Morre aos 100 anos a primeira modelo étnica do Brasil, Christine Yufon
Chinesa chegou ao país na década de 1950 e foi precursora no ensino de etiqueta antes de se firmar como artista plástica
O estilista e apresentador de TV Dudu Bertholini anunciou em seu perfil no Instagram a morte de sua “maior mestra e grande amiga” Christine Yufon. Ela completaria 101 anos no dia 18 de janeiro.
Nascida em Pequim, Christine se casou com um francês. Saiu da terra natal deixando tudo para trás, incluindo imóveis e uma coleção de arte herdada da família. Após um período em Paris, desembarcou em São Paulo com o marido e um filho.
Numa época glamourosa da moda, tornou-se a primeira modelo étnica do país. Foi destaque nos eventos da Casa Vogue. Desfilou também para o costureiro francês Jacques Heim e foi cobiçada pelo mítico Hubert de Givenchy.
Nos anos 1960, Christine abriu uma escola de etiqueta e postura. Ensinou centenas de alunos a conciliar a personalidade própria com os bons modos. Chegou a dar aulas para membros do clã Safra, um dos mais ricos e discretos do mundo financeiro.
Depois, resgatou o interesse pelas artes plásticas e passou a fazer esculturas. Teve galeria, onde produziu também mostras de joias. Por seu trabalho inovador, ganhou exposições em espaços importantes como o Masp (Museu de Arte Moderna de São Paulo). No livro ‘Toda Mulher Pode ser Bonita’, ela deu dicas de comportamento e valorização da beleza.
O encontro com Dudu Bertholini, mais de duas décadas atrás, fez Christine Yufon ser conhecida pelas novas gerações do universo fashion. Na época, o estilista estava à frente de uma marca festejada.
“Nunca esqueço da primeira vez que ela foi minha casa, na ocasião do primeiro desfile da Neon, segurou nas minhas mãos e disse: ‘O sucesso passa. A realização fica’. Esse foi apenas um dos muitos mantras que ela me ensinou, e que me guiam todos os dias”, contou o jurado do 'Drag Race Brasil' em post de 2023.
Yufon recebeu homenagem na São Paulo Fashion Week em 2009, quando looks da Neon foram complementados por peças criadas pela artista, que usava desde materiais nobres até sementes da fauna brasileira. Neste domingo (7), em mensagem de despedida, seu discípulo mais famoso ressaltou o legado deixado pela mestra.
“Em todas as muitas coisas que realizou na vida – como artista, designer, escultora, modelo e professora – Christine deixou uma marca de excelência, resiliência, coragem e humildade emocionantes. Tudo sempre coroado por seu estilo pessoal sofisticado e arrebatador”, escreveu Dudu Bertholini.