Preta Gil: Não dá para conter evolução de questões femininas
Em entrevista, cantora falou sobre o papel da mulher no carnaval, marchinhas e a preparação para a folia de 2020
O carnaval de Preta Gil já está a todo vapor e nas ruas. O Bloco da Preta desfilou no centro do Rio de Janeiro no domingo, 16, e trouxe uma novidade: uma nova versão da marchinha Ô Abre Alas, de Chiquinha Gonzaga. A releitura Mulheres que Abrem Alas foi composta por Preta com a compositora Blue, numa iniciativa da marca de maquiagem Quem Disse, Berenice.
Em entrevista, a cantora falou sobre essa parceria, a preparação para a folia deste ano, o papel da mulher no carnaval e marchinhas.
Como está o carnaval de 2020? Como tem sido a rotina de preparação para o seu bloco?
Nossa maratona de carnaval foi aberta no domingo quando desfilamos no Rio. Tudo fica mais intenso nessa época do ano, conseguiremos pelo segundo ano consecutivo colocar o nosso Bloco da Preta nas ruas do Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Me envolvo com todos os detalhes e etapas desse processo que começa um ano antes, além de me preparar fisicamente para a jornada.
Em relação à questão feminina no carnaval, você acha que a representação da mulher nesta data tem mudado com o passar dos anos? Você acha que ainda devem ocorrer novas mudanças? Quais?
Não é possível imaginar um carnaval sem a figura da mulher, ela está em toda parte e por isso mesmo resolvi eleger o tema "mulheres que inspiram" para os desfiles do nosso bloco. Sinto que nos últimos anos há uma crescente no número de blocos femininos, nas discussões sobre assédio, sobre o "corpo livre", por exemplo. Vejo que as mulheres estão mais unidas na forma como coloca suas questões. A mulher não é mais apenas aquele símbolo sexual usado como mero objeto de desejo. A mulher assume cada vez mais sua voz, suas mensagens e seu direito de viver seu carnaval como bem entender.
Mudanças ocorrem a cada segundo, às vezes avançamos, às vezes retrocedemos em algumas questões, o fato é que ninguém pode conter uma evolução necessária das questões femininas. Há um avanço, o movimento "não é não" é um exemplo, o disque denúncia e órgãos interessados em dar suporte e ouvidos a essas questões.
Como foi o processo de escolha do tema do seu bloco neste ano?
Achei que estava na hora de levar essa questão para a massa, tenho participado de conferências, premiações, fóruns de discussão, e usar meu palco para jogar luz na mulher foi um processo natural. O Bloco da Preta sempre foi o lugar onde o respeito ao próximo e às diferenças sempre foram a tônica, há uma grande sintonia com os princípios de liberdade, expressão e justiça.
Fizemos uma homenagem a todas as mulheres, mas em especial a Chiquinha Gonzaga uma mulher à frente do seu tempo, que lutava por direitos e ideais não somente seus, mas dos negros, dos músicos e das mulheres. No Rio, cantamos uma versão "empoderada" de "Ô abre alas" com mulheres de vários blocos femininos do carnaval carioca.
Você fez uma versão da marchinha Ô abre alas, de Chiquinha Gonzaga. Você acha que outras marchinhas também merecem esse novo olhar?
Existem marchinhas antológicas, eu sempre tenho um apanhado nos repertórios do bloco. De uns tempos para cá, exclui algumas com letras que são ofensivas e não fazem mais sentido. No ano passado, Moreno Veloso meu primo fez "penta" em homenagem a mim e ao aniversário do bloco. Então, eu acredito que gravaria novas canções para fazer esse estilo atravessar ainda mais a história do carnaval e o do tempo.
Como foi o processo de regravação da marchinha?
Foi delicioso, pois eu estava cercada de um grupo diverso com mulheres de várias partes. Reunimos meninas dos tradicionais Mulheres de Chico, primeiro bloco de mulheres do Rio, e do Mulheres Rodadas. Também do Bloconcé, um bloco que canta as músicas de Beyoncé, e da banda Samba Que Elas Querem. Tanto no estúdio quanto no desfile, nos sentimos representando todas as mulheres. Unidas a fim de mostrar que com amor e respeito transformaremos o mundo a nossa volta. Quero ver todas as mulheres e quem as ama e respeita conosco nesse carnaval: dia 21 em Salvador e dia 1º de março em Sampa.
*Com a colaboração de João Pedro Malar, estagiário sob supervisão de Charlise Morais