Morre Palmério Dória, ex-chefe de reportagem da Globo que criticava o canal
Referência do jornalismo, ele comandou a revista ‘Sexy’ e usava o Twitter para analisar a TV e a política
Amigos participarão neste domingo (2) da cerimônia de cremação do corpo do jornalista Palmério Dória. Ele morreu na sexta-feira (31), aos 74 anos, em decorrência de uma infecção generalizada e complicações de uma doença degenerativa.
Natural do Pará, Palmério se destacou nos veículos de imprensa onde trabalhou, como a ‘Folha’ e o ‘Estadão’. Na década de 1980, ele entrou para a TV Globo. Chegou a ser chefe de reportagem da emissora.
Depois, foi diretor de redação da revista ‘Sexy’. Deu status de qualidade jornalística à publicação de fotos de nudez feminina. Os ensaios e entrevistas com famosas despidas gerou o livro ‘Evasão de Privacidade’.
O jornalista ganhou fama no meio da comunicação por seu estilo cortante e o humor ácido. Destemido, publicou obras sobre política que desagradaram a alguns poderosos, como os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (‘Príncipe da Privataria’) e José Sarney (‘Honoráveis Bandidos’). Lançou ainda ‘Golpe de Estado’, escrito com o amigo Mylton Severiano, outro ícone do jornalismo.
Mesmo fora da grande mídia e vivendo nos últimos anos em um hospital de cuidados paliativos, Palmério Dória jamais deixou de produzir jornalismo. Consumidor voraz do noticiário, ele usava o Twitter para exprimir sua visão sobre a imprensa e a sociedade.
Recentemente, postou várias críticas contra a linha editorial da CNN Brasil (“Uma Jovem Pan soft”) e sua ex-empregadora Globo, acusada por ele de manter blindagem ao ex-juiz e atual senador Sergio Moro. “Se pretende isenta”, debochou em um post.
Em mensagem de 2017, foi ainda mais ácido. “A Globo agora quer parecer higienizadora da política. Quem não sabe que é uma das matrizes dessa política matreira, corrupta e rasteira?”
Dória também se manifestou contra suposta má vontade dos colegas de jornalismo com o início do terceiro mandato de Lula.
“A mídia parece saudosa e malocosa do tempo em que o Genocida lhe reservava a chapelaria do Planalto nas coletivas e das humilhações que passava no chiqueirinho em frente ao Alvorada, repetindo o estereótipo da mulher de malandro: quanto mais apanha a ele tem amizade”, tuitou.
No início da carreira, Palmério se posicionou contra a censura à imprensa imposta pela ditadura militar. Coincidentemente, morreu no dia do aniversário do golpe de 64. Desta vez, não houve comemoração no Planalto.