Quem foi Leila Diniz, musa libertária que gerou processo contra Regina Duarte
Mais de cinco décadas após sua morte, a artista ainda é um exemplo às mulheres que buscam a liberdade de ser como quiserem
Nas últimas semanas, manchetes destacaram a batalha judicial entre Regina Duarte e a cineasta Janaína Diniz Guerra, filha da lendária atriz Leila Diniz.
A disputa começou após a veterana das novelas usar uma foto da musa – tirada em protesto contra a ditadura em 1968, ao lado de outras famosas – numa postagem a favor de Jair Bolsonaro, dois anos atrás.
As duas foram contemporâneas na televisão: Leila assumiu o papel de Regina na novela ‘Dez Vidas’, da extinta TV Excelsior, em 1969, quando a então ‘namoradinha do Brasil’ se transferiu para a Globo no meio das gravações. Ambas tinham status na imprensa e numerosos fãs.
Leila Diniz se imortalizou como personalidade revolucionária. Desafiava os costumes defendidos pela sociedade conservadora. Provocou protestos ao posar grávida vestindo biquíni em uma época de puritanismo em relação às gestantes.
Polemizou ao dizer numa entrevista que fazia sexo “de manhã, de tarde e de noite” e ao admitir a possibilidade de amar uma pessoa e transar com outra. “Sobre minha vida e meu modo de viver não faço o menor segredo, sou uma moça livre”, afirmou.
O politicamente correto condenaria tais declarações hoje, imagine há 55 anos. Destemida, a atriz irritava as feministas por não seguir as regras do grupo nem demonizar os homens, com quem sempre teve boa relação.
Foi várias vezes censurada por conta dos palavrões que dizia. Sua irreverência verbal e o comportamento ousado resultaram em um decreto de prisão, mas a artista conseguiu se livrar da cadeia ao assinar um termo de conduta.
Em 1965, ano de fundação da Globo, Leila estrelou a primeira novela produzida pelo canal, ‘Ilusões Perdidas’, interpretando uma vilã. Após outros trabalhos, não teve o contrato renovado. Seu jeito indomável teria sido o motivo para a dispensa do canal simpático aos militares no poder.
A artista morreu aos 27 anos, em junho de 1972, na explosão de um avião da Japan Airlines que sobrevoava a Índia. Ela voltava de viagem à Austrália, onde havia lançado o filme ‘Mãos Vazias’ em um festival. Venceu postumamente o prêmio de melhor atriz. Deixou a única filha, Janaína, com sete meses na ocasião.
Sua vida curta e intensa entrou para a história da arte e da política. “Leila Diniz libertou as mulheres presas no tronco de uma especial escravidão”, escreveu o poeta Carlos Drummond de Andrade, um de seus incontáveis admiradores.