Morte de Pelé ressalta que existem poucas celebridades de verdade no mundo
O título vulgarizado para definir a maioria dos famosos deveria ser restrito a quem é inigualável no que faz
“Eu sou uma celebridade.”
A frase costuma ser dita por qualquer um que consegue os tais 15 minutos de fama profetizados pelo multiartista Andy Warhol.
A internet ajudou a banalizar o termo. Hoje, um usuário com alguns milhares de seguidores já se sente famoso, uma estrela, um ser especial.
Pior: a maioria das pessoas acredita. Passa a enxergar uma personalidade ilustre em alguém que apenas se destaca em um microcosmo — e se submete a ser claque, aplaudindo à toa.
Há uma explicação para esse engano coletivo. “O meio mais eficaz para obter fama é fazer o mundo acreditar que já se é famoso”, escreveu o poeta italiano Giacomo Leopardi.
A repercussão planetária da morte de Pelé salienta a existência de poucas celebridades de verdade. Raramente se viu tamanha cobertura da imprensa e igual comoção de famosos das mais diversas áreas e cidadãos anônimos.
O maior jogador do Brasil de todos os tempos foi homenageado no exterior por artistas, esportistas, presidentes, primeiros-ministros, membros da nobreza... A elite da elite se curvou ao Rei do Futebol.
Como atleta, agora eternizado, Pelé se fez uma rara unanimidade. Todos só o elogiam. Ele encanta desde os mais velhos que o viram jogar até as novas gerações que costumam desprezar ídolos do passado.
Isso sim é uma celebridade. Alguém com talento raro, feitos admiráveis, presença magnética, dono de capítulo próprio na história.
Em uma época em que tanta gente está desesperada por fama, e muitos a conseguem por banalidades, Pelé será sempre uma referência e uma escala a quem ousa se considerar célebre.
Na vida privada, ele colecionou algumas polêmicas, como a cruel rejeição à filha Sandra Regina. Tal falha mostra que, apesar de divino em campo, ele era humano, demasiado humano.