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Ex-estrelas de novelas sumiram da Globo após reclamar de pagamentos 

Maria Zilda Bethlem e Lucélia Santos rompem o silêncio adotado por atores temerosos de perder oportunidades se criticarem o canal

7 set 2024 - 13h22
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“Esmola”, assim definiu Maria Zilda Bethlem ao comentar o pagamento de R$ 237,40 recebido pela reexibição de ‘Selva de Pedra’ no Viva em 2019. A quantia representou menos de 2 reais por capítulo. 

A veterana, de 72 anos, faz parte de um pequeno grupo de atores com coragem de cobrar os canais de TV – especialmente a Globo, maior produtora audiovisual do país – a rever a política de pagamentos de direitos de imagem por reprises e vendas de novelas e séries ao exterior. 

Ela também criticou a emissora por gravar novelas na pandemia de covid-19, a conduta ao lidar com denúncias de assédio sexual nos bastidores e a demissão da maioria dos grandes artistas.  

Completando 50 anos de TV, Maria Zilda está fora da emissora desde 2016, quando participou de ‘Êta Mundo Bom’ às 18h. Em entrevistas e ‘lives’, ela se declarou decepcionada com a maneira como a teledramaturgia passou a ser feita. Sente que o trabalho do ator foi desvalorizado. 

Mesmo desapontada, voltaria à antiga casa. “Digo aos produtores de elenco: podem me chamar para trabalhar, continuo querendo”, avisou no ‘Papagaio Falante’. Por enquanto, nenhum convite da emissora. 

Outra voz poderosa contra a baixa remuneração por uso de imagem é a de Lucélia Santos. “Nunca recebi 1 centavo de direito por meu trabalho e divulgação no exterior. Só ‘A Escrava Isaura’ e ‘Sinhá Moça’ são duas (das novelas) que mais venderam (a canais de outros países)”, reclamou no podcast ‘Embrulha sem Roteiro’. 

“Nunca recebi centavo. Continuam vendendo. Se você for em algum lugar do mundo, vai estar lá passando ‘A Escrava Isaura’.” A trama da escrava branca dedicada à libertação dos negros escravizados é de 1976. Tornou-se o maior sucesso da história da Globo. 

A atriz entende que deveria receber pelo folhetim de época, mesmo ele sendo anterior à regulação da profissão de ator no Brasil, feita pela Lei 6.533 de 24 de maio de 1978. “O direito à imagem é inalienável”, argumenta. 

Lucélia defende que os direitos a atores e autores se espelhe na regulamentação de pagamentos a músicos e compositores, geralmente remunerados por cada execução de música em rádio, TV, internet e evento. Sugere aproveitar o momento de discussão no Congresso da regulação dos serviços de streaming para debater esta antiga reivindicação da classe artística. 

Ao citar a forte mobilização política de atores nos Estados Unidos, ela reclama da pouca união dos colegas brasileiros. “O problema nosso é o mercado de trabalho. Se você fala isso aqui, fica desempregado. Há quantos anos você não me vê fazendo novela?”, diz. “Não tem convite mesmo. Essa palavra cancelamento é nova, mas a ação de cancelar é antiga.” 

Protagonista na Globo nas décadas de 1970 e 1980, Lucélia está longe da teledramaturgia do canal há 23 anos. O último personagem fixo foi a médica Jackeline na oitava temporada do extinto seriado juvenil ‘Malhação’. 

“Se você quer preservar seu emprego, fica quieto. Isso é uma demagogia, hipocrisia, mas é a realidade que a gente tem pra hoje. Só que eu sou aquele tipo de pessoa, acho que é meu mapa astrológico, eu nunca fui por aí. Sou destemida”, explica a taurina de 67 anos. “Vou à luta, falo, debato.” 

Recentemente, Mateus Solano, Tuca Andrada, Sergio Marone e Nívea Stelmann também se manifestaram a respeito da baixa renumeração passada a atores por reexibições de novelas. Sabe-se que alguns artistas recorreram à Justiça a fim de receber valores por reprises.

Maria Zilda e Lucélia Santos dão a cara a tapa ao criticar políticas internas da Globo
Maria Zilda e Lucélia Santos dão a cara a tapa ao criticar políticas internas da Globo
Foto: Fotomontagem: Blog Sala de TV
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