Maior bilionária não usa joias, recusa cortar o cabelo e segue lições de freiras
Despida de vaidade e avessa à mídia, Françoise Bettencourt Meyers é a antítese do que se espera de uma super-rica vivendo em Paris
Toda manhã após o café, Françoise Bettencourt Meyers senta-se ao piano (ela tem dois em sua sala) e toca por algum tempo. Virou um ritual para começar bem o dia. “A música é meu oxigênio”, disse à revista ‘M Le Mag’ do jornal ‘Le Monde’.
A francesa, de 70 anos, dona de 33% das ações do grupo L’Oréal, é desde 2017 a mulher mais rica do planeta. Segundo a ‘Forbes’, possui 99,5 bilhões de dólares, equivalentes a R$ 502 bilhões. Ocupa o 15º lugar no ranking dos maiores bilionários do mundo, predominado por homens.
Apesar da fortuna, ela não mora em uma mansão, não se veste com alta-costura, não usa joias, não gosta de ir a festas, não tem coleção de arte, não viaja aos lugares preferidos dos super-ricos, não ostenta nas redes sociais.
Ainda que sua mãe, a socialite Liliane Bettencourt, tenha sido extremamente vaidosa e fascinada por luxo e glamour, Françoise preferiu a influência das freiras do colégio católico onde foi educada. Optou por viver de maneira simples e discreta, priorizando a intelectualidade.
Em oposição ao império dos cosméticos que herdou, ela raramente usa maquiagem, mantém há décadas os cabelos longos com frizz natural e se esconde atrás de óculos com armação retrô grossa.
Simplesmente recusa ter uma imagem pública. Quer total privacidade a ela, o marido Jean-Pierre e os filhos Jean-Victor e Nicolas. Dos rapazes, nunca se ouviu a voz. Françoise não quis viver nos bairros chiques de Paris. Mora em um prédio comum de três andares em um subúrbio tranquilo, Neuilly-sur-Seine.
Após concluir o ensino médio, a bilionária entrou para a faculdade de Matemática, mas desistiu após 1 ano. Dedicou-se a diferentes estudos. Lançou livros sobre os deuses gregos e a relação entre o Cristianismo e o Judaísmo. Publicou também a respeito de audição e surdez.
Apegada na infância, Françoise se distanciou aos poucos de Liliane devido ao conflito de estilos. A matriarca chegou a reclamar da filha à imprensa. “Ela é pesada e lenta”, disse, segundo a revista ‘Vanity Fair’. Em rara entrevista, a herdeira negou ter ciúme. “Minha mãe sempre foi linda, sim, mas nunca senti a menor rivalidade.”
Quando a socialite preferiu a companhia de amigos festeiros e gananciosos, a filha rompeu contato. Uma declaração resume seu pensamento a respeito de gastança e exibicionismo. “O dinheiro enlouquece as pessoas.” As duas passaram anos sem se ver mesmo morando a uma quadra de distância.
A escritora só ressurgiu quando a mãe ficou viúva, em 2007, e estava sendo manipulada por um fotógrafo que já havia levado quadros, joias e grande quantidade de dinheiro de sua família. Seguiu-se um escândalo nacional que teve até denúncia de doações ilegais ao então presidente da França, Nicolás Sarkozy.
Françoise conseguiu provar que Liliane sofria de problemas mentais e não tinha mais condições de administrar o patrimônio. Assumiu o controle das finanças, afastou os abutres e cuidou da mãe até a morte dela, em 2017, quando recebeu a herança e se tornou a mulher mais rica do mundo.
Além da música e da literatura, ela está envolvida com filantropia. Preside a Fondation Bettencourt Schueller. Anualmente, a instituição aplica o equivalente a R$ 350 milhões em projetos de ciências, bolsas para estudantes de artes e ações de caridade como a doação de aparelhos auditivos.