Quem ataca mulher mais velha com homem jovem talvez não saiba amar, diz psicóloga
Preconceito contra casais com maior diferença de idade, como no caso Macron e Brigitte, afeta mais cruelmente o sexo feminino
Na novela ‘Renascer’, da Globo, acontece a discussão sobre a veracidade do amor de uma jovem (Mariana, vivida por Thereza Fonseca) por um homem décadas mais velho (José Inocêncio, papel de Marcos Palmeira).
O sentimento dela é desacreditado por quem enxerga apenas interesse financeiro, enquanto o dele vira alvo de chacota relacionada ao interesse sexual de um coroa por uma lolita.
Mesmo assim, a aceitação social dessa configuração de casal costuma ser muito maior do que a união entre uma mulher mais velha e um rapaz bem mais novo.
Quando Hugh Jackson, o Wolverine, se separou de Deborra-Lee Furness, 13 anos mais velha, muita gente se apressou em dizer “eu sabia que ia acontecer”, ignorando os quase 30 anos que ficaram juntos.
A atriz e poeta Elisa Lucinda, a Marlene da novela ‘Vai na Fé’, está com 66 anos e namora um fotógrafo 32 anos mais jovem, Jonathan Estrella. Ela já ouviu vários comentários a respeito da beleza do ‘filho’. Sem se abater, responde com ironia, deixando claro a relação baseada em paixão e prazer sexual. “É pra aprender, não fazem isso com homem.”
Na França, a primeira-dama Brigitte Macron, 70 anos, é alvo da mesma desconfiança e constrangimento em relação ao marido, o presidente Emmanuel Macron, de 46, com quem se relaciona desde que eram professora e aluno do ensino médio. Até o então presidente Jair Bolsonaro debochou de sua aparência mais velha.
Essa intolerância contra mulheres maduras que se relacionam com parceiros mais novos está encharcada de etarismo e sexismo. Às vezes, misoginia também. A mestre em Psicologia e professora da Casa do Saber Tatiana Paranaguá identifica outro problema.
“As pessoas que desconfiam apenas por ser um relacionamento que por um motivo ou por outro foge a um padrão, na verdade, não estão falando de amor exatamente”, afirma.
“Talvez nem saibam direito o que é amar alguém, pois o amor possui a especificidade de não obedecer a critérios estritamente racionais. Logo, amamos aquilo que nos complementa de alguma forma, e a psique de um ser humano é misteriosa.”
Para a diretora do Centro Junguiano carioca e professora do Departamento de Psicologia da PUC-Rio, uma “das grandes belezas do amor” reside justamente nos sentimentos nascidos independentemente de padrões como origem étnica e idade.
“Claro que as pessoas que duvidam da existência de um sentimento verdadeiro entre o casal se baseiam em preconceitos etaristas. Infelizmente, recai com maior peso sobre os ombros das mulheres, principalmente quando passam da menopausa, pois não poderiam gerar filhos, ainda que pudessem ser mães de outra maneira.”
Mulheres famosas com preferência por jovens, a exemplo de Marília Gabriela, 75 anos, e Susana Vieira, 81, deram valiosa contribuição para o combate a esse preconceito, porém, um longo caminho ainda precisa ser desbravado até a completa aceitação pública.