Quem são os apoiadores de Bolsonaro mais rejeitados no meio artístico
Ir contra o esquerdismo da maioria dos colegas de profissão custa caro a alguns famosos
Não há uma pesquisa metodológica a respeito do percentual de artistas contrários a Jair Bolsonaro.
Por mera percepção, é possível supor que 9 em cada 10 profissionais das artes seja crítico ao presidente.
A minoria ao lado do candidato à reeleição paga um preço alto por se colocar à direita no espectro político.
No ônus estão o desprezo dos colegas progressistas, ataques na internet, pouco espaço na mídia, menos oportunidades de fazer publicidade e até um possível revés na carreira.
Entre os bolsonaristas famosos, alguns fazem questão de se manter no front da guerra ideológica.
Regina Duarte – Mesmo após uma passagem frustrante pelo governo e ter ficado sem o prometido cargo na Cinemateca Brasileira, a atriz continua fiel ao presidente. Faz campanha por ele em sua rede social. Tal convicção a tornou uma exilada no universo artístico. Em eventos sociais, passou a ser ignorada por colegas de TV, como se fosse uma traidora da classe. Parceiros de cena a criticaram publicamente, como Antônio Fagundes e Lima Duarte. Ela se mostra resiliente. Apesar dos convites, resistiu a se lançar na política. Por enquanto.
Antônia Fontenelle – “Tadinha dela, faz de tudo para aparecer.” A frase debochada de Fábio Porchat resume a opinião dos artistas de esquerda sobre a atriz e youtuber. Ela é uma das mais provocadoras militantes pró-Bolsonaro, além de ser inimiga declarada da Globo, onde trabalhou. Coleciona brigas e processos na Justiça. Em seu talk show na Jovem Pan News dava visibilidade a outros famosos com o mesmo pensamento conservador. Afastou-se do canal para concorrer a deputada federal pelo RJ.
Mario Frias – Ao revidar uma contestação feita pelo ex-secretário de Cultura de Bolsonaro, a advogada Rosângela Moro, mulher do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, apelou ao sarcasmo: “Ai, você era tão mais útil na ‘Malhação’”. O ex-galã da extinta novela juvenil da Globo virou uma das personalidades mais execradas do meio televisivo. Ele demoniza o canal da família Marinho, a Lei Rouanet, as celebridades que apoiam Lula e os jornalistas críticos do governo. Tentará se eleger deputado federal por SP com o slogan “Cultura, liberdade e fé”.
Humberto Martins – Um caso peculiar. É bolsonarista roxo e continua na Globo. O ator que estará na próxima novela das 21h, ‘Travessia’, mantém boas relações na emissora. O único atrito ocorreu quando fazia ‘Verão 90’, em 2019. Ele postou no grupo de WhatsApp do elenco algumas matérias positivas sobre o presidente. Houve reação de colegas antibolsonaristas, como Jesuíta Barbosa, que hoje interpreta Jove em ‘Pantanal’. Sem medo de perder o contrato, ele cutucou a empresa em que trabalha ao comentar a ascensão das plataformas de streaming no Brasil. “É maravilhoso! Estão dando uma espetada no traseiro da Globo.”
Sergio Reis – O veterano da música sertaneja raiz afirma que seu ativismo em prol de Bolsonaro fez a Globo não o chamar para ‘Pantanal’. Em agosto do ano passado, ele foi alvo de críticas após o vazamento de um áudio em que convocava uma paralisação de caminhoneiros em protesto contra o STF. Sob pressão, pediu desculpas e disse ter desenvolvido uma depressão após o episódio. Não sensibilizou os críticos do presidente. Continua ‘cancelado’ pela maioria à esquerda do mundo artístico. Já entre os sertanejos, é admirado por dar a cara a tapa ao defender Bolsonaro.
Ratinho – Ex-deputado e pai do governador do Paraná, ele sempre teve a política nas veias. Desde o início do mandato de Bolsonaro, deu espaço valioso ao presidente em seu programa no SBT, canal visto como aliado do governo. Passou a ser atacado após a revelação de que recebeu cachê para fazer ação de merchandising em defesa da reforma da Previdência Social. Outros artistas de TV também participaram da campanha. Destemido e desbocado, o apresentador já xingou a oposição e a imprensa crítica ao presidente.
Zé Neto – Tornou-se vilão nas redes sociais ao elogiar Jair Bolsonaro e digladiar contra Anitta, alvo de seu deboche por ter feito uma “tatuagem no toba”. Detonou ainda a Lei Rouanet, pilar do audiovisual brasileiro. O cantor despertou o olhar do Ministério Público sobre os altos cachês pagos a sertanejos por prefeituras de pequenas e médias cidades. Surgiu o debate a respeito de ganhos excessivos desses artistas com dinheiro que poderia ser destinado à educação e saúde da população.
Roger Moreira – O vocalista da banda Ultraje a Rigor e músico do talk show de Danilo Gentili no SBT representa a parcela dos roqueiros que prefere Bolsonaro a Lula. Poucos desse segmento musical se expõem como ele. Alguns amigos do rock agora são seus desafetos, como Lobão, que de apoiador passou a ser antibolsonarista. Enquanto o presidente é atacado no Rock in Rio, Roger reafirma seu posicionamento. “Com a consciência absolutamente tranquila de que é a única opção para essa eleição”, tuitou.