Qual é a 'doença' de Tatá Werneck? Especialistas apontam dificuldades no trabalho
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Tatá Werneck, a queridinha da Multishow e uma das maiores humoristas do Brasil, prefere manter sua vida privada trancada a sete chaves, protegendo sua família e, principalmente, Clara Maria, sua filha com Rafa Vitti. Mas como a internet é muito curiosa, diversos fãs frequentemente pesquisam sobre sua privacidade. Ao "dar um Google" no nome da comandante do Lady Night, muitos podem se deparar com um questionamento atípico: Qual é a doença de Tatá Werneck?
Na verdade, não se trata de uma patologia severa, mas sim de um transtorno que afeta 32% dos trabalhadores brasileiros: a Síndrome de Burnout. De acordo com uma pesquisa da consultoria McKinsey, as mulheres são mais atingidas pelo transtorno do que os homens. Diversos motivos estão ligados a esse dado como: a jornada dupla (ou tripla) feminina, o esgotamento parental e abusos machistas sofridos dentro das empresas. Para entender melhor o burnout, conversamos com quatro mulheres especialistas na área trabalhista que farão você entender a síndrome tim-tim por tim-tim.
O que é Burnout?
Segundo a consultora, especialista em mindfulness e produtividade sustentável pelo Centro de Mindfulness de Oxford Thais Requito, o burnout "provoca exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional" devido ao excesso de trabalho.
O diagnóstico pode causar crises de ansiedade, insonia, depressão, sintomas físicos como taquicardia e sensação de sufocamento. "Além disso, o burnout pode impactar as funções cognitivas, como memória e concentração, dificultando ainda mais o desempenho no trabalho e contribuindo para um ciclo de frustração e baixa autoestima. Esses efeitos reforçam a importância de reconhecer os sinais precocemente e buscar estratégias para prevenir ou tratar o esgotamento", explicou ela.
Como alguém 'vicia' no trabalho?
Luciana Lancerotti, ex-CMO da Microsoft e fundadora e CEO da Gestão e Design de Impacto, uma pessoa pode "viciar" devido a pressão do dia a dia. "A gente é pressionado para entrar no mercado de trabalho, para ter dinheiro, para ter coisas materiais, e a gente é treinado: quanto mais ganhamos, mais queremos. Esse é um pensamento sobre a questão da educação financeira, que muitos de nós, ou a maioria de nós, não teve", contou.
Uma dica para evitar uma dependência no trabalho é descobrir uma segunda ocupação: "Um segundo ponto que para mim me chama muita atenção é sobre a falta de outras funções que a gente tenha. Puxa, eu tenho um outro hobby, ou eu decidi ser uma pessoa que trabalha home office porque gosto de viajar, ou decidi ser mãe, ou decidi casar, ou decidi ter um segundo tipo de trabalho, como dar aula. E eu acho que essas coisas nos ajudam a não ficar totalmente dependentes do trabalho".
Burnout tem cura?
Assim como muitos transtornos psicológicos, a "receita" para lidar melhor com a síndrome é buscando ajuda terapêutica e/ou psiquiátrica. Segundo Mayra Cardozo, mentora de mulheres e advogada, é importante que o trabalhador desenvolva novas práticas para tirar o foco das obrigações.
"O primeiro passo é reconhecer que a sociedade patriarcal e as expectativas impostas sobre as mulheres em relação ao trabalho e ao cuidado precisam ser questionadas. A terapia, especialmente a psicoterapia feminista, pode ser uma ferramenta poderosa para trabalhar os aspectos emocionais que sustentam esse vício no trabalho, além de ajudar a ressignificar as crenças limitantes que as mulheres carregam. Outro ponto essencial é a busca por práticas que promovam equilíbrio, como o mindfulness, a meditação e a atividade física, que ajudam a restaurar a conexão com o corpo e a mente. A mudança de comportamentos e a priorização do autocuidado são fundamentais para que o trabalho não se torne a única fonte de identidade da mulher", recomendou.
O Brunout afeta o relacionamento?
Em uma recente participação no Lady Night, Rafa Vitii disse que a esposa "não tem tempo" por estar constantemente trabalhando. Segundo Thais Requito, o vício no trabalho pode afetar relacionamentos.
"O esgotamento pode tornar o indivíduo emocionalmente indisponível para seus relacionamentos, especialmente o amoroso, impactando negativamente a intimidade e a comunicação. Irritabilidade, tensão emocional e os sintomas físicos do burnout frequentemente resultam em uma desconexão progressiva, fazendo com que o parceiro se sinta ignorado ou isolado. Esse distanciamento pode criar um ciclo de desgaste mútuo, onde o relacionamento se deteriora, intensificando o estresse e a sensação de fracasso. Para interromper esse ciclo, é fundamental investir em conversas honestas e empáticas, cultivar momentos de presença genuína por meio de práticas como atenção plena, e buscar apoio profissional quando necessário. Essas ações podem ajudar a restaurar a conexão e fortalecer o vínculo, mesmo diante dos desafios do burnout", explicou.
O trabalhador pode processar a empresa pelo Burnout?
Segundo Dra. Luciana Gaston, advogada especialista pela USP, é possível que o trabalhador procure medidas legais ao ser diagnosticado. "Os requisitos e pressupostos para que se reconheça a reparação civil decorrente de doença profissional são: dano, culpa lato sensu e nexo de causalidade/ concausalidade entre a patologia alegada pelo empregado e o trabalho por ele desenvolvido na empresa", começou.
Havendo esse reconhecimento, pode ser que caiba a indenização pelo período de garantia de emprego e danos morais, conforme previsão nos artigos 186 e 927 do Código Civil e Lei nº 9.213/91: "Um trabalhador com síndrome de burnout não pode ser demitido por 12 meses após retornar ao trabalho, desde que o afastamento tenha sido de pelo menos 15 dias e tenha recebido auxílio-acidentário do INSS. A demissão só é possível por justa causa, em caso de falta grave".
Na teoria, alguém não pode ser demitido pelo diagnóstico de Burnout, mas muitas vezes isso não é seguido pelas empresas: "O trabalhador demitido com Burnout deve ser reintegrado e indenizado, embora haja controvérsia sobre o assunto. A dispensa discriminatória não depende de uma doença estigmatizante no sentido de causar repulsa ou possibilidade de contágio. Nesse sentido, a discriminação advém do descarte do homem porque sua condição de saúde o torna desinteressante aos propósitos de produção máxima; o adoecimento em algum momento da vida é inexorável."
Gaston ainda recomenda que as empresas podem evitar esse tipo de problema proporcionando uma vida de trabalho mais saudável aos seus funcionários: "O ideal é que as empresas propiciem ambientes de trabalho saudáveis, sempre atentas às necessidades de seus funcionários, com acompanhamento de profissionais que atuam em saúde mental e qualidade de vida. Afinal, colaboradores dispostos e satisfeitos geram produtividade e maior rentabilidade para as empresas".