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Morre aos 80 anos a pintora abstrata Ruth Kligman

6 mar 2010 - 21h15
(atualizado às 21h16)
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Ruth Kligman, pintora abstrata que por décadas parecia conhecer tudo e todos do mundo da arte e que também foi a única sobrevivente de um acidente de carro que em 1956 matou Jackson Pollock, seu amante, morreu na segunda-feira (1) no Calvary Hospital, no Bronx. Ela tinha 80 anos e vivia em Manhattan. Sua morte foi anunciada pelo artista Jonathan Cramer, um amigo.

Kligman estava no assento dianteiro de um Oldsmobile 88 conversível na noite de agosto em que Pollock, após um dia inteiro bebendo, perdeu o controle do carro e capotou fora da pista, nas proximidades de Springs (N.Y.), tirando sua vida e a de Edith Metzger, uma jovem amiga de Kligman. Kligman foi lançada do carro e ficou seriamente ferida.

"Edith começou a gritar, 'Pare o carro, deixe eu sair!'", Kligman escreveu sobre aquela noite em Love Affair: A Memoir of Jackson Pollock, livro de 1974 relatando o relacionamento tumultuado dos dois, que havia começado poucos meses antes, quando ela encontrou Pollock na Cedar Tavern, em Greenwich Village. "Ele pressionava o acelerador até o chão", escreveu ela sobre a batida. "Ele acelerava loucamente."

Embora esse seja o acontecimento que tenha colocado Kligman nas páginas da história da arte do pós-guerra, ela manteve presença frequente nessas páginas por muitos anos após o ocorrido, menos por seu trabalho do que por seu papel como musa, amante, amiga e objeto de estudo de um número impressionante de artistas americanos.

Irving Penn e Robert Mapplethorpe fizeram retratos dela; Willem de Kooning, com quem se envolveu romanticamente, batizou uma pintura de 1957 de Ruth's Zowie, supostamente por causa da exclamação que ela fez ao vê-la; Andy Warhol a menciona diversas vezes em seus diários, e ela escreveu que eles "tiveram uma atração incrível um pelo outro" durante muitos anos; ela mantinha amizades com Jasper Johns, quem ela pediu em casamento, e com Frank Kline, cujo antigo ateliê na Rua 14 virou seu lar e onde ela continuou a pintar pelo resto de sua vida.

Ela nasceu em Newark em 25 de janeiro de 1930. Kligman disse que quis viver a vida de uma artista depois de ler a biografia de Beethoven aos sete anos. Ela se mudou ainda nova para Nova York e começou a pintar com seriedade em 1958, estudando na Art Students League, New School for Social Research e Universidade de Nova York.

Ela tinha 26 anos e trabalhava como assistente em uma pequena galeria quando conheceu Pollock, que estava com 44 anos, afastado de sua esposa, Lee Krasner, e perdendo a guerra contra o alcoolismo. Kligman escreveu que ele parecia "cansado, triste" e que "seu corpo parecia não conseguir se manter de pé sozinho".

Kligman, ao contrário, conforme descrição de Mark Stevens e Annalyn Swan na biografia de 2004 Kooning: An American Master, "tinha o ar das estrelas de cinema voluptuosas e desinibidas da época, como Elizabeth Taylor e Sophia Loren" (ela foi interpretada por Jennifer Connely no filme de 2000 Pollock; Kligman processou os cineastas, argumentando violação de direitos autorais por terem usado partes de suas memórias).

Depois da morte de Pollock, ela começou um relacionamento com Kooning que durou vários anos. Ela viajou com ele para Cuba, Itália e França em meio a acusações no mundo da arte de que Kooning estava com ela, como contam Stevens e Swan, em parte porque ele "ainda competia com Pollock, mesmo agora, depois da morte de Jackson".

Kligman disse que Kooning a chamava de "esponja dele", por ela lhe perguntar tanta coisa e absorver tanto da estética da Escola de Nova York, embora apenas seu trabalho inicial tenha sido influenciado pelos mentores do Expressionismo Abstrato, numa carreira de toda uma vida.

Ela foi casada por sete anos com o pintor espanhol Carlos Sansegundo e viveu por um curto período em Ibiza e, de forma esporádica, em Santa Fe (Novo México), mas sua vida se manteve centrada no mundo artístico de Nova York. Ela não teve filhos: não havia informações disponíveis sobre quem ela deixa até a conclusão desta matéria.

"Meu mote é Arte é minha vida", escreveu Kligman, que, numa entrevista, disse que sabia melhor que ninguém como a vida é difícil. Ela contou sobre uma ocasião em que encontrou Kline no bar Cedar e lhe disse que havia acabado de terminar o que ela considerava sua melhor pintura. Ele lhe pagou uma bebida e falou, sobre o mundo: "eles acham que é fácil. Eles não sabem que é como saltar de um prédio de 12 andares todos os dias."

Ruth Kligman morreu aos 80 anos nos EUA
Ruth Kligman morreu aos 80 anos nos EUA
Foto: Divulgação
The New York Times
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