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"Mandamos um recado claro para a censura", diz Felipe Neto

Youtuber disponibilizou 14 mil livros com temática LGBT para serem distribuídos gratuitamente no último sábado, no Rio de Janeiro

8 set 2019 - 15h55
(atualizado às 16h24)
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O youtuber Felipe Neto falou sobre o resultado da ação em que distribuiu gratuitamente cerca de 14 mil livros com temática LGBT durante a Bienal do Livro no Rio de Janeiro no último sábado.

"O dia em que mandamos um recado claro para a censura e os opressores: vocês nunca irão calar o amor! O bem sempre vence e sempre vencerá. Foram 14 mil livros de temática LGBTQ+ distribuídos gratuitamente", escreveu Felipe em seu perfil no Instagram.

Felipe Neto.
Felipe Neto.
Foto: Reprodução

Na sequência, prosseguiu: "Foi lindo, foi amor, foi luta por um mundo melhor! No final, chegaram os carros dos agentes da censura de Crivella e 20 homens armados prontos para recolher todos os livros. Só tinha um problema: todos já tinham sido entregues de graça."

"Hoje, o amor venceu! Hoje, o Brasil venceu! Feliz 7 de setembro. Comemore hoje, a luta continua amanhã", encerrou o youtuber.

Os 14 mil livros, comprados na própria Bienal, foram envolvidos em plástico preto acompanhados de um adesivo: "Este livro é impróprio para pessoas atrasadas, retrógradas e preconceituosas."

Livros como Confissões de Um Garoto Tímido, Nerd e (Ligeiramente) Apaixonado, de Thalita Rebouças, Arrase!, de RuPaul e O Mau Exemplo de Cameron Post, de Emily M. Danforth estiveram entre os exemplares entregues ao público na praça central da Bienal.

Entenda a polêmica envolvendo a Bienal do Rio de Janeiro

A decisão de Felipe Neto foi tomada após o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB) ter determinado o recolhimento de um livro dos Vingadores com personagens homossexuais por suposto "conteúdo sexual para menores" na quinta-feira, 5.

Fiscais da Secretaria Municipal de Ordem Pública do Estado estiveram na Bienal do Livro do Rio no início da tarde desta sexta-feira, 6, e foram vaiados por parte do público.

Porém, os fiscais não encontraram nenhum exemplar do livro, pois em cerca de 40 minutos após a abertura do evento a HQ Vingadores - A Cruzada das Crianças já havia se esgotado.

No último sábado, 7, A Bienal do Livro do Rio anunciou que iria recorrer ao Supremo Tribunal Federal contra a decisão do presidente do Tribunal de Justiça do Rio, Claudio de Mello Tavares, que autorizou a prefeitura do Rio de fazer busca e apreensão de livros com conteúdo considerado impróprio para crianças e adolescentes que estejam sendo vendidos sem lacre e alerta escrito quanto à temática.

Com a medida, a Bienal pretende "garantir o pleno funcionamento do evento e o direito dos expositores de comercializar obras literárias sobre as mais diversas temáticas - como prevê a legislação brasileira".

Ainda no sábado, à noite, um grupo de manifestantes realizou um protesto contra o que classificam como censura do prefeito Marcelo Crivella. Carregando livros com temática LGBT, o grupo circulou pelos corredores da Bienal gritando palavras de ordem como "não vai ter censura".

Em dado momento, próximo ao local onde fiscais da prefeitura permaneciam em reunião com organizadores da Bienal, um casal de homens se beijou na boca. O grupo também declamou o artigo da Constituição Federal que proíbe a censura, além de versos da oração de São Francisco.

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, que barre a busca e apreensão se livros com a temática LGBT na Bienal do Rio de Janeiro.

Em requerimento encaminhado ao ministro na manhã deste domingo, 8, ela se manifesta pela suspensão da decisão do presidente do Tribunal de Justiça do Rio, Cláudio de Mello Tavares, proferida no sábado, 7.

A PGR pede urgência ao Supremo que decida, posto que a Bienal se encerra ainda neste domingo. Raquel vê a decisão de Tavares como 'lesiva à ordem pública' ( para ler mais).

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, também determinou que a gestão Marcelo Crivella, se abstenha de apreender livros de temática LGBT na Bienal do Rio. Em seu despacho, afirmou que a Prefeitura fez 'verdadeira censura prévia' e promove 'patrulha do conteúdo de publicação artística'.

Entrevista com Felipe Neto

Na última sexta-feira, 6, Felipe Neto falou ao E+ sobre a sua intenção com a distribuição dos livros na Bienal.

"A ideia foi minha, nascida de um absurdo que a gente está experimentando e vivenciando quase todos os dias no governo brasileiro como um todo. Foi uma resposta a essa intolerância. Num mundo onde a gente precisa incentivar cada vez mais a diversidade, o amor e a aceitação, nós temos líderes políticos e religiosos no Brasil lutando pelo oposto, pelo autoritarismo, pelo excesso de regras baseadas no próprio conceito de moral e não no amor e na aceitação", explicou.

Segundo o youtuber, foram disponibilizados apenas "livros que tenham como pauta a diversidade, aceitação e o LGBT como uma coisa natural da humanidade."

"Sejam personagens protagonistas LGBT, histórias de superação, histórias reais, sempre voltado para que, quem leia, leia uma história que tenha a pauta da diversidade como algo absolutamente natural da humanidade", prosseguiu.

Questionado sobre a possibilidade de represálias por parte do público, Felipe respondeu: "Se alguém quer ter algum tipo de represália contra histórias de aceitação, de amor, realmente essa pessoa tem muito ódio dentro de si."

"Não imagino que as pessoas vão ficar contra livros serem distribuídos gratuitamente para a sociedade. Num país onde a gente precisa aumentar e incentivar a leitura e o consumo de livros, acho que é uma ação onde só tem coisas positivas acontecendo. Se alguém enxergar algo negativo nisso, acho que essa pessoa precisa buscar ajuda", concluiu, na ocasião.

Felipe Neto também publicou um vídeo falando sobre a distribuição de livros na Bienal. Assista:

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Estadão
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