Hugh Grant fala sobre Hollywood, hackers e celebridades
O ator Hugh Grant, que se tornou a encarnação do britânico vaidoso e charmoso em comédias românticas como “Quatro Casamentos e um Funeral” e “Notting Hill”, está adorando não ser mais parte de Hollywood.
Grant canalizou seus sentimentos para seu novo filme, “The Rewrite”, no papel de Keith, um roteirista decadente que se muda para uma pequena cidade no Estado norte-americano de Nova York para dar um curso universitário sobre as armadilhas às vezes cínicas, e ocasionalmente bem palpáveis, de Hollywood. O filme estreou nos cinemas britânicos na quarta-feira.
Grant, de 54 anos, também atua ativamente desde 2011 na campanha Hacked Off, dedicada a conscientizar as pessoas sobre as vítimas dos abusos da imprensa. Ele testemunhou no inquérito Leveson sobre a cultura e a ética da mídia britânica e acusou vários tabloides de se intrometerem em sua vida pessoal e grampearem seu telefone.
O ator conversou com a Reuters sobre se livrar do rótulo de galã, abandonar Hollywood e seu envolvimento no Hacked Off.
P: Como você se sente vendo "The Rewrite" ser vendido como uma comédia romântica? Acha isso aceitável?
R: Eu de fato comprei essa briga com a Lionsgate, que é uma distribuidora brilhante, maravilhosa, e no final eles me convenceram de que o mercado está tão sobrecarregado no momento que é preciso passar uma mensagem simples ao público. Você não pode dizer ‘ah, é em parte uma comédia romântica misturada com outros gêneros’. Fica muito confuso. Então eles me dobraram, mas eu consegui tirar ‘romântica’ da comédia (aponta para o pôster do filme).
P: Qual foi seu nível de empatia com a visão de Keith sobre Hollywood, e como sua percepção mudou, já que você passou por aquilo?
R: Este personagem na verdade ainda ama Hollywood e quer ser parte daquilo, ele só está triste por não ser e por não arranjar um emprego. Não sou bem daquele jeito, no sentido de que estou adorando não fazer mais parte daquilo, com uma ou outra exceção. Isso não me torna uma pessoa melhor, é só o meu gosto.
P: Por que você não quer fazer parte daquilo?
R: Nunca tive gana de atuar, divulgar filmes, esse tipo de coisa. É divertido de vez em quando, mas para algumas pessoas é como o ar que respiram… nunca me senti assim. Sempre senti que existem outras coisas na vida que são tão ou mais interessantes.
P: Você está participando do julgamento sobre invasão de privacidade. Há certas celebridades que se vendem à imprensa e blogueiros de celebridades que não são jornalistas formados. O que você pensa disso, já que as pessoas continuam tendo suas vidas pessoais invadidas?
R: Acho que existe um mal entendido muito comum a respeito da campanha na qual me envolvi de que se trata de proteger celebridades de intromissões, e na verdade não é nada disso.
A questão é quem realmente governa o país, o fato de que um primeiro-ministro tenha que ligar para donos de jornais antes de ir para a guerra para ter certeza de que eles concordam. E também se trata do incrível abuso de poder de alguns desses donos de jornais… eles vivem acima da lei e de qualquer código de ética porque os políticos têm muito medo de enfrentá-los, e é isso que conseguimos mudar.
P: Você teve dificuldade com a imprensa no passado. Como você lidaria com a mídia se fosse uma nova celebridade no mundo de hoje?
A: Eu não sei. Eu realmente não sei como funciona mais, exceto que eu posso ver que em 1994 a gente realmente não tinha voz, com exceção de alguns comunicados bem grandes de assessorias de relações públicas, por meio de algum assessor. As pessoas agora, com um número gigantesco de seguidores no Twitter, milhões a mais do que os que lêem jornais, pelo menos, elas têm uma voz. Mas, insisto em dizer, minha campanha não tem nada a ver com celebridades. Acho que sempre haverá uma tensão entre o tanto de intromissão que uma pessoa no meio artístico quer e o tanto que sofre, e nunca foi diferente.