Humorista viralizado é filho de inimigo íntimo de Bolsonaro
Ex-apoiador do presidente, André Marinho fez Temer gargalhar e já roubou a cena por discutir com deputada e trocar socos com direitista
O que você faria com alguém que era grande amigo de seu pai e, de repente, se torna um desafeto dele? O comediante André Marinho decidiu debochar em benefício próprio.
Ele foi a atração no jantar que reuniu alguns poderosos e milionários para celebrar a intervenção bem-sucedida de Michel Temer na guerra entre Jair Bolsonaro e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
O vídeo com o sisudo ex-presidente rindo da imitação do ex-capitão viralizou na internet e multiplicou a fama de André, 26 anos, filho do empresário Paulo Marinho, que foi de grande aliado a crítico fervoroso de Bolsonaro.
A mansão da família, no Rio, funcionou como quartel-general da campanha do então candidato do PSL ao Planalto. Paulo era um dos principais conselheiros da equipe. André atuou como tradutor de inglês em telefonemas de autoridades estrangeiras a Bolsonaro. Falou inclusive com Donald Trump.
Em 2019, os Marinhos (não têm parentesco com o clã dono da Globo) romperam com o presidente, apesar de Paulo ser suplente no Senado do filho Zero Um, Flávio Bolsonaro. Numa entrevista, o empresário disse que Jair é “uma pessoa atormentada”. Há profunda mágoa entre os ex-amigos.
André Marinho ganhou popularidade ao postar humor nas redes sociais e no YouTube. Ganhou muitos fãs e haters ao entrar para o elenco do ‘Pânico’ na Jovem Pan, uma emissora abertamente bolsonarista.
No estúdio da rádio, ele protagonizou alguns embates barulhentos. Em maio, trocou insultos e socos com o ex-comentarista político da CNN Brasil Tomé Abduch, fundador e porta-voz do movimento de direita Nas Ruas.
No início de setembro, a deputada Carla Zambelli, fiel apoiadora de Bolsonaro, se irritou com questionamentos feitos ao ser entrevistada no ‘Pânico’. Ela disse que André é “uma criança de jardim de infância que quer fazer memezinho”.
O comediante com pinta de galã de novela faz parte da nova geração de artistas que usam a política como matéria-prima para o humor contestador e, às vezes, engajado. Essa turma desempenha papel relevante ao estimular adolescentes e jovens a se interessarem pelo que acontece nos altos escalões dos Poderes.
Quando ainda era um bolsonarista raiz, ele participou de programas de TV para defender o presidente. Esteve com o saudoso Ricardo Boechat na Band e Ronnie Von na TV Gazeta. No YouTube, foi entrevistado por comunicadores conservadores como Antônia Fontenelle e Leda Nagle.
O agora anti-bolsonarista André Marinho tem quatro irmãos. A mais velha, a mestre em Direito Maria Proença Marinho, é fruto do relacionamento de seu pai com a atriz e escritora Maitê Proença. Outra, Giulia Be, se destaca como cantora, compositora e influencer.
Em tempo: no jantar em que o comediante imitou Bolsonaro – e também divertiu os convidados ao fazer a voz de Temer – estavam dois influentes homens de TV. O dono da Band, Johnny Saad, e o apresentador da GloboNews Roberto D’Ávila, riram da zombaria.