O Brasil precisa de ídolos autênticos, lúcidos e carismáticos como Richarlison
Novo xodó da torcida, da imprensa e das redes sociais resgata o prazer de aplaudir um grande jogador
"I speak english, my friend."
A frase de Richarlison em coletiva de imprensa virou meme. Foi dita de maneira divertida a um repórter estrangeiro que disse não falar português.
Como resistir ao humor brejeiro do jogador? Tem a autenticidade de um homem simples.
Uma das virtudes do atacante é não fingir sofisticação só porque ficou famoso e milionário.
Ele foge do erro tão comum entre jogadores de futebol que criam uma máscara de antipatia.
Richarlison continua com os pés no chão, a alegria de um moleque de várzea, o olhar empático sobre quem está à sua volta.
Não sente a necessidade egoica de se exibir, ostentar e humilhar para se firmar especial. Ele sabe que é — e pronto.
Sagaz, o atleta tem noção do próprio valor e demonstra não querer aplausos o tempo todo para reafirmá-lo.
Somente pessoas emocionalmente estáveis e conectadas com sua essência conseguem tal desprendimento.
Richarlisson saiu da pequena Nova Venécia para ganhar o mundo, mas leva consigo aquele garoto que vendia doces e sorvetes de porta em porta para ajudar a tia que o criou.
Faz parte de uma elite, porém, continua gente como a gente, ao contrário de tantos colegas de esporte que renegam a origem, perdem a própria identidade e se tornam figuras intragáveis.
De certa maneira, o ídolo que ganha o equivalente a R$ 40 milhões por ano apenas em salários continua a ser o mesmo Charlinho dos tempos de pobreza e grandes sonhos.
Faz questão de ajudar quem está próximo e também estranhos. Por exemplo, mantém uma chácara que serve de hospedaria a famílias de pacientes de câncer em Barretos (SP).
Defensor da ciência, usou sua imagem pública para arrecadar fundos ao USP Vida, projeto que produziu testes, vacinas e respiradores ao longo da pandemia de covid-19.
É politizado e faz relevante discurso social. Nas redes sociais e em entrevistas, Richarlison se posiciona em prol do meio ambiente e no combate ao racismo.
Incentiva seus admiradores a praticar o exercício da solidariedade. Na época das trágicas enchentes em Petrópolis (RJ), pediu doações aos milhares de desabrigados e feridos.
Além dessas qualidades, ele está sempre bem-humorado, gosta de flertar com anônimas e famosas, sabe rir de si mesmo. Como não gostar de um cara tão genuíno e simpático?
O Brasil das webcelebridades com ataques de estrelismo, dos atores de TV que maltratam os jornalistas e ignoram os fãs, dos ex-participantes de reality shows presunçosos, precisa de muitos Richarlisons, um jogador que parece entrar em campo mais por amor do que por dinheiro.
Nós, os brasileiros comuns, merecemos ser representados mundo afora por quem valoriza nosso povo, nossa cultura e nossa paixão pela bola. Por ídolos conectados com nossa rica história.
No jogo de estreia na Copa do Catar, o Camisa 9 da Seleção conseguiu unir um País rachado. Pessoas em guerra ideológica tiveram a mesma reação ao vê-lo brilhar em campo: gritar e sorrir.
Por alguns instantes, todos voltamos a ser felizes juntos. Fazia tempo, hein... Voa, Pombo! E leve o Brasil contigo.
Richarlison fez a trend do TikTok, reproduzida no Instagram, sobre o 'crime' que comete