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Rebeca Andrade desabafa sobre preço da ginástica artística: 'Tenho sentido muitas dores'

Em entrevista à Revista CARAS, Rebeca Andrade compartilha desafios da vida de atleta e comenta sobre ser inspiração para jovens no esporte

22 nov 2024 - 14h14
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A ginasta Rebeca Andrade
A ginasta Rebeca Andrade
Foto: Alexandre Loureiro/COB / Contigo

Ícone do esporte brasileiro, Rebeca Andrade ostenta o título de maior atleta olímpica nacional após fazer história nos Jogos Olímpicos de Paris e conquistar diversas medalhas para o Brasil, incluindo o sonhado ouro. Em entrevista à Revista CARAS, a medalhista desabafa sobre preço da ginástica artística: "Sentido muitas dores", revela.

Apesar de reconhecer que suas conquistas são fruto de muita dedicação, a ginasta não se deslumbra. Nascida em Guarulhos, na Grande São Paulo, Rebeca Andrade foi criada pela mãe, a empregada doméstica Rosa Santos, ao lado de sete irmãos. Movida por seus sonhos, saiu de casa cedo e voou alto, mais alto do que poderia imaginar!

Hoje, com 20 anos de carreira, ela sabe que é referência para muitos jovens, mas destaca que não é uma super-heroína. Leia o papo exclusivo da campeã olímpica com a RevistaCARAS.

Como é ser a maior medalhista olímpica do Brasil?

É um orgulho enorme! Foi muito difícil de alcançar, a gente treina e batalha para conquistar nossos objetivos. Poder chegar a esse patamar é um orgulho para mim, para a minha equipe.

Você teve a Daiane dos Santos como exemplo. Hoje, como é se ver nesse lugar?

É bom poder ser referência mostrar que, independentemente do lugar que você tenha vindo, ninguém pode dizer não para os seus sonhos. O sonho é seu! Talvez seja um pouco mais difícil, mas vale a pena. A gente pode, sim, alcançar, tem que acreditar. Eu acreditei em mim, as pessoas que me amam acreditaram e essa rede de apoio foi essencial. Hoje, poder ser referência para tantas meninas e meninos pretos é maravilhoso! É mostrar que nada vai cair do céu, a gente tem que trabalhar para conquistar, mas é possível.

Você chegou a pensar em desistir após Paris. Essa Olimpíada seria sua despedida?

A ginástica é um esporte que exige muito da gente, do corpo e, por conta das lesões, eu tenho sentido muitas dores. Faz parte da vida, uma hora tem que encerrar. Eu tinha passado por um período difícil na parte pessoal e tudo foi encaminhando para que depois da Olimpíada de Paris eu fosse encerrar. Mas tive um outro cenário e eu vou continuar.

Não há conquista sem dor?

Infelizmente [risos]. Mas isso transforma a gente, mostra a nossa força, a nossa capacidade e tem dores que valem a pena, né? Por isso que ainda estou aqui. Por mais que a ginástica seja um esporte difícil, ela também me traz muitas alegrias. Sou grata por ter entrado na ginástica e tudo que eu conquistei é por conta dela.

No texto que seria sua despedida, você disse que ouviu que o sucesso subiu à cabeça e que isso te chateou. Como foi?

Tem pessoas que não conhecem a gente, não cem por cento, no íntimo e, às vezes, podem ter uma impressão errada. Isso vai acontecer muito, eu já entendi. Sou uma pessoa que se conhece muito. Graças a Deus, à minha psicóloga, à minha família e às pessoas que estão diariamente comigo e eu sei que isso não aconteceu. Mas, quando a gente escuta, chateia, né? É muito ruim você ouvir algo sobre você que não é verdade. E foi importante eu ter colocado para fora porque vi que não fui a única que escutou isso, outras pessoas compartilharam suas experiências, se identificaram e ficaram felizes por ver que eu sou humana, que me chateio, que as coisas doem e batem igualmente em todo mundo.

Tem o ônus e o bônus da fama. Já aprendeu a lidar com ela?

Acho que sim, mas por conta da equipe que tenho. Se eu tivesse que lidar com tudo sozinha, com certeza teria desistido no começo. Porque é muito difícil essa vida, mas o meu treinador entende, a minha equipe publicitária também entende e me ajuda em todas as minhas dúvidas. E a minha família sempre mantém meu pé no chão, mostrando o orgulho e o apoio que eles me dão. Isso me mantém sempre no eixo para ser quem eu sou, para não deixar nada me deslumbrar, entendendo a importância das conquistas que tenho, mas para permanecer sendo a Rebeca, porque é assim que me vejo. Sei que todo mundo fala: 'Ah, você é a maior do mundo...' e entendo a importância das minhas conquistas e o que eu represento hoje, mas o mais bonito em mim é conseguir me olhar no espelho e enxergar a Rebeca.

Você faz questão de mostrar que não é uma super-heroína...

Porque eu não sou, sou um ser humano, não sou um robô, uma máquina. Quero mostrar que tenho os meus problemas, que não sou perfeita, que tenho os meus dias ruins, mas que a vida é isso aí. Mesmo com todas essas coisas, a gente vai entendendo que é um dia de cada vez e vai trabalhando.

Você disse que está aprendendo a pensar mais em você agora e que está se conhecendo mais. A maturidade fez isso?

Acredito que sim. Sempre olhei muito para dentro para saber o que estava sentindo, principalmente com a minha psicóloga, mas sou uma pessoa muito empática também, quero sempre ajudar todo mundo e, às vezes, a gente acaba se colocando em segundo plano. E senti que este ano eu tinha que fazer diferente.

Como assim?

Não é que eu não ajudaria mais as pessoas, porque faz parte de mim, eu vou ajudar, mas é olhar para mim também. Eu quero ajudar aquela pessoa, mas também quero alcançar o meu objetivo, é colocar essas duas coisas em prática. Principalmente para a minha equipe, quanto melhor eu estiver, mais eu vou ajudar, porque vou ser uma pessoa melhor e uma atleta melhor. Então, comecei a agir dessa forma. Quando as meninas precisavam de mim, eu estava ali para dar o suporte, mas quando eu podia, chegava em casa e ia meditar, ler um livro, escutar música, fazer coisas que eram boas para mim, para voltar para o eixo. E me respeitava, porque a minha opinião também conta. O que eu quero, o que não quero, as coisas que estão boas, o que não está. Isso foi importante para essas conquistas de agora. Não é que eu nunca fiz isso antes, mas eu olhei para isso de uma maneira mais madura.

Aos 10 anos, você saiu de casa para ir treinar e, desde então, mora longe da família.

Eu imagino que deve ser muito difícil ver seu filho partir assim, mas a minha mãe sabia que era o meu sonho e ela confiava muito nos meus treinadores. Ela sabia que eles cuidariam da gente com todo amor e carinho, porque eu não fui sozinha, fui com outras ginastas. Essa confiança que minha mãe teve neles fez com que eu acreditasse ainda mais que poderia dar certo. Ao invés de ela cortar as minhas asas, ela foi a pessoa que me deu mais impulso para voar.

Ela sabia que era a sua chance de mudar de vida...

E eu também sabia, não só a minha, mas a da minha família. Graças a Deus deu tudo certo!

Você venceu barreiras, dificuldades da vida, pensamentos ruins. O que falta vencer?

Tendo a família que tenho eu já nasci vencendo. Na parte profissional, já conquistei tudo que eu gostaria de conquistar. Ainda quero uma medalha na barra paralela, em um Mundial ou Olimpíada, mas hoje faço tudo isso porque amo. Apesar de ser bem cansativa e muitas vezes eu falar: 'Meu Deus, eu não aguento mais!', eu amo essa rotina de atleta. Amo estar com as meninas e compartilhar tudo. O pessoal da ginástica acabou se tornando a minha segunda família. É isso que me faz acordar todos os dias para viver, é saber que eu tenho um objetivo. Eu quero estar com eles, quero ajudar a equipe ainda, da maneira que for, mas, claro, se eu estiver bem para me apresentar. Quem sabe, né? Los Angeles está logo aí!

Os ginastas se aposentam ainda novos. Você pensa nisso e no que fará depois?

Eu não quero me limitar, mas espero trabalhar como psicóloga, também quero ser palestrante, porque eu gosto muito de falar com as pessoas, contar a minha história e ouvir histórias também. 

LEIA NA ÍNTEGRA NA CARAS BRASIL

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