Fábio Porchat revela que especial de Natal irá 'falar de religião e política'
Humorista falou também sobre o contexto de intolerância e críticas aos vídeos do 'Porta dos Fundos': 'o homem branco hétero nunca foi alvo de piada'
A produtora de vídeos Porta dos Fundos irá lançar, no fim de 2020, a nova edição do seu tradicional Especial de Natal, e o humorista Fábio Porchat deu mais detalhes sobre a produção e falou sobre as críticas ao lançamento de 2019 durante o Conversa com Bial na terça-feira, 13.
O comediante revelou que o especial se chamará Teocracia em Vertigem, e será uma paródia de Democracia em Vertigem, documentário lançado em 2019 sobre o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O formato de documentário, com depoimentos, foi uma alternativa devido às restrições com a pandemia do novo coronavírus.
"Vamos falar de religião e política, nunca se falou tanto de política e religião de uma vez só", afirmou Porchat. A ideia é mostrar a "história por trás do golpe que levou à crucificação de Jesus Cristo", e contará com várias referências a fatos políticos dos últimos quatro anos.
Ainda no programa, Porchat falou sobre o ataque à sede do Porta dos Fundos em 2019, após as críticas ao especial de Natal daquele ano, e a prisão recente de Eduardo Fauzi Richard Cerquise, acusado pelo ataque.
"A gente faz especial de Natal desde 2013, eu que escrevo inclusive, é o mesmo texto, a mesma provocação, a mesma brincadeira. Em 2019 alguém se sente à vontade pra pegar duas bombas no meio de uma das maiores cidades do Brasil e jogar em um lugar", contou o humorista.
"O que aconteceu no País? Por que esse clima de temos que jogar bomba se instaurou? O que aconteceu de 2018 pra cá que fez com que essas pessoas se sentissem à vontade? É isso que a gente tem que pensar. As palavras geram ações. A arminha com a mão gera ação. Você não repudiar esses fatos gera confirmação de que esses fatos estão corretos", defendeu Porchat.
Humor e intolerância
O humorista também fez um alerta sobre a onda de intolerância e de ataques que tem notado recentemente: "Hoje é com a gente, que você que está assistindo pode odiar e não concordar, mas amanhã é com você. E quando for com você não vai estar mais eu aqui pra te defender".
Ainda sobre o assunto, Bial conversou com Porchat sobre as críticas que são feitas hoje ao humor, e o artista ponderou que o objetivo principal do humor não deve ser "lacrar": "Comédia tem que ser engraçada. Ponto. Que bom que ela possa ser engraçada e também nos fazer pensar, jogar luz em determinados assuntos [...] Mas acima de tudo tem que ser engraçado".
"Muita gente acha que eu sou um vilão do Batman que fica em casa pensando 'Como é que eu vou irritar os evangélicos?'. Não, não tem nada disso. Eu penso em como eu posso ser engraçado", afirmou ele.
Porchat também disse que achou necessário pedir desculpas após um vídeo do Porta dos Fundos ser acusado de gordofobia, pois "mesmo sem querer, eu propaguei preconceito", mas que é diferente quando fez as piadas no especial de Natal pois "eu não to propagando preconceito, eu estou brincando, dessacralizando uma coisa".
Ele também opinou que o "homem hétero branco" tem se tornado mais reativo com os conteúdos de humor, como o do Porta, pois "nunca foi alvo de piada, está sendo pela primeira vez e não está sabendo lidar com isso", citando os comentários que recebe de que existe "muito mimimi". "O brasileiro não sabe rir de si, e gosta muito de rir do outro", defendeu Porchat.
*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais