"Pessoas me atendiam nuas", lembra ex-motoboy queridinho das grifes
Hoje modelo de marcas como Versace e Armani, Emanuel Ramos precisou trabalhar como motoboy durante a pandemia e lembra situações de assédio
Natural de Campo dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, o modelo Emanuel Ramos, de 21 anos, sonhava em ser piloto de motocross. A vida nas passarelas nunca havia passado pela sua cabeça, até que o convite de uma prima, que precisava de fotos para divulgar sua loja, acabou levando-o para a profissão que ele aprendeu a amar.
Hoje em Londres, Emanuel se tornou um dos queridinhos de grandes marcas de moda, como Jacquemus, Giorgio Armani, Versace e Calvin Klein. Ele, inclusive, desfilou na semana de Moda de Milão pela Dolce & Gabbana.
Em entrevista ao Terra, ele conta que a experiência foi uma injeção de ânimo após o período difícil que viveu durante a adolescência e, mais recentemente, na pandemia.
"Me fez lembrar que todo o esforço e toda a minha persistência estão valendo a pena", acrescenta.
Entre o sonho e a necessidade
A carreira de Emanuel Ramos começou com o sucesso das fotos que fez para sua prima. Ainda aos 15 anos, ele foi convidado a fazer parte de uma seletiva de modelos na capital carioca. Aprovado na Agência 40 Graus, aos 16 ele foi emancipado para poder viajar e realizar pequenos trabalhos, em busca de voos maiores. No ano seguitne, mudou-se para São Paulo.
Modelo profissional em época escolar, o bullying foi algo presente na vida de Emanuel. Segundo ele, sua sexualidade era frequentemente contestada.
"Falavam que era coisa de gay. Sinto que resisti a entrar no ramo por isso, mas a verdade é que a moda salvou minha vida", relembra.
Mas com a chegada da pandemia, em 2020, mais um desafio. Assim como vários setores, a moda também parou. Sem trabalhos, Emanuel precisou voltar à sua cidade natal e fez o que pôde para manter sua independência. Segundo conta, trabalhou online em diferentes lugares, mas não se identificou com nenhum serviço.
Ele precisou deixar de lado o sonho de praticar motocross e vendeu a motocicleta para adquirir uma CG 150, com a qual começou a fazer entregas.
"Queria ajudar meus pais, além disso, achei perigoso [...] Sou modelo, trabalho com o corpo, não posso ficar me acidentando", explica.
"Pessoas me atendiam nuas"
Apesar do amor pelo motociclismo, a rotina de motoboy, não era fácil. Emanuel não esquece os episódios de assédio e humilhação que já passou.
"Me assediavam muito. Às vezes, eu ia entregar a comida e as pessoas vinham me atender sem roupa. Eu dava risada, mas nunca me deixei levar, pois estava no meu horário de trabalho. Já passei por situações de pessoas que me humilharam", lembra. "Os motoboys deveriam ser mais valorizados, eles facilitam a vida das pessoas no cotidiano".
As entregas foram ofício de Emanuel por quase dois anos. Com a flexibilização da pandemia e um "pé de meia" bem feito, ele voltou a São Paulo para retomar a carreira de modelo.
Com a ascensão meteórica que experimentou no retorno às passarelas, Emanuel Ramos dispensa limites. Ele diz que a mala é sua casa e novas mudanças estão por vir com novos trabalhos.
*Com edição de Estela Marques.