Marcela Mc Gowan lança podcast e planeja livro para 2021
Médica ex-participante do BBB20 acaba de lançar o programa "Sextou!" no Instagram e já tem novos planos para falar sobre sexualidade
Marcela Mc Gowan iniciou 2020 como médica ex-participante do Big Brother Brasil, mas finalizará o ano como uma comunicadora multiplataforma. Com a repercussão de conversas francas – e embasadas cientificamente – sobre sexualidade no Instagram, a ginecologista e obstetra já tem duas temporadas de seu podcast engatilhado e está em finalização de um livro, que deve ser lançado no ano que vem.
"O podcast vai ser semanal, sobre sexualidade e os temas vão ser diferentes do Sextou!, com perspectivas diferentes para o futuro. Atualmente, estamos com duas temporadas programadas e eu devo começar a gravar agora em setembro. Os episódios devem ter entre 30 e 40 minutos, com formatos intercalados. Em algumas semanas eu vou falar sozinha e em outras teremos entrevistas. Sempre que os temas são grandes tabus eu gosto de trazer alguém que tem a vivência, para dá o tom de sanar curiosidade", detalha Marcela em entrevista ao Terra.
Sobre o livro, que ainda está sendo escrito, a ex-confinada do reality da Globo antecipa que a publicação é inspirada em produções gringas que ela já consumiu e tem em casa. "A ideia é fazer um livro bem dinâmico e que seja bem presenteável, com informações importantes. Estou deixando ele bem sucinto e estou lutando para que seja bem legal, bem dinâmico, para você iniciar aquele papo de sexualidade com a filha, para você mandar para uma amiga", descreve.
Há duas semanas, a médica iniciou um novo projeto em seu Instagram, extou!. Nele, ela e algum convidado discutem temas que são tabus, mesclando conhecimento e vivência, em um papo tão sincero que parece conversa de amiga. Para falar de orgasmo, Karol Conká foi a convidada. O segundo programa discutiu ménage à trois.
"Antes do BBB eu já respondia a muitas perguntas e estava com vontade de reunir as dúvidas que me enviam. Tenho um curso de sexualidade, mas não consigo atingir todo mundo com ele por serem informações pagas. Eu queria ter um programa com tom menos professoral e que fosse algo mais dinâmico. Daí veio a ideia de criar um programa em que a sensação fosse de estar tirando dúvidas com as amigas", explica a agora apresentadora.
Confira abaixo a conversa completa de Marcela Mc Gowan com o Terra:
Terra: Falar de sexualidade, de educação sexual tem a ver com a sua formação como médica e isso te dá mais propriedade para falar dos assuntos. Mas você pensa em voltar a ser obstetra, em exercer a medicina mais tradicionalmente, ou enxerga o projeto como uma virada na carreira?
Marcela: Eu sempre gostei muito de trabalhar com comunicação. Mas eu acho que não vou conseguir a ficar sem a vivência prática da medicina. Imagino que no próximo ano eu volto para os atendimentos, quando as coisas derem uma acalmada. Tenho que aproveitar esse momento, mas acho que o retorno vai ser gradual e até conciliando as duas coisas. Acabei me sobrecarregando de demandas e por enquanto a minha rotina não existe. Há todo momento as pessoas estão te pedindo, te cobrando. Eu estou tentando agora organizar minha agenda para ter espaço de trabalho e o meu momento de me desconectar. Mas entendo que é uma fase. Minha família me apoiou super e não estar no consultório por agora tem a ver também com a pandemia.
Foi o BBB – e a projeção dele – que te fez dar esse outro passo, digamos, mais digital?
Antes do Big Brother, no consultório, eu via que as mulheres tinham pouca informação. Eu via que elas queriam um diagnóstico, mas o que faltava era informação mesmo. Então eu tive a ideia de fazer um curso. No Instagram eu já tirava dúvidas, que ficaram mais frequentes após o programa. Então, a ideia que eu tive foi de trazer convidados para explorar outros pontos de vistas para fazer as pessoas se identificarem. Meu medo é de dar um tom professoral a pessoas que ainda estão no processo de conhecimento. Daí eu dou espaço para pessoas que são conhecidas ou que têm conhecimento na área. Eu queria trazer o tom de quem vive a experiência de praticar o menáge, por exemplo.
O Sextou! ainda é um filho novo, só tem duas edições. Como ele tem repercutido?
Tem sido ótimo. É um formato que eu estava com medo porque no Instagram as pessoas não estão acostumadas a ver vídeos mais longos, diferentemente do YouTube. Mas o retorno e o engajamento têm me surpreendido positivamente. Acho que as pessoas estão amadurecendo na ideia de ver vídeos longos pelo Instagram, que é onde está minha audiência. Se eu fosse para o YouTubee eu teria que criar uma audiência por lá, então eu decidi arriscar.
Como a informação que você oferece beneficia as pessoas?
Eu recebo muita mensagem positiva e nem imagino que tenha essa repercussão toda. O que eu falo, falo, falo e é tão repeteco para mim muda muito a vida das pessoas. Recebo mensagens em que elas me dizem quanto que a vida sexual e o relacionamento mudou, por exemplo.
Você consegue perceber uma evolução sua frente às câmeras?
Acho que é bem clara a mudança e eu vejo muita diferença. Nunca fui apresentadora, então ter um roteiro dá a ideia de que você tem que ficar mais engessado, mas não é, é só para te guiar. Então, vejo que o que mudou muito foi a fluidez entre os quadros.
Como você lidou no decorrer da vida com o tema da sexualidade? Sempre falou abertamente ou isso é algo mais recente?
Cresci em uma família em que minha mãe era bem religiosa. Ela não ficava julgando quem falava de sexo, mas também não dava muito espaço. Sempre conversei muito com minha irmã mais velha. Quando eu estava estudando medicina eu via que havia muitas dúvidas na faculdade, mas os chefes não davam espaço para perguntas e as respostas eram meio objetivas, secas. Falar sobre sexualidade não era algo tão tranquilo para mim, mas conforme eu fui estudando, fui dando palestra, foi ficando mais tranquilo. Foi um processo de uma percepção do quanto isso faltava, que começou na minha graduação.
Como você lida com as críticas sobre sua liberdade para falar sobre temas que são tabus? Tem medo de ser taxada, entre outras coisas, como "depravada"?
[Risos] Eu não leio muito os comentários. Tem uma pessoa que filtra para mim. Acho que tem muito ponto de vista engessado por aí, tem muito comentário maldoso. Críticas sobre eu falar livremente de sexo é algo que eu não me importo.
Críticas de pessoas mais próximas costumam doer mais do que de pessoas desconhecidas. Aconteceu com você?
Lá no comecinho. Eu tinha muitos amigos e muitas pessoas que agiam estranho. Eu morava em uma cidade de interior então falavam muito. E isso era mais forte quando eu era casada. As pessoas são muito machistas e há muitas regras sobre uma mulher casada e como ela deve agir. Mas minha família acha ótimo, me incentiva.
O rótulo de ter sido casada e agora ser livre te incomoda?
Foi uma experiência que eu precisei viver. Eu achava que era um papel que eu tinha que desempenhar. Era uma experiência que eu achava que era para mim, que eu tinha que viver. Eu não me incomodo, faz parte para a minha vivência e para eu entender os papeis das mulheres casadas. Romper com isso doeu, mas foi importante sair de uma relação e de uma experiência que me fazia mal.
Como você rompeu com a vergonha ou com os medos dos rótulos?
Para romper com essas questões eu fiz terapia e como eu acredito muito em terapias alternativas eu passei pelo grupo de tantra. Todas essas coisas foram me ajudando a tirar essas amarras, foi me dando oportunidade para fazer escolhas mais livres.
Na hora de posicionar sobre temas polêmicos, você teme pelo seu cancelamento?
Me posicionava muito e hoje em dia eu falar o que eu acho dá um peso maior porque todas as opiniões vão ganhar proporções maiores. Críticas ou cancelamento por coisas que eu realmente acredito não é uma coisa que me incomoda. Eu temo, mas eu acho que eu tenho propriedade com o que eu realmente acredito. Opiniões pessoais eu não faço mais. Zero comentários sobre A Fazenda, sobre a vida de alguém. Essas coisas mobilizam muito e, de fato, nesse sentido tenho medo. Isso é um lado bem ruim do cancelamento. A gente se prende em uma bolha de não poder falar opiniões diversas. Opiniões diferentes são coisas que a gente tem que trocar, desde que não sejam falas racistas, machistas e de ódio. Mesmo que você tenha um comentario errado, você não pode prender alguém na bolha do erro, sem poder aprender. Você está fazendo com que todo mundo se cale na sua ignorância.
De que maneira você costuma tratar de assuntos como estupro?
Acho que assunto como estupro não tem nem o que discutir. O que acontece muito foi o que aconteceu com a Mari Ferrer: a vítima tem que provar muito que elas estão certas. Isso é muito ruim. O que as mulheres falam acabam não tendo importância. As pessoas têm a ideia de que estupro é alguém te pegar num beco. A sociedade legitima as outras formas como se fosse algo consensual que se você está na balada e te agarram à força pode, porque você deu espaço. São coisas muito frequentes e que acontecem o tempo inteiro. Isso faz com que a gente vivencie as coisas, mas não considerando que elas são reais o que silencia as mulheres que passam por situações de estupro e a situação fica impune.