Psicólogo comenta circunstâncias que podem desencadear o distúrbio que afeta mais de 10 milhões de brasileiros
No dia 1° de fevereiro, após encontrar Silvio Santos no salão de cabeleireiro de Jassa Santos, Milton Neves fez uma postagem no X (antigo Twitter). “... Silvio Santos, muito lúcido, humilde e até me deu conselhos de como vencer meus momentos, de como vencer minha já crônica depressão”, escreveu.
Nos últimos anos, várias matérias apontaram um quadro depressivo no apresentador e dono do SBT. A condição teria piorado ao longo da pandemia, quando se viu obrigado a ficar longe dos estúdios de TV.
Em uma edição do ‘Jogo das 3 Pistas’, em maio de 2022, Silvio Santos disse a Ratinho que havia tido depressão e não sabia a razão. Havia um contexto de humor, sendo impossível afirmar se ele falava sério ou fazia mais uma de suas ironias.
O que se pode afirmar é a incidência preocupante do distúrbio mental em pessoas a partir de 60 anos. ‘Pesquisa do IBGE aponta que idosos são os mais afetados pela depressão’, revelou manchete do ‘Jornal da USP’ em 2021.
Inúmeros artistas veteranos vivem ou viveram com o problema, a exemplo dos atores Francisco Cuoco e José Mayer, as cantoras Madonna e Vanusa (esta, já falecida), os apresentadores Amaury Jr. e Ronnie Von.
O blog ouviu o psicólogo Alexandre Bez, com especialização na Universidade de Miami, a respeito de quadro depressivo em famosos.
Silvio Santos está com 93 anos. O índice de depressão em pessoas idosas é alto?
A depressão é uma condição psiquiátrica/clínica. No caso do Silvio Santos, hipoteticamente, pode estar sendo exacerbada agora, tendo uma bivalência, desenvolvida pela questão cronológica e por uma tendência que ele possa ter. De qualquer forma, existe um índice importante de depressão em idosos, relacionada ao final de ciclos, seja a aposentadoria, a independência dos filhos e netos, até mesmo do tempo de vida que vai minando a esperança de realizar novas coisas. Pode ser piorada pelo afastamento das atividades profissionais. Uma pessoa não se sentir útil e produtiva pode levá-la a uma depressão severa, especialmente quando esse afastamento é compulsório. O isolamento social causado pela pandemia acelerou o processo de aposentadoria de muitos brasileiros. O ciclo profissional não teve um fechamento adequado, deixando a sensação de que aquela fase ainda não terminou, o que dificilmente acontece quando existe uma retirada programada do trabalho.
Segundo alguns veículos de imprensa, a depressão de Silvio teria sido agravada após a morte de pessoas queridas, como seu médico de confiança. É comum que perdas do tipo provoquem o transtorno?
A depressão é um quadro de tristeza profunda e contínua e pode ser agravada por fatores externos. A morte de alguém é um deles, por ser muito impactante e gerar estresse. A pessoa de idade avançada passa a conviver com a perda de amigos e pessoas próximas com mais frequência. Isso faz com que ela reflita sobre a própria idade, gerando um vórtice de pensamentos de que seu fim está próximo e não tem mais nada para oferecer ou usufruir da vida. Contudo, só quem tem uma predisposição clínica desenvolve essa condição de depressão, e não é possível afirmar quais são os gatilhos que a desencadeiam.
A depressão atinge muitas celebridades e poderosos. Ter uma vida privilegiada não diminui o risco de depressão?
O fato de a pessoa ser rica ou famosa não a isenta de sofrer com a depressão. O máximo de vantagem que o privilégio financeiro e de visibilidade podem oferecer é a facilidade de acesso a tratamentos. Em muitos casos, a pessoa estar publicamente exposta pode até contribuir para o surgimento ou agravamento da depressão, pois é bastante cobrada e julgada.
Uma matéria de ‘Veja’, de 2001, revelou que Silvio usa um medicamento para conseguir dormir. Problemas com a qualidade do sono podem aumentar a incidência de depressão?
A depressão interfere profundamente na qualidade do sono. Quanto mais ociosa for a vida da pessoa, mais a depressão será ativa, inclusive à noite. Essa situação se torna uma bola de neve, pois a privação de sono gera estresse e ansiedade. Nesses casos, é indicado uma associação de antidepressivo com ansiolítico (receitados por um psiquiatra), além de atividades que façam a pessoa ocupar a cabeça e se sentir produtiva.
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